Fugere Urbem: Cinco Discos para Fugir da Cidade

John Frusciante é um dos que estão na trilha sonora para o itinerário de sua fuga da metrópole

Loading

Nós amamos a metrópole, certo? Certo. Mas quem não sente uma necessidade recorrente de dar uma escapadinha da loucura cosmopolita? Aproveitando esse ensejo, eu diria que desfrutar um álbum como uma experiência completa é uma das atividades mais prazerosas que tenho notícia. Quando digo “experiência completa”, neste caso, eu me refiro tanto à apreciação dos detalhes do álbum em si (conhecer o contexto em que a música foi feita, compreender suas letras e até mesmo criar sua própria interpretação para elas), quanto à associação do prazer auditivo a outras sensações, como, por exemplo, escutar alguns álbuns experimentando algumas bebidas correlacionadas livremente a eles.

Assim sendo, partindo desses dois pressupostos, vamos tentar transformar uma seleção de álbuns numa espécie de paisagem sonora que seja a trilha ideal de sua fuga da cidade. Prontos?

Enclosure – Hora do rush

Se você mora em São Paulo, sabe o que significa enfrentar a Rebouças depois das seis da tarde. Se tem algo que pode te ajudar a superar esse sentimento de clausura ao ar livre de um congestionamento é justamente Enclosure, o novo álbum solo de John Frusciante. Guiado por esse experimento contemporâneo e sensível, desça do ônibus e experimente rotas alternativas. Compre uma bicicleta. Dê um tempo no cinema. O mergulho caótico de Crowded vai mostrar que você não é o único a se sentir assim.

Numerals – Volta pra casa

Agora que escapamos de vez do transporte convencional e vamos trilhar nosso caminho de volta conforme o dia anoitece, o terceiro álbum dos suíços do Disco Doom, Numerals, vai te amparar numa volta pelo centro da cidade. Com seu Noise Rock que remete a Dinosaur Jr., mas que soa de modo único ao criar sua própria linguagem, teremos o cenário ideal, uma espécie de mistura de amor e desespero que, embora caiba perfeitamente ao público mais jovem, não existe obrigação nenhuma de ficar restrito somente a ele.

Do To The Beast – Estrada

Hora de sair de cena. Após um intervalo de 14 anos, The Afghan Whigs retorna com o ótimo álbum de inéditas Do To The Beast. Uma banda que aposta no Rock justamente numa época em que o estilo parece já muito pouco capaz de surpreender com algo interessante e renovador e consegue empolgar com sua maturidade. Um Rock à la Queens of The Stone Age temperado com a malícia do Soul é o ideal para conduzir sua road trip por estradas desérticas. Prefira um carro velho e um destino improvável.

Lost In the Dream – Interior

Chegamos à alguma cidade do interior, (com isso, quero dizer, essencialmente, uma cidade pequena, mas que pode fazer parte do campo ou do litoral). Todavia, para não sofrermos um baque muito brusco, vamos fugir da rusticidade do Folk tradiconal e vamos apostar no aspecto mais animado, ainda que puxado à sua faceta Americana (o estilo) de Lost in the Dream, novo álbum de The War on Drugs e suas baladas que remetem ao melhor de Bruce Springsteen e com maneirismos que acabam soando um pouco ao lado de Bob Dylan. O clima onírico de autodescoberta é perfeito, agora que estamos afastados do ruído da metrópole.

Range of Light – Isolamento

Hora de desaparecer de vez. Para aproveitar o isolamento completo (ou quase) em meio à natureza, a pedida da vez é o segundo álbum da carreira solo de S. Carey (também conhecido por ser o baterista de Bon Iver). O crepitar da fogueira, o farfalhar das folhas secas, a chuva que cai pesadamente e até mesmo o caminhar na areia são sons que fazem parte das delicadezas da trilha de Range of Light. Aproveite o nascer do sol e a tranquilidade desta trilha sonora antes que seja hora de voltar.

Loading

Autor:

é músico e escreve sobre arte