Entrevista: Ludov

Vanessa Krongold, vocalista do grupo paulistano, fala sobre o novo álbum, “Miragem”

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No começo, o nome da banda era Maybees. As inspirações vinham do cotidiano, da vida, dos amores, das tardes de sol que permeiam a nossa visão quando vemos com mais clareza as facetas alegres do mundo. Com o passar do tempo, veio outro nome, Ludov , e algumas nuvens ocuparam espaços no céu. Juntos há doze anos, Vanessa Krongold, Mauro Motoki, Paulo Chapolin e Habacuque Lima já têm uma identidade consolidada enquanto banda. O público – que aumenta regularmente – já sabe o que esperar deles e não se importa se há demora nos novos lançamentos. A banda lança Miragem, seu novíssimo trabalho, cheio de climas e canções belas. Monkeybuzz bateu um papo com a vocalista Vanessa sobre o disco, o público, a vida independente e a música no país.

Monkeybuzz: Vocês já estão há mais de dez anos na ativa. O que mudou, além da maturidade, no Ludov ao longo desse tempo?
Vanessa Krongold: Nesses doze anos de Ludov, tivemos vários aprendizados e a maioria deles veio de desafios impostos por nós e para nós. Aprendemos principalmente a não tentar controlar o que está fora do alcance das nossas mãos e nos dedicar ao máximo ao que realmente importa: fazer música.

Mb: Qual o segredo para uma banda independente permanecer junta e produtiva por tanto tempo?
Vanessa: Acredito que a vontade de fazer acontecer e a paixão pela música sejam inerentes a muitos grupos de pessoas que se unem para montar uma banda. Mas admiração e respeito, como em qualquer relacionamento, é um processo contínuo. Eu vejo nossa relação cada vez mais sólida, equilibrada e prolífica a cada dia que passa.

Mb: Vocês produziram três EPs nos últimos anos, lançando-os digitalmente. Como eles influenciaram na produção do novo disco?
Vanessa: Basicamente, como contraponto. Após três EPs produzidos por integrantes da banda, gravados no estúdio do Mauro, compostos e arranjados em períodos muito curtos, optamos pelo oposto: partir do zero, compondo as novas canções em conjunto, em um estúdio novo, contando com a participação de um produtor externo à banda. Novos ares, novas influências, novas experiências.

Mb: Como surgiu a ideia de trabalhar com o produtor Arthur Joly?
Vanessa: O Arthur é um velho amigo nosso e sempre admiramos o trabalho que ele faz. Ao pensarmos em convidar um produtor para esse disco, ele foi o primeiro nome que surgiu, especialmente pelas novas possibilidades que poderia trazer para a sonoridade do álbum.

Mb: Como vocês classificam o som do Ludov hoje em dia?
Vanessa: Música popular brasileira.

Mb: Canções plácidas sempre foram presentes na obra de vocês, mas ainda havia algo de solar nelas. Agora, com o novo disco, elas pendem para a melancolia de forma mais profunda. Isso foi intencional?
Vanessa: Procuramos abordar temas que nunca havíamos abordado antes, mas nunca buscamos uma atmosfera melancólica. O álbum não se restringe a nenhum assunto específico, mas ele conecta a vida de todos os integrantes da banda de maneira muito intensa.

Mb: Por que vocês escolheram o título Miragem para o novo trabalho? Vanessa: Escolhemos esse nome exatamente pela profusão de imagens e significados que o disco sugere.

Mb: Contem sobre o projeto de financiamento coletivo da versão em vinil do novo trabalho. Haverá lançamento em CD e outras mídias?
Vanessa: Pegar o disco com as mãos, sentir seu cheiro, observar cada detalhe da capa… era isso que a gente queria pra esse trabalho. Mas os entraves para a produção de uma tiragem em vinil são os custos altos de produção que às vezes impedem que o sonho se concretize. O financiamento coletivo é um facilitador super bacana para os artistas e para o público. No fim, todos são beneficiados. Mas legal mesmo é a energia que permeia todo o processo. Independente de quem apoiou financeiramente, todos deram as mãos pelo objetivo final e divulgaram, torceram, comemoraram. Muita vibração positiva faz parte do Miragem. O lançamento está acontecendo em vinil ou digital para download em lojas virtuais.

Mb: O que vocês acham que é o grande diferencial do Ludov em relação às outras bandas brasileiras?
Vanessa: Uma característica importante é a diversidade. Nós quatro temos características e experiências diferentes e complementares, e com isso fica difícil comparar a sonoridade do nosso trabalho com o de alguma outra banda nacional.

Mb: O que vocês têm ouvido?
Vanessa: O Mauro tem ouvido o novo do Damon Albarn. O Chapolin tem ouvido The Killers e Ben Ezra. O Habacuque, Vampire Weekend. Eu tenho ouvido Tina Turner e Elis Regina.

Mb: Como vocês analisam a cena musical brasileira?
Vanessa: Eu vejo muita música boa sendo lançada. Mas é tanta informação para o público que fica difícil escolher o que ouvir. Ouço as pessoas falando isso diariamente. Nós artistas somos mais donos da situação do que nunca, e só cabe a nós sermos relevantes o suficiente para sermos ouvidos. É preciso inovar e se arriscar. Temos que nos desafiar o tempo todo.

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ARTISTA: Ludov
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.