Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.
Gorillaz – Gorillaz (2001)
Se você tem hoje seus vinte e poucos anos, é praticamente impossível não reconhecer o clipe de Clint Eastwood, primeiro single de Gorillaz, que passava em tudo que é lugar durante todo o ano de 2001.
Essa foi a primeira amostra de um (super) grupo que chamava a atenção na época por três motivos: a presença de Damon Albarn, ser uma banda virtual e ter um universo musical tão rico e expansivo.
Damon foi uma figura importantíssima dos anos 90 (um dos grandes expoentes do Britpop) e ainda se mantinha bem popular no começo do novo século. É verdade que tanto Blur quanto o movimento no qual a banda estava inserida não iam muito bem na época, porém o músico ainda parecia ser um queridinho dos tablóides e se mantinha como um fenômeno midiático. E, é claro, os inúmeros rumores sobre o fim, separação, hiato e brigas que rondavam seu grupo só ajudavam Albarn a não sair da mídia, mesmo que não fosse por motivos somente musicais.
Mas não é só Albarn que recebia todas as atenções do novo grupo. Jamie Hewlett, artista inglês por trás dos quadrinhos Tank Girl, foi o co-criador de Gorillaz e inventor dos personagens estranhos que davam cara à banda. Cada “músico” do quarteto tinha seu histórico e personalidade bem definida e vivia em um universo próprio muito criativo e rico. Fora os clipes, a identidade visual da banda foi explorada de diversas maneiras, trazendo esse universo 2D aos shows e apresentando um “kit multimídia” no CD (contendo jogos e uma séries de vídeos extras e papeis de parede).
Sabendo explorar esse universo como ninguém, Gorillaz tinha em suas mãos uma fórmula renovada de banda virtual (que já não era nenhuma novidade no começo dos 2000). O clipe de Clint Eastwood, por exemplo, se tornou na época tão popular por trazer uma série de referências à Cultura Pop de um jeito muito divertido e muito autêntico. Passando pelos Bang Bangs de Sergio Leone (muitos deles protagonizados pelo ator que dá nome à canção e apresentando uma melodia muito semelhante ao tema de Três Homens em Conflito), pelo clipe de Thriller, de Michael Jackson, e referenciando ainda ao filme Despertar dos Mortos, de George A. Romero, o clipe se mostrava tão expansivo quanto à própria música do grupo.
O terceiro ponto da tríade se apoia na “salada musical” apresentada neste disco. Dan “The Automator” Nakamura, nome conhecido na época por ter produzido o disco homônimo do supergrupo de Rap Deltron 3030, foi um dos responsáveis por Gorillaz se tornar o que é. Ele, juntamente a Albarn, tentou traduzir o universo criado por Hewlett em música e o resultado foi simplesmente incrível. Há muito do Rap, Dub, Hip Hop, Reggae, Música Latina, Britpop, Punk e Psicodelia se encontrado em faixas divertidas, espontâneas e cheias de vida. A identidade da banda é exatamente essa mistura sem um eixo principal, por mais que o “Pop” esteja em evidência em grande parte das músicas e torne o disco extremamente fácil aos ouvidos do público em geral.
Apesar de singles bem, digamos, Pop, o restante do álbum explora os mais variados estilos: Re-Hash e 5/4 trazem um pouco do Britop de Damon, New Genius (Brother) apresenta algo próximo de um Trip-Hop, em Man Research (Clapper) há um pouco de uma Psicodelia bem Pop, a Música Latina aparece em Latin Simone (Que Passa Contigo), Dub em Starshine e em faixas como Punk e M1 A1 há muito do Punk. Com muito do Rap aparecendo em diversas das músicas, o disco conta com a presença de dois rimadores: Kid Koala e Del Tha Funky Homosapien, que “aparece” como o fantasma no clipe de Clint Eastwood. Completando o time de convidados Miho Hatori, do duo Cibo Matto, faz as vozes e backing vocals femininos do álbum.
Seja por um destes motivos isolado ou por uma combinação deles, o disco se tornou um grande fenômeno no começo dos anos 2000. Por mais que tenha dividido muitas opiniões na época de seu lançamento, o álbum abriu precedentes para Albarn se lançar em uma série de outros projetos paralelos, Gorillaz lançar mais alguns álbuns (sendo Plastic Beach, de 2010, considerado um dos melhores daquele ano) e novamente regar a discussão da interação entre visual e música.