Entrevista: Constantina

Prestes a sair em turnê pela Europa, banda mineira conta sobre os onze anos de carreira

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Os mineiros da banda Constantina se mantém fiéis a uma visão musical desde o início de sua carreira, há quase onze anos. Nas veredas abstratas da música instrumental, a banda encontrou um caminho próprio, no qual extrapola rótulos como Post Rock, sempre procurando ter o máximo de amplidão.

Para celebrar essa longevidade, o grupo comemora em duas frentes: lança um EP, chamado Pelicano, com quatro faixas gravadas há algum tempo, em 2007/08, e se apronta para uma turnê europeia.

Num tempo em que torna-se bastante complicada a sobrevida de propostas artísticas em meio às enormes dificuldades para se fazer e construir uma obra, Constantina é exceção à esta triste regra e nós fomos bater um papo com seus integrantes, capturando esse momento tão legal na trajetória da banda.

Monkeybuzz: Contem como vai ser essa novíssima excursão européia da Constantina.
Daniel Nunes, da Constantina: Passaremos pelo festival Focus Wales em Wrexham (País de Gales), Inglaterra, França, Bélgica, Suíça e finalizamos em Portugal. Afastar da produção local nos dá novas perspectivas sobre como estamos caminhando por aqui, amplificando nossa sensibilidade e potencializando nossa capacidade de se renovar a cada instante. Pra mim, viajar provoca de forma positiva, os atritos, promovendo encontros e ressonâncias entre pessoas, ideias, sons e vida. Estamos animados com a possibilidade de viver de perto um novo contexto cultural e artístico.

Mb: Como surgiu o “Constantina na Sua Sala”, ideia de arrecadar parte da verba necessária através de shows acústicos nas casas de fãs?
Constantina: Este projeto nasceu de uma vontade em renovar o contato com a experiência do “ao vivo”. Sentimos um certo desgaste no formato “palco e público”, e foi a partir desse desgaste que encontramos a potência da proposta, estreitando, de fato, nossas relações com as pessoas que acreditam na nossa arte. Sentimos que o público do Constantina está aberto a este tipo de ação e enxergamos que há uma possibilidade bela de intercâmbio. Sinto que nossa tour pela Europa terá uma boa energia por conta da série de concertos. São estas trocas que me dizem que estamos em um caminho positivo! Buscamos com esta iniciativa pensar alternativas sustentáveis para circulação de shows, já que a produção sai bem mais barata. Sinto que podemos alcançar lugares que de forma “tradicional” não chegaríamos. Bom, nossa primeira resposta nos “disse” isso. Para circulação, estamos em formato acústico, com violões, percussões e ajuda do público, re(olhando)arranjando repertório dos 10 anos de trajetória da banda. Foi um exercício de (re)descobrimento de nossa trajetória olhando para o futuro.

Mb: O novo disco de vocês, Pelicano, tem suas quatro canções compostas há tempos pela banda (2007/08). Por que vocês estão lançando essas músicas só agora?
Constantina: Pelicano nasceu há anos… veio sem avisar, assim, desapercebido, expandindo silenciosamente o horizonte coletivo de um grupo que esteve em uma época de fermata ruidosa sobre dúvidas e escolhas. Com o passar dos anos, a idade e experiência foi atestando que ainda continuo, ou melhor, que ainda continuamos a acreditar que entre o silêncio e o ruído, nossas sonoridades alçam seus mais belos voos. E foi neste limiar que Pelicano amadureceu. Entre tropeços e passos incertos, celebrando o que nos manteve e mantém aqui. O encanto pelo brilho dos harmônicos, muitas vezes inarmônicos, o ofício em (por-com) sonoridades que independem dos instantes temporais, tornou Constantina capaz de continuar seguindo o seu caminho, acreditando, vivendo, compondo e tocando. Se fosse dizer algo mais sobre Pelicano, resumiria a: “Movimento, com uma vontade em querer continuar compartilhando sonhos”.

