A Volta do Shoegaze

Estilo reaparece com força total e nós listamos alguns motivos nacionais e internacionais para acreditar em seu crescimento

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Se o Primavera Sound traz as novas tendências e o que de mais interessante está rolando na cena musical atual, podemos concluir que o Shoegaze é um dos gêneros com maior potencial de crescimento e disseminação nos próximos anos. Diversos fatores nos levam a crer na revitalização e popularização do estilo, algo que já pode ser muito bem sentido com o Rock Psicodélico, por exemplo, o qual explodiu sobretudo com o fênomeno Tame Impala e a nova sua cena enraizada na Austrália, mais especificamente em Perth. O termo “volta”, muitas vezes pode ser mal interpretado, nos levando a crer que as distorções carregadas de melodias vocais do estilo sumiram em algum momento do mapa e que nenhuma banda criou nada semelhante desde a sua decadência na metade da década de 1990, algo errado. No entanto, queremos apenas mostrar algumas constatações e hipóteses, o porquê, na verdade, de considerarmos esta uma de nossas grandes apostas.

O Retorno de Ícones

É evidente que o Shoegaze nunca morreu, mas podemos dizer que o reinado foi espalhado em pequenos atos – bandas ou discos – que se ganharam alguma notoriedade foi por soarem semelhantes aos seus precursores e grandes inspirações. Mas quem são eles? Em 2013, tivemos a volta de My Bloody Valentine, provavelmente o nome mais importante do estilo e que o criou e concebeu como nós o conhecemos na atualidade. Longe dos holofotes dos concertos de arena feitos por grandes grupos como U2 no final da década de 1980 e início dos anos 1990, os irlandeses criaram um gênero musical feito por pessoas comuns e destinadas a pessoas igualmente comuns. Os olhares baixos em direção ao solo devido ao transe de uma distorção altíssima, símbolo do Rock Alternativo do momento, mas ainda sim, doce, devido às melodias de voz, os fizeram brilhar em um curto espaço de tempo e dois discos, suficiente para criar uma legião de fãs e um movimento ao seu redor. Seu retorno no ano passado com o súbito lançamento de mbv mostra, que não só os músicos querem estar novamente em atividade, como o rei está retornando ao trono para liderar claramente uma revitalização importante do estilo. O grupo tocou também no Primavera Sound do ano passado, assim como Slowdive, outro nome importantíssimo do mesmo período e que está realizando atualmente uma turnê muito elogiada para juntar dinheiro para um novo trabalho de estúdio. Se não bastasse isso, Medicine com uma nova obra em 2013 e a volta aos palcos do Loop, demonstra que existe um espaço para ser (re)conquistado.

Novos Nomes ao Redor do Mundo

Como falamos anteriormente, o Shoegaze nunca morreu e algumas bandas novas tentaram rever o gênero. The Horrors e The Pains of Being Pure at Heart estão entre os mais importantes influenciados. O primeiro lançou em 2011 o incrível disco Skying que trazia de volta a atmosfera lisérgica do estilo e dois outros elementos: uma distorção menos agressiva (os shows dos “dinossauros” sempre foram conhecidos pelo elevado volume e problemas auditivos posteriores) e elementos atuais – sintetizadores e uma roupagem mais moderna. Do outro lado, o debut do segundo grupo, no ano de 2009, trazia um lado mais Pop e paradoxal de Noise ao mesmo tempo. O estilo ficaria conhecido pelos seus spinoffs ou dissidentes como Dream Pop e Noise Pop, mas que são frutos dos olhares fixos aos próprios tênis, o “shoegazing”. No entanto, está enganado quem pensa que o ciclo se encerrou ali: Yuck, com uma nova formação e inspiração, está com os pés e a cabeça por completo no gênero, assim como Ringo Deathstar, Weekend e Tripwires são só mais alguns exemplos do que podemos ver internacionalmente.

Shoegaze no Brasil

Nosso país também segue na retomada do estilo e alguns grupos surgiram lançando obras interessantes, demonstrando que o Brasil está no celeiro de revitalização do estilo. Single Parents com seu disco de estreia, Unrest, e uma recente turnê internacional, se apresentando inclusive no Primavera Sound, é a prova viva de estamos criando Shoegaze de qualidade aqui, exportando para os mais distintos cantos do Mundo. Se o seu primeiro trabalho também bebe bastante do Garage, Noise e Rock Alternativo, podemos dizer que o estilo é predominante em grande parte de faixas como Stop Waiting (For Me Now) e Ecstatic Pleasures. De São Paulo, também vem Terno Rei, grupo que bebe bastante do Dream Pop, primo mais leve do Shoegaze, mas sem se esquecer deste, algo que pode ser ouvido em seu primeiro trabalho, o elogiado Vígilia. Enquanto ambos são originários da capital paulistana, surgiu no Rio Grande do Sul um grupo que mostra as suas influências já pelo seu nome: Loomer, título de uma música de My Bloody Valentine, com sua elogiada estreia, muito bem produzida e de altíssima qualidade. É evidente que, se o estilo é uma variável do Rock, não poderia faltar uma banda de Goiânia que o abordasse – no caso, Luziluzia, outro projeto de Raphael Vaz e Benke Ferraz (Boogarins). Obviamente, a Psicodelia está bastante presente aqui, assim como o tropicalismo exarcebado vindo de seu “irmão mais famoso”, mas o nome de seu EP de estreía, 52 Hz, frequência bastante grave no espectro sonoro, consolida que o peso também está presente em seu som, algo que pode ser também visto em seu primeiro disco, Come On Feel The Riverbreeze em faixas como Cosmic Melodrama.

Se não bastasse o retorno dos maiores nomes do gênero e o surgimento de outros grupos, já falamos muito sobre a volta dos anos 1990 à pauta da música. Seja no Hip Hop, no Rock Alternativo ou no R&B, podemos constatar que a década imortalizada no Grunge, mas tão importante e expansiva como esta, se tornou uma das principais referências tanto para revisões sonoras como inspirações para álbuns lançados nos últimos anos. Quer mais um fenômeno que existiu de forma popular e plena neste período? Shoegaze, um campo que aos poucos vem sendo explorado novamente, mas com potencial para se tornar o novo Rock Psicodélico, seja pelo retorno do gosto do público ao Rock em geral e o que suas guitarras distorcidas e peso representaram para uma geração, seja pelo efeito viajante e lisérgico que o estilo sempre nos proporcionou, algo que parece ser cada vez mais apreciado e buscado pelo público atual de música.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.