Future Islands – Muito Além do Hype

Na ativa desde 2006, banda chega neste ano ao auge de sua relevância e reconhecimento

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Muito se tem falado a respeito de Future Islands, uma banda que ganhou ares hypados com o lançamento de seu ótimo e diferente Singles. Mas, por que se tem comentado tanto de um grupo que vem lançandos EPs e discos desde 2006? O sucesso só veio agora? Seus trabalhos anteriores não eram relevantes? As respostas passam longe de tais constatações e o fenômeno de seu reconhecimento tardio acaba acontecendo na maioria dos casos para talentosos artistas.

Nomes como The Black Keys e Rodriguez são só alguns que podemos citar que acabaram ganhando o mundo muito tempo depois de seu primeiro disco ter sido lançado, mas a verdade é que tudo parecia muito bem preparado para a banda do emotivo vocalista Samuel Herring explodir. A começar pelo lindíssimo, melancólico e emocionante disco de 2011, On The Water. Nele, tínhamos as letras mais devastadoras e pessoais que a banda poderia conceber, muito em razão de um desfecho amoroso nada feliz para seu líder. E tal sentimento eclode em cada acorde de um dos discos mais intensos e bonitos que tive a chance de ouvir em muito tempo.

A voz rasgada e imperfeita de Samuel parecia perfeita para combinar com o tom choroso da obra, e muitas vezes conseguimos confundir as pausas como verdadeiras engolidas de lágrimas. As texturas que ouvimos na abertura de sua faixa título, um vento que sempre nos remete à passagem do tempo, se confunde com os sintetizadores catedráticos que irão acompanhar todo o disco. Como se arrastasse, Herring surge com uma voz rouca, sortida e quase gutural, algo totalmente distinto com os Synthpops que estamos acostumados. E nesta jornada de expulsão de antigos demônios, vamos acompanhando o grupo em uma obra brilhante.

Em meio a versos arrasadores como “I waited for an answer/You turned towards me, leaving” ou I’ll take the books you stole/ And leave the heart that bared–this soul/I hope you have what you need” na swingada Before the Bridge, o ouvinte poderia se dar por vencido pela identificação ou simplesmente aceitação de um homem sofrendo pelo coração. A compreensão e a demonstração de que somos todos vulneráveis a tais acontecimentos, nos aproxima dos demais, mas a demonstração de tudo isso, visível e sensível em cada acorde ou timbre de voz frágil ou uma letra pessoal é que realmente nos deixa cativados. E foi assim que Future Islands conseguiu despontar e desabrochar para um público que não valorizava tanto assim o seu trabalho ou que os colocava na mesma caracterização de outros conjuntos que abordam o Synthpop. Tente não chorar ouvindo The Great Fire ou Where I Find You e você vai entender o que estamos falando.

No entanto, isso aconteceu há três anos já, mas a banda parece ser um dos nomes de 2014 e a evolução de sua notoriedade acompanha um contrato assinado com o famoso selo 4AD (de nomes como The National, Bon Iver e Deerhunter – bandas conhecidas pela pessoalidade de seus trabalhos). Apresentações em grandes programas televisivos também auxiliaram a propulsão da banda e o primeiro show no Coachella neste ano acabou por deixá-la ainda mais em evidência. É impressionante como podemos ver no concerto a emoção de seu vocalista, a entrega para cada canção e como ele não se adequa muito ao que ele canta. Seu estilo básico com sua camiseta sem símbolos, cabelo raso, bastante “tiozão”, o coloca como uma figura adversa no mundo atual da música. Seu trabalho parece ser cada vez mais difundido por realmente emocionar, e todos nós sabemos como isso é importante para a conexão com a arte. A honestidade e a conexão com seus fãs é notavél em suas performances.

Quando Singles surgiu mais aberto, ensolarada e Pop – vemos isso em sua primeira faixa, Seasons, na qual Samuel diz que os tempos mudaram e que ele cansou de esperar o seu amor -, alguns torceram o nariz como se a mudança de direção fosse intencional para alcançar o grande público. Talvez até seja, principalmente pela escolha de alguns timbres de seu sintetizador ou por ser mais dançante. Mas um olhar mais atento revela um grupo mais feliz, contente e menos melancólico, algo que se reflete muito bem em seu novo disco. No meio de tantos trabalhos pré-concebidos, produzidos para o sucesso, Future Islands surge como um sopro de emoção muito bem-vindo para quem acha que a música atual possa estar repleta de artistas artificiais. É importante ver que alguns que estavam trabalhando há tanto tempo conseguem usufruir dos frutos de seu esforço por serem tão claros em relação ao que estavam sentindo. Saber transformar isso em música que emocione e passe mais do que o seu simples significado é uma tarefa complicada mas podemos perceber que não temos este problema com esta banda que foge do hype e se destaca pelas suas próprias forças.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.