Mb: Quais as influências musicais de vocês?
Constantina: Nossa. Essa é uma pergunta difícil…risos! Mas tentarei responder em poucas palavras. Para o Alex (guitarrista) é Local Natives, Andre (baixista), o que absorve do cinema, para Bruno (guitarrista), uma Folk Music da boa, Brown Bird é um bom nome, para mim Daniel (baterista), os sonhos e Smashing Pumpkins e o Barulhista (percussão e eletrônicos) disse que são os abraços e Múm.

Mb: Sempre existiu música instrumental mas, de uns dez, quinze anos para cá, houve uma boa leva de bandas brasileiras e estrangeiras com propostas interessantes dentro desse terreno. A que vocês atribuem esse interesse renovado?
Constantina: Sinto que, de alguma forma, a música instrumental tem se renovado no campo das sonoridades. Entende o que quero dizer? Isto tem feito com que mais músicos e bandas arrisquem um percurso nesta escolha. Podemos, através de Hurtmold e Macaco Bong, perceber que esta via, mesmo sendo tortuosa, poderia sim ser viável. Para mim, as possibilidades de novas formações e atritos, promoveram encontros e ressonâncias entre pessoas, ideias, sons e vida.

Mb: Vocês caminham para uma carreira de onze anos. Como fazem para manter a banda viva e original?
Constantina: Não há o massacre do cotidiano sobre a aventura de fazer música num país como o nosso em pleno século 21? Com certeza! E de forma bem intensa. Mas lidamos bem com isso hoje em dia. Somos amigos que vivem para compartilhar os sonhos pelas sonoridades! Um dos grandes motivos que nos mantém unidos vai além música, e nisso os Constantinos sempre foram excelentes amigos, irmãos e parceiros! As trocas sobre a vida foram e ainda são uma das mais importantes práticas que exercitamos coletivamente.

Mb: O que mudou na banda ao longo desses quase onze anos de carreira?
Constantina: Nossa! Não saberia por onde começar a responder esta pergunta…acho que responderia diferente…acho que sei dizer apenas o que para mim não mudou…o que continua sendo o mesmo desde o início: encontrar necessariamente todos os dias as razões para permanecermos aqui acreditando neste sonho.

Mb: Como surgiu o convite para participar do Focus Wales Festival?
Constantina: Fomos convidados para uma playlist de uma produtora no País de Gales com a música Colorir. A partir disso, nosso nome começou a circular por lá… daí já viu né? (risos) Recebemos o convite e começamos a articular toda a tour para aproveitar da melhor maneira possível a viagem.

Mb: As canções de vocês, principalmente a partir do álbum Haveno (2011), tem muitas referências a paisagens ocêanicas, litorâneas. Os títulos das músicas de Pelicano (Puerto Vallarta, Pelicano, Escafandro e Salva-Vidas), compostas antes de Haveno, também vão por aí. Vocês confirmam que isso é bem forte em termos de inspiração? De onde vem isso?
Constantina: Na verdade Pelicano foi o embrião para o nascimento de Haveno. Sinto que a partir daquela época, já estávamos em busca de outras embarcações e, por isso, nada melhor do que o mar. Sentimos que navegando em alto-mar fomos atraídos por um efeito, uma potência em tornar sonora estas paisagens. Nelas, encontramos uma fluidez que sentimos em nossas vivências e brincadeiras com as sonoridades.

Mb: Um dos elementos mais fortes da banda é a beleza das capas dos álbuns. Contem como surge a inspiração para elas?
Constantina: Bruno Nunes é o “culpado” por elas (risos). O que posso dizer sobre as capas é que elas estão em constante diálogo com nosso processo criativo. Para mim, o nosso processo de composição, possui uma série de “penetras”, que penso serem elementos extra-musicais. A capa é um desses. Ela é um reflexo sobre como conversamos sobre música nas internas, sobre como escutamos os timbresm, sobre como sentimos as melodias. Existe algo muito forte nos traços do Bruno que faz querer movimentar!

Mb: O que vocês têm escutado atualmente?
Constantina: Local Natives, Brown Bird, Dosh, Death Vessel, Fanfarlo são alguns dos nomes que são gravados nas fitas k7 de todos!

Mb: Há planos de fazer apresentações no Brasil logo após a turnê?
Constantina: Ainda não temos nada agendado.

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ARTISTA: Constantina
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.