Há Harmonia no Ruído

Conheça alguns artistas contemporâneos que não tem medo de experimentar

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Alguns artistas optam por trilhar seus caminhos musicais por vias inversas. Imagine uma geração pós-John Cage que aprendeu a valorizar a musicalidade do silêncio, do ruído e, acima de tudo a experimentar e investigar os usos não convencionais da maneira produzir som. Uma geração que tem acesso fácil à informação, e, o mais importante, às tecnologias que tornam a experimentação um método prático e natural. Uma geração que aprendeu com o espírito “faça você mesmo” do Punk e encontrou na revolta barulhenta de suas próximas gerações uma fonte em que o poder expressivo da música reside além das harmonias cativantes e das letras acessíveis. Pensando neste universo, neste artigo estão reunidos alguns nomes contemporâneos que atuam como artistas musicais: abrem suas canções e expõem seus fragmentos, reduzem a sonoridade ao mínimo necessário ou saturam a quantidade de informações,, destroem sua estrutura e subvertem a funcionalidade de sua música em nome de uma expressão única. Vamos a eles:

Death Grips

Death Grips sempre se destacou pela agressividade de seu som. Com comparações frequentes de sua performance com o Hardcore, as letras gritadas do Rap de MC Ride são embasadas por ruídos eletrônicos fragmentados, e desafiam o tempo todo o conforto do ouvinte. O fim repentino do grupo de Sacramento nos pegou de surpresa. Escolhendo por encerrar as atividades no ápice da carreira até então, o grupo acabou de lançar o ótimo Niggas On The Moon e ainda promete um album póstumo para este semestre.

Cities Aviv

Embora muito menos agressivo do que Death Grips, Gavin Mays, que se apresenta sob o codinome de Cities Aviv também não faz uma música das mais facilmente digestíveis, graças a sua subversão artística. Apostando pesado no universo digital de sua música, seu álbum mais recente Come To Life apresenta um Rap misturado à ruídos de conexão dial-up, desorganização visual e uma atmosfera que parece saída do submundo do Tumblr.

clipping.

Embora bastante comparado aos nossos exemplos anteriores graças aos sons experimentais e à violência sonora, clipping. ameniza o Noise e o Pós Punk de sua obra, embora mantenha sempre sua faceta alternativa. Em seu recente trabalho, CLPPNG apresenta tanto uma atmosfera pertubardora (com suas faixas Intro, Body & Blood e Get Up) tanto quanto uma sensibilidade Pop sofisticada (como em Work Work, abaixo).

Ben Frost

Saindo do jorro verbal do Rap dos nossos exemplos anteriores e apostando cada vez mais exclusivamente nos climas puramente instrumentais da música contemporânea, Ben Frost chamou nossa atenção justamente graças às possibilidades que experimenta com a linguagem de sua música. Em seu trabalho mais recente, A U R O R A, em grande parte construído por ruídos e sons vindos de diversas fontes e referências – do white noise das TVs antigas até às turbinas de avião – Ben Frost consegue manipular sua matéria prima e criar climas grandiosos e apoteóticos.

Tim Hecker

O produtor canadense Tim Hecker é dono de uma vasta carreira, mas o esmero com que trata o próprio trabalho não deixa de impressionar. Seu último trabalho Virgins é um dos pontos altos de sua carreira. Variando entre a Drone Music e o Glitch, graças à suas estruturas descontruídas já se falou em “destruição da música” em seu trabalho. Mas é graças à sua reorganização poética que suas faixas soam como belas camas harmônicas, blocos de ruídos e espaços vazios que se encontram num estilo próprio, numa edificação arquitetônica e plástica da própria música.

Dave Harrington

Conforme assistimos à gradativa descontrução da música experimental em nosso artigo, chegamos ao final dele com o exemplo mais atmosférico de todos, embora aposte nos climas sombrios proporcionado pela manipulação de ruídos tanto quanto os outros. Dave Harrington, também conhecido por atuar como metade do duo Darkside, nos deu a primeira amostra de seu trabalho solo há alguns meses, com um álbum de duas faixas (que somam vinte minutos) intitulado Before This There Was One Heart But A Thousand Thoughts.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte