Stromae – O Maior Astro Pop da Europa

Um dos nomes mais populares na música no velho continente inevitavelmente chegará aos seus ouvidos

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O nome pode até parecer estranho, mas definitivamente você já escutou Stromae mesmo que sem querer. Provavelmente, através do saxofone hipnótico que inicia Alors on Danse e sua batida viciante, que introduz versos em francês, algo não tão usual em um mundo musical dominado pela anglofonia. No entanto, o latim é comum para nós, soa mais aprazível e – por que não – compreensível, logo a sua música é naturalmente mais acessível para maioria dos brasileiros. No entanto, se fosse por este simples motivo, o cantor belga já deveria ser mais conhecido por aqui, algo que aparentemente ficou restrito ao seu maior sucesso.

Entretanto, Stromae, uma troca de sílabas com a palavra “maestro” no chamado “verlan”, estilo de gírias popular entre os mais jovens franceses e belgas, é um verdadeiro astro europeu. Um dos poucos que consegue abranger um continente bastante fragmentado, apesar da União Europeía em formato econômico e “social”, em uma das línguas que o definiu na Idade Moderna, o francês. Seu som se afasta da origem da lingua para criar uma mistura de Hip Hop, Salsa, House, Rumba, Funk, Trap e melancolia. Com letras que abordam desde a ausência paterna, como Papaoutai (papai onde você está), ou o uso de diversas drogas, como Rail de Musique, o músico parece encontrar a voz dentro dos mais diversos gêneros de pessoas.

Seu primeiro disco, Cheese (2010), pega o melhor da EDM com batidas eletrizantes, samples de gêneros étnicos, como a Salsa e Rumba, e acabou transformando tudo isso em um verdadeiro fenônemo de vendas. Auxiliado pelos singles Alors on Danse e Te Quiero, faixas que eram escutadas em cada canto da França enquanto eu fiz um intercâmbio para lá, conseguiam ser apreciadas por estudantes das mais variadas origens. Consequentemente, seu nome explodiu, dando amplitude para que o cantor se tornasse um astro Pop mesmo sem possuir a pinta norte-americana para tal título – seu estilo esguio com cardigãs e fones de ouvido grandes poderia facilmente o confundir com qualquer jovem francês nos metrôs de Paris. A verdade é que seu som é viciante, acessível e popular no melhor sentido da palavra, feito para todos o ouvirem, mas como consequência de suas influências, não por direção produtiva.

Atualmente, está na turnê do seu segundo disco racine carrée (“raiz quadrada”, em minúsculo mesmo) e, sim, Stromae quer dominar o mundo. Shows em grandes festivais como Primavera Sound, PinkPop e Nuits de Fourvière, o deixam sempre entre os primeiros nomes dos chamados headliners e um amor declarado ao Brasil pode trazê-lo em breve para cá, quem sabe para um concerto surpresa na Copa do Mundo? Provavelmente não, mas suas batidas, sua sensibilidade para sintetizadores e sua voz melancólica parecem ser a combinação fatal para o sucesso em terras brasileiras. Alías, sua segunda obra trouxe-o para um patamar ainda mais elevado pelo clipe Formidable.

Canção de um amor desfeito de forma dolorosa, o vídeo foi gravado no centro de uma cidade belga enquanto Stromae, visualmente afetado por uma noite intensa, se joga no meio fio e é acudido por policiais. “Aproveitou muito a noite ontem?” diz um deles e o músico responde com a cabeça baixa que sim. Toda essa gravação, feita com câmeras escondidas, repecurtiu em todas as mídias sociais e impressas do velho continente. Antes que a polêmica virasse julgamento, o vídeo do single foi lançado e em pouco mais de quatro dias seria visto por quatro milhões de pessoas. O trabalho continuou sendo um sucesso impressionante na França e Bélgica e ampliando as suas inspirações, mas sempre se concentrando em sua voz e batidas. Vídeos divertidos sobre o seu processo criativo em faixas como Carmem, Trap militar cativante, e Moules Frites, balada inocente, o ajudaram a incorporar o seu lado popstar.

De qualquer forma, o cantor foi considerado por jornais norte americanos como The New York Times como um dos poucos artistas que conseguem fugir do espírito velho do continente europeu – uma clara alfinetada nos rivais econômicos. Mesmo assim, ele se transforma em um símbolo da língua francesa, aquela que já foi uma das formas mais apreciadas e faladas por aí, mas que perdeu seu espaço aos poucos com globalização e consequente adoção do inglês como forma universal de comunição.

Toda essa mistura de acessibilidade musical, beleza de versos, abertura para diversos gêneros musicais e composições que abordam de forma plural o seu público fazem de Stromae um dos poucos maestros que fogem de seu continente e conseguem abraçar o mundo. Se a Europa sempre foi conhecida como o epicentro da música Eletrônica, ao permitir o surgimento de diversos subgêneros pelo seu mercado consumidor e a própria diferença entre seus povos, o cantor se mostra preciso ao incorporar tudo isso. Traz influências continentais e periféricas – humain à l’eau é Funk Carioca enquanto merci é um house minimalista – e acaba se tornando o símbolo da fragmentação de seu continente sem mostrar o preconceito xenofóbico que, infelizmente, afeta seu habitat cada vez mais. Logo, escute o músico sem se arrepender enquanto “nós dançamos” e te esperamos nas pista.

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ARTISTA: Stromae

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.