Definitivamente, Basement Jaxx faz parte daquele seleto time de produtores que não fazem música só por fazer. Na surdina há cinco anos, Simon Ratcliffe e Feliz Buxton agora, mais do que nunca, tem um motivo para voltar. A cena musical nunca esteve numa bolha mais rotineira. Alguns dos maiores projetos estão voltando e trazendo consigo conceitos de como a música deveria se reiventar. Essa é a hora que o duo londrino deveria arregaçar as mangas e trazer o estouro da década de 90 de volta.
Basement Jaxx tem um currículo de se impressionar. Foram, ao todo, cinco álbuns de estúdio, quatro compilações e nada menos que treze EPs desde 1994, o surgimento do projeto há 20 anos, misturando as batidas mais cruas do R&B com a estrutura do House, as pitadas do Groove que Ratcliffe não abre mão, e o sangue Chicago de Buxton. Desde o início, já começou chutando a porta com a Atlantic Records, no mesmo ano, tudo ficou mais fácil para o lançamento do primeiro EP com o glorioso DJ Tony Humphries. O segundo não abaixou a cabeça e veio com vocal de Corrina Joseph. Foi quando o single Samba Magic estourou e o duo consagrou-se como um dos artistas mais cotados da gravadora Virgin. Os críticos já tinham descoberto a dupla e o House do momento nos Estados Unidos e Reino Unido já tinha nome. Foi quando os dois começaram a assinar remixes de gente grande, como Pet Shop Boys, Yin Yang e Roger Sanchez. O terceiro EP veio em seguida e o sucesso veio com Flylife, atingindo o ranking das 20 melhores faixas da Inglaterra.
Esses prêmios serviram somente como portfólio para acesso a um estágio maior. Somente com bons trabalhos assim que nossa dupla conseguiu dar um passo acima no degrau quando assinou com a XL Recordings e lançou seu primeiro LP, em 1999. A casa também de The Prodidy apostou firmemente no projeto, que, com um só single – Red Alert -, já fazia parte de comerciais da Nickelodeon e Coca-Cola. Como o usual, esse foi o trabalho que mais teve hits até hoje. Jump N’ Shout, Bingo Bango e Rendez-Vu etraram nas paradas do Reino Unido e alcançaram posições incríveis. Um ano depois, já vieram com Rooty, nome que traz menção à balada que foram residentes em 2001, depois de uma turnê mundial. Romeo, Just 1 Kiss, Get Me Off e, principalmente, o estrondo Where’s Your Head At completaram a lista de sucessos do registro.
Kish Kash, terceira obra de arte, veio como descanso aos músicos. Depois de exaustivos shows, o álbum serviu como uma forma de se estabilizar em casa e deixar a criatividade fluir no tradicional estúdio de Brixton. Foi quando desenvolveram uma aproximação, focaram na composição, e vieram mais fortes ainda na voz e guitarra. Era o momento de ousar, como os integrantes mesmo da banda disseram, deixar as influência do passado pra trás e trazer algo novo. E levaram isso muito a sério. Estavam ouvindo de Radiohead a Timbaland, de The Neptunes a System Of A Down. Como traduzir isso em produções? Chamaram um time muito variado para trazer essa veia de variedade que Basement Jaxx queria passar. Dizzee Rascal, a incrível Me’Shell N’Degeocello e JC – sim, do NSync – foram alguns dos colaboradores do disco.
Depois dessa salada, ainda tivemos Crazy Itch Radio, em 2006, e Scars, em 2009. O primeiro trouxe Lily Allen e Robyn para ilustrar os vocais. Dois anos depois, já estavam escrevendo para Cyndi Lauper, Bring Ya To the Brink, Rocking Chair. O segundo, e último, foi para a emissora BBC Radio 1 com vocais de Grace Jones e até houve colaboração com Metropole Orkest.
Falar de Basement Jaxx pode ser maçante, extenso. Esse currículo, como foi dito anteriormente, é de dar inveja a muito artista. E estamos falando de uma volta, de artistas que vem ciscando com novidades aos poucos para denotar uma volta. Depois de cinco anos, o par já liberou Unicorn, Never Say Never (com a participação do cantor britânico ETML), Power to the People e Mermaid of Salinas/Mermaid of Bahia (até uma breve passada pelo Brasil) e já tem um próximo LP à vista. O nome do sexto álbum é Junto, tem treze faixas e previsão de lançamento para o dia 26 de agosto deste ano pelo selo Atlantic Jaxx/PIAS.
Ficar um tempo sem produção não é o caso de esfriar o mercado e perder aquela essência icônica do projeto no gênero. Voltar depois de cinco anos trouxe a responsabilidade que Basement Jaxx tem de ditar o que vem a seguir, afinal, ter essa bagagem é um privilégio que poucos que estampam os rankings hoje tem.
Basement Jaxx tem, em seu DNA, um ímpeto de inovação com o qual poucos artistas se importavam nos anos 90 dentro deste nicho. Seja com Jazz, House, R&B, Chicago, os músicos se fazem presentes e ícones no que se propõem. E a fórmula é simples: Observam dentre diversas possibilidades o que é original e tem boas chances de se firmar como tendência e mastiga de uma forma bem comercial, com vocais bem iluminados, loops, sintetizadores animados e uma aura que só aquela década carrega consigo. E não só isso. A dupla vem com uma série de registros que são dignos de comparações com artistas fortes dos 1990, como Daft Punk, lançaram muito mais registros que eles e demonstram muito mais coragem em se adaptar a coisas novas.
É disso que Basement Jaxx é feito: de ter ambição o suficiente para dar a cara à tapa para experimentar. Trazer o novo. Ousar. E quem faz dessa miscelânea sua identidade, fica cada vez mais fácil inspirar, trazer sua alma à música e servir de referência às próximas gerações.