Cinco Versos pra Sacar Manchester Orchestra

Com letras íntimas gritadas em meio a suas guitarras, banda convida o ouvinte à introspecção mesmo no Rock mais pesado

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Quando Manchester Orchestra tocou no Lollapalooza Brasil em 2012, surgiu uma multidão maior do que imaginávamos que estaria ali para ver um quinteto, de certa forma, não tão conhecido em terras brasileiras. O que chamou a atenção foi a alta qualidade do som que os cinco conseguem fazer no palco (música de uma grandiosidade que explica naturalmente o “Orchestra” no nome).

Por outro lado, quando você escuta seus discos, o que mais se destaca são seus versos carregados de emoção, frutos da poesia do vocalista e guitarrista Andy Hull, que parece não ter medo de expor sua vida, traumas e medos. Percebo que a força das letras está nas palavras simples que ele escolhe para desenhar quadros muito claros que serão gritados em meio às guitarras. Do tipo que, mesmo se você não se identificar, vão te fazer pensar.

Separei alguns deles para você contemplar a profundidade dessas músicas. Vale para quem estava naquele show, para quem começa a conhecer a banda agora e até pra quem sabe essas de cór.

Cause I’m done being done with the funerals

(Porque eu cansei de estar cansado de funerais)

Este é o verso que abre o caminho para o refrão de Shake It Out, principal single do álbum Mean Everything to Nothing (2009). O que me chama a atenção nele é que, nessa repetição de palavras (um recurso explorado ao longo de toda a faixa), ele deixa clara a exaustão de ter que lidar com muitas perdas – o que se encaixa também no contexto do disco, em que ele explora a vida que teve sendo filho de um pastor de igreja (um contexto no qual funerais são tão frequentes quanto casamentos).

And we won’t become a lifeless lope that wanders round and hopes for sorrow

(E nós não seremos um caminhar sem vida que vaga por aí e espera pela mágoa) (em tradução livre)

Quando eu resenhei o útlimo álbum da banda, Cope, tentei deixar claro o quanto ele parecia “pesado” (não pelo som, mas por parecer se arrastar ao carregar uma carga difícil demais). Penso que esse verso resuma bem essa sensação, a de chegar a um ponto da vida (ou de um relacionamento) em que as coisas sejam apenas levadas pra frente. É assim que a música que batiza o disco termina.

Manchester Orchestra – Cope

I’m like a virgin losing a child

(Sou como uma virgem perdendo um filho)

Por falar em nomes dos álbuns, é esse verso de Wolves at Night que deu título ao primeiro lançamento da banda, de 2007. A interpretação do que isso quer dizer não poderia ser mais livre e vou deixar pros leitores terem seus próprios palpites. Mas vou dizer uma coisa: Essa figura contraditória e de fácil assimilação é uma constante na obra do grupo, além de uma de suas maiores qualidades.

It’s not like I was lost for a purpose, I lost purpose and purposefully froze

(Não é que eu me perdi por um propósito, eu perdi o propósito e me congelei propositalmente)

Lembra da repetição? Essa aqui aparece em Mighty, a primeira faixa após a introdução no disco Simple Math, de 2011. Tenho sempre a intenção que Manchester Orchestra canta sobre derrotas – se não em situações específicas, em um contexto geral de perda (e Cope reforça o argumento). No caso, deixar de acreditar na vida que se leva (o tema central do álbum).

Manchester Orchestra – Mighty

What if we’ve been trying to get to where we’ve always been?

(E se nós temos tentado chegar a onde sempre estivemos?)

E Simple Math continua sendo o ápice da produção do grupo. A faixa-título, com sua pegada “épica”, é construída em cima de questionamentos cíclicos que colocam em jogo com o coração na mão tanto as relatividades, quanto as verdades absolutas – “E se fosse verdade que tudo em que acreditamos ser certo era errado?”, “e se eu estivesse errado e tentasse consertar?”. É filosofia, mas no nível mais pessoal possível (o que costuma ser a melhor forma de filosofia, ao menos na música).

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MARCADORES: Conheça

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.