Com mais de doze anos de estrada, sete discos lançados – a maior parte deles gravados em uma garagem e o restante em um grande estúdio – e um sucesso crescente que explodiu mundialmente com seus dois últimos álbuns, não surpreende que cada fã de The Black Keys tenha uma relação diferente com a banda.
Alguns começaram a ouvi-la desde cedo, em The Big Come Up ou Thickfreakness, quando eram dois rapazes da cidade de Akron, Ohio, gravando um Blues Rock pesado, cheio de personalidade para o importante e nem tão conhecido selo Fat Possum Records, mas vivendo sempre na sombra de comparações com The White Stripes – um crime para muitos, já que consideram o som de Dan Auerbach e Patrick Carney bem mais autêntico. Outros tiveram seu primeiro contato com o ótimo Attack & Release, primeiro trabalho deles em estúdio, com produção de Danger Mouse, muitos com o icônico Brothers e a inesquecível Tighten Up, ou talvez com El Camino, que deve ser o caso de boa parte do mundo, já que é o disco mais recheado de singles e que alavancou a banda a outro patamar, viajando o mundo em grandes festivais e shows, passando inclusive aqui pelo Brasil.
Os primeiros fãs sabem bem o quanto eles mudaram seu som durante a carreira, se distanciando do Blues Rock e passando mais para um genérico Rock Alternativo, balde heterogêneo em que são jogadas a maior parte das bandas surgidas após os anos 80 e que usam guitarra em sua composição. Mesmo assim, quem conheceu os rapazes por seus últimos trabalhos não os vê como um banda de Rock qualquer e continua enxergando toda aquela personalidade que para os puristas foi completamente deixada de lado pelo duo. O que poucos sabem, no entanto, é que Dan Auerbach e Patrick Carney também sentem essa mudança e vem sofrendo com esse dilema há alguns anos.
Não foi fácil para os amigos passar quase meia década fazendo um som de muita qualidade e não ter quase nenhum reconhecimento popular, restando apenas o título de “banda alternativa”, coadjuvante em festivais pelos Estados Unidos. Segundo Auerbach em entrevista para o jornal britânico Telegraph em 2012, “Nós éramos muito inseguros para ter uma música boa o bastante para poder tocar no rádio”, ou seja, eles queriam os holofotes, mas ao mesmo tempo não queriam abrir mão de sua essência, do que sabiam que faziam bem e que tinha conquistado para eles, poucos, mas fieis fãs durante os primeiros anos de carreira.
Attack & Release foi o resultado dessa tentativa de popularizar seu som. Traz muito do ouvido atento de Danger Mouse em um disco ainda com os pés no Blues Rock, mas com texturas mais diferenciadas e uma produção que era um salto para as gravações de garagem feitas anteriormente. O disco trouxe o primeiro grande single da banda, I Got Mine, que rendeu apresentações em programas de TV, uma turnê bem mais extensa em casas de show maiores e até o ótimo DVD Live at the Crystal Ballroom, nostálgico por trazer um show com músicas épicas, mas que foram completamente apagadas das turnês atuais da banda.
Mesmo com esse sucesso, o diabinho (ou anjinho, dependendo do ponto de vista) no ombro dos dois continuava falando: “Mas esses aí não são vocês! Que eu saiba, The Black Keys é um duo, não tem uma terceira pessoa produzindo”, o que fez com que Brothers, voltasse a ser um projeto apenas da dupla, mas a pulga atrás da orelha dos dois os fez chamar Danger Mouse para produzir uma única faixa, Tighten Up, que viria a ser o carro chefe do disco e a primeira a realmente bombar nas rádios, trilhas sonoras e nas paradas do mundo todo.
Foi aí que os dois não conseguiram mais largar o sucesso. Eles tinham uma banda com um som 100% autêntico, cheio de personalidade, mas que ninguém ouve e, de repente, mudaram algumas coisas e se tornaram uma das maiores bandas de Rock do mundo. Portanto, nada mais normal do que pensar que estavam sendo muito chatos e que estavam fazendo algo de errado antes. Foi aí que veio El Camino, novamente produzido por Danger Mouse, cheio de sucessos instantâneos e que parece ter fixado a banda em um nível de sucesso que ainda não haviam sonhado em chegar perto.
Mesmo assim, o disco não é um sucesso absoluto entre os fãs antigos, já que muitos consideram que forçaram demais em algumas faixas para encaixarem nas rádios e que todas soam mais ou menos parecidas. Para fãs do álbum, pode parecer uma loucura, mas o próprio Dan Auerbach não parece ter todo aquele carinho com ele, já tendo dito que não é seu favorito. Essa sensação de que todas as faixas se parecem, pode muito bem ser fruto da ideia do produtor, que sugeriu que Dan criasse primeiro as melodias vocais e depois tentasse encaixar as letras no meio, o que foi bastante estranho para o vocalista, mas resultou em grandes hits, com refrões grudentos e riffs dançantes.
Agora já com um nome bem consolidado, é que veio talvez o maior desafio da banda. Em entrevista recente à revista Rolling Stone americana, eles admitiram terem muito medo de que esse sucesso seja passageiro e ficam sempre nesse dilema entre tentar emplacar mais hits ou fazerem simplesmente o que gostam e sabem fazer.
A resposta parece ter vindo durante a gravação da faixa Weight Of Love, que estará presente em Turn Blue, oitavo disco, previsto para as próximas semanas. Foi divulgado que a música tem sete minutos e é um épico cheio de solos violentos de guitarra, o que na mesma hora animou a dupla que disse ter pensado “nós podemos fazer o que quisermos – vai ficar tudo bem”.
A trajetória de The Black Keys se assemelha a de muitas grandes bandas na história do já citado Rock Alternativo, mas cada uma delas tem um final diferente. Turn Blue parece trazer elementos da Psicodelia, o que pode tanto representar um retorno às raízes do que a banda mais gosta, quanto uma estratégia comercial, já que o estilo anda tão popular hoje em dia. De uma forma ou de outra, todos os holofotes estarão voltados para eles nas próximas semanas e a torcida é para que continuem assim, desde que seja por um bom motivo.