“Parklife”: Blur na Corrida pelo Primeiro Lugar no Britpop

Um dos discos mais importantes dos Pop Britânico completa 20 anos desde que saiu na frente na disputa

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Em 2014, o mundo não só comemora o os 20 anos do estabelecimento do famigerado estilo britânico no mainstream, o Britpop, como também as duas décadas das duas obras que foram as responsáveis por popularizá-lo pelo mundo inteiro, causando uma espécie de segunda “Invasão Britânica” (nome dado ao momento em que diversos artistas da Terra da Rainha dominaram as paradas de sucessos norte-americanas durante os anos 60 como The Who, The Beatles e The Kinns), porém agora de forma globalizada.

Parklife, do Blur, e Definitely Maybe, do Oasis, são essas obras, que acabaram por se tornar as pedras fundamentais do Britpop e, é claro, responsáveis por atrair atenção do mundo todo naquela música nova que surgia na Inglaterra. A primeira obra dos irmãos Gallagher seria lançada dali a cinco meses, mas já havia muito barulho em torno do grupo de Manchester que criava singles de sucesso desde o ano anterior. A este ponto, Damon Albarn e companhia já acumulavam dois discos e se estabeleceria com o sucessor de Modern Life Is Rubbish como um dos grandes nomes da nova música britânica – título alcançado logo de cara por Oasis.

Estava aí lançada a corrida pelo posto de número um, seja como maior representante do estilo, como líder de vendas das paradas mundiais ou simplesmente como o maior ego inglês da época. A disputa foi acirrada e os tabloides adoravam criar grande animosidade entre os dois grupos, o que impulsionava não só as vendas das próprias publicações, mas também as dos discos dos “rivais” – o que de forma indireta propulsionava o gênero como um todo. Independente de tudo isso, o que fica é a pergunta: afinal, qual disco é mais representativo do gênero?

Eu diria que o aniversariante do dia ganha esse posto por de fato representar muito do que o estilo encapsularia a partir de então – ou mesmo o que já vinha se desenvolvendo nele no começo dos anos 90. Vamos então a alguns dos motivos pelo qual o terceiro álbum do quarteto londrino se destaca nessa tal “corrida”:

O Que Representou o Pop Para os Anos 90?

Bom, podemos assumir sem nenhum problema que Definitely Maybe é um disco de Rock, enquanto Parklife é um bom exemplar do Pop. Não tentando me aprofundar em questões meramente estilísticas, mas, de certa forma, nas mercadológicas: o disco do Blur poderia facilmente transitar na prateleira do Pop ou mesmo nas de Rock, enquanto o do Oasis não caberia tão facilmente na sessão popularesca das lojas de discos – ainda mais ao se pensar que essas divisões tinham ainda mais força (e sentido) há 20 anos. De certa forma, o nosso aniversariante era visto em mais lugares e carregava na sua musicalidade algo muito mais abrangente, vasto, exploratório (ao juntar estilos Synthpop, Disco, Punk, Psicodelia e outros tantos) – algo que seria visto acontecer cada vez mais dali a frente e que traduz muito bem o fenômeno que vemos hoje, não é?

Vale apontar também que o Rock nos anos 90 ficou em segundo plano. Depois da morte do Hard Rock no começo dos anos 90 e do surgimento do Grunge como postulante a alternativa roqueira da época, nada de tão expressivo aconteceu dentro do estilo – não que isso tenha se tornado um empecilho para o Oasis, é claro (visto todo o sucesso alcançado pela banda). De qualquer forma, seria o Pop que formaria o grosso das transmissões radiofônicas durante o restante da década e não o Rock, e esse era um terreno que o Blur parecia estar mais familiarizado e mais a vontade em adentrar e explorar suas diversas possibilidades. Parklife me parece um disco “menos engessado” nesse sentido. Ponto pros londrinos.

Outras Bandas do Estilo

É claro que 1994 não foi o ano de surgimento do Britpop, que começava na verdade a despontar desde o fim dos anos 80, mas foi certamente foi o ano em que ele ganhou proporção mundial, o ano em que o estilo saiu da Terra da Rainha para espalhar-se pelo mundo todo. Para bandas que surgiriam a partir dali ou nomes que existiam um pouco antes do lançamento, o álbum foi quase que um guia do que fazer a partir dali. O tom de aventureiro Parklife seria visto em muito mais obras do gênero nos próximos anos, em obras de Suede, Pulp e Supergrass, por exemplo – e seria visto não de forma copiosa, mas como realmente uma inspiração.

Mesmo que discos como Modern Life Is Rubbish já mostrassem alguns traços do que ficaria marcado como o “novo som britânico”, foi somente neste disco que o grupo mostrou todo o alcance que o Britpop poderia ter (por mais que o Oasis apresentasse também o outro lado da moeda). Em resumo, se existisse uma “Bíblia” do Britpop, Parklife seria o Novo Testamento, enquanto Definitely Maybe uma versão mais “moderninha” do Antigo Testamento.

A Tradução da Sociedade Moderna

O disco não chega a ser conceitual, mas suas temáticas se ligam muito bem por estarem inseridas em um cotidiano global – e dessa vez não só exclusivamente inglês -, que mostrava em suas músicas diversos aspectos da vida moderna e de como é viver naquela sociedade de começo dos anos 90. Algumas de suas faixas carregam em si não somente analises socioeconômicas, mas esse senso de globalização (visto pelos experimentalismos musicais do grupo) que começava a ganhar ainda mais força naquele começo de década – com a melhora nas telecomunicações e Internet se tornando uma realidade.

O mais interessante é que muitos dos temas abordados ali continuam ainda hoje válidos e atuais, denunciando o quão contemporâneo ainda é este disco. Certamente Parkilife é um disco que fez sentido naquela época e ainda mantém seu frescor – seja expondo a vida cotidiana ou trazendo esse agregado de estilos musicais em um só álbum.

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ARTISTA: Blur
MARCADORES: Aniversário

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts