O Que Disserem Sobre Mim É O Que Eu Não Sou: A Estreia De Arctic Monkeys

Disco do quarteto tem um significado especial para quem o ouviu na época

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Arctic Monkeys – Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006)

Se você é fã de Arctic Monkeys creio que deva ter seu disco ou fase favorita da banda. O quarteto, ao longo de quase uma década, foi mudando e adquirindo maior popularidade, até chegar ao ponto de rock star em que se encontra hoje. Se você gosta desta nova fase, saiba que nem sempre foi assim e no começo, longe de toda essa pompa, os músicos tinha um som bem diferente e que igualmente representava algo bem diferente para quem ouvia na época. Que tal voltarmos no tempo (muito antes de Suck it and See (2011) ou AM (2013)) e tentar entender o que a banda representava?

Apesar de eu estar falando de Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006), vamos retroceder mais uns dois ou três anos no tempo. Naquela época, começava a surgir um rumor nas ruas de Sheffield sobre quatro garotos franzinos que sabiam fazer um Indie Rock como poucos outros grupos da época conseguiam. Por volta de 2004, a cena do estilo em Nova York já estava mais que estabelecida, enquanto na Terra da Rainha inúmeros grupos cada vez mais jovens começavam a seguir a maré e aparecer por todos os cantos. Todos, ou pelo menos grande parte do que cruzou o Atlântico e veio parar em nossos ouvidos, tinha um som divertido, vigoroso, dançante e com temáticas adolescentes. Ingredientes que criaram músicas que não demoraram em nada a conquistar seu jovem público.

Não que isso fosse uma receita seguida a risca por todas a bandas, mas não há como não notar grande similaridade entre aqueles grupos. Felizmente, o quarteto parecia conseguir levar tudo isso um passo adiante e não é à toa que desde seu surgimento agarrou a atenção de muita gente e se transformou em um verdadeiro fenômeno, que perdura até hoje – apesar de já não ter mais quase nada daquela sonoridade hoje em dia.

Com idade entre 16 e 18 anos, os meninos começaram a lançar suas primeiras faixas bem cedo e já tinha material o suficiente para um álbum em 2004. Ele surgiu na verdade como uma reunião de demos, lados-B e faixas retiradas de bootlegs que renderam Beneath the Boardwalk (datado de 2004, mas que nunca teve um lançamento oficial). Parte do que estava nesse “álbum” até foi para em seu disco de estreia em novas gravações. Se o que mais tarde foi para o disco já chamava a atenção, o que impressionava também é a qualidade das demais faixas que não conseguiram chegar até lá. O quarteto, apesar da pouca idade, era muito fluente em diversas vertentes do Rock e conseguia traduzir todas elas em suas faixas com uma qualidade que não se observava em outros tantos grupos da época.

É claro que o som, depois de tanto sucesso, se tornou “caricato” e batido. Afinal, depois do estrondoso sucesso do grupo com seu primeiro disco em 2006, surgiram inúmeras outras bandas em seu rastro e “copiaram” (ou pelos menos tentaram) o que de melhor o quarteto tinha a oferecer. Se lembra daquela questão de Arctic Mokeys ser o responsável pelo Indie ruim dos anos 2000, levantada pelo baixista do grupo Bombay Bicycle Club? Seu principal argumento seria esse, que a banda estourou e quando isso aconteceu pipocaram outras inúmeras bandas nesse mesmo caminho – esses fazendo música ruim. Em parte, uma grande besteira dita por Ed Nash, em minha opinião, mas é inegável o quão influente a banda foi naquela metade de década.

Para os ouvintes que acompanham a banda desde aquela época, provavelmente o som que representa a sonoridade do quarteto é a que foi vista em Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not. Ali, a energia do grupo parecia estar ebulindo e aquilo tudo era realmente contagiante – não à toa o disco ganhou o posto de álbum de estreia mais vendido na primeira semana no Reino Unido, além de notas altas por quase todos os veículos pelo qual foi resenhado e algumas aparições em listas de melhores álbuns do ano. Todo o frisson causado pela banda foi o que chamou a atenção de muita gente para aquele tipo de música, ainda mais uma “Indie” submergindo no meio Mainstream com tamanha qualidade, sem contar a rapidez com que tudo aconteceu.

Não seria nenhum absurdo dizer que muita gente se apaixonou pelo Indie Rock e foi vasculhar o que mais o estilo tinha a oferecer só por causa deste álbum. De certa forma, ele pode ter sido uma porta de entrada para um úniverso completamente novo e por isso tanta gente pode o considerar, talvez, o melhor álbum da banda, não pelo que sai das caixas de som, mas pelo que ele representa para si.

Mas convenhamos, o que sai pelas caixas é também muito bom. Singles como I Bet You Look Good on the Dancefloor, Fake Tales of San Francisco e When the Sun Goes Down (para não me estender demais na lista) são hits inesquecíveis e, tenha você começado a ouvir agora a banda ou já a acompanhe há muito tempo, essas são aquelas faixas “impossíveis de não gostar”.

O mais divertido de tudo isso é que esse caso se aplica também se você conheceu a banda a partir de Humbug ou AM, sua ligação vai estar mais na representiividade do álbum, em algo mais pessoal, do que na música em si. Vale dizer que esse pode ser também o motivo pelo qual você pode não gostar nada de um ou mais dos cinco álbuns de Arctic Monkeys. Tudo vai depender de quando e do quão marcante o álbum foi para você.

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MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts