Porter Robinson: Novo Revolucionário

Recém-lançado álbum do produtor norte americano carrega consigo uma proposta ousada

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Era impossível deixar de notar as estrondozas porradas de Porter Robinson naquele primeiro dia de Lollapalooza Brasil, em 2013. Pra nós, ainda era tudo muito novidade. Aquele menino que tinha estourado com Say My Name, em 2012, tinha um EP nas costas, mas toda uma expectativa em cima do que conseguiria fazer. E não só ele. Junto a seu nome, vinha também o novato Madeon, mas Robinson, sem sombra de dúvidas, roubou a cena. Era uma surra após surra, drop após drop, e quem não tinha costume com EDM não tinha fôlego para aguentar os 90 minutos de apresentação do DJ. A impressão que eu tinha ali no Palco Perry é que o produtor não tinha medo algum de ousar.

E aquilo ficou na minha cabeça. Talvez tenha sido exatamente esse verbo que o fez chegar onde chegou. Que tenha chamado atenção do produtor Skrillex para apadrinhá-lo e botar no cardápio de artistas de seu selo, OWSLA. Desde então os novos nomes vieram lançando suas estreias, sendo sucesso de crítica, ganhando rumos próprios, espaços definidos, e Robinson investiu tempo em embarcar em uma jornada em si mesmo e definir pra que caminho iria. O resultado disso veio agora em agosto, com Worlds, seu álbum de estreia, talvez a peça que mais destoou ao ponto de criar uma identidade peculiar inserido em um contexto que poucos imaginavam.

Antes de entender esse contexto é necessário entrar em uma discussão que vem sendo travada há algum tempo. O EDM, por si só, já tem pano pra manga o suficiente para críticos e defensores travarem uma disputa do que é ou deixa de ser música Eletrônica. Alguns dos nossos grandes nomes já declararam guerra à forma que a cena consome a música hoje em dia, como Daft Punk, e o resgate dos elementos orgânicos com Random Access Memories, Feed Me e Deadmau5, entre outros. Diplo, inclusive, participou de uma mesa redonda esse mês na University of Pacific in Stockton, na California, representando a Mad Decent, pra falar um pouco sobre a indústria da música e seus projetos. O produtor pontuou um dos pilares mais fortes da discussão, dizendo que o EDM passa por uma fase repetitiva em que a maioria dos produtores não se esforça pra trazer elementos que os diferenciem dos outros. E isso resume basicamente o cenário dos maiores festivais de eletrônica em todo o mundo: ouvir a nova faixa do Hardwell, como ouvir o hit que Afrojack fez, ou o novo sucesso de Steve Aoki não faz a menor diferença.

É exatamente aí que Worlds entra. O álbum de estreia do produtor norte-americano mal foi lançado e já alcançou quarto lugar na Beatport, críticos ficaram divididos assim como a cena. Pairou sob o trabalho do produtor a discussão entre a ousadia e a originalidade, até que ponto uma sobressai a outra? O que muitos enxergariam como retroagir, para outros servem como um avanço enorme na carreira do produtor. Enquanto no EDM, Porter Robinson é só mais um no palheiro da OWSLA e dos maiores festivais do mundo, embarcando pelo Synth Pop ele se diferencia e traz para si holofotes e olhos que antes estavam desatentos. Ele iniciou sua carreira no EDM, chegou onde chegou por conta da cultura EDM, possui todos seus fãs sob esse gênero. Ao lançar Worlds, ele praticamente obriga toda uma cena que estaria fechada a escutar Dream Pop a se abrir ao gênero e perceber que é possível mesclar uma linha bass pesada com vocais e sintetizadores macios. Essa atitude ajudaria a criar senso crítico em um público que está completamente acostumado e acomodado a escutar e reproduzir mais do mesmo.

Aqueles que se decepcionaram com a obra pecam ao focar na “falta de originalidade”. Bem, Porter Robinson veio com uma oportunidade aos ouvintes de EDM de abrir as portas para um novo estilo, mas será que executou a obra com maestria? Digo, sua ideia em vir pra outro gênero foi bem executada, foi um ato inédito? Não foi. Impossível ouvir Worlds e não resgatar influências concretas de M83 e Passion Pit, uma delicadeza de Sigur Rós. De fato, somente o ato de mudar de linguagem não traz pra si o selo de genial, mesmo porque isso é feito o tempo todo em escalas diferentes. A obra não é original e nem foi feita com esse intuito. Como bem foi dito, Robinson bebeu de muitas fontes pra poder se inspirar até fechar seu trabalho. O que muitos tem que lembrar é que Worlds não é e nem foi feito no intuito de ser um álbum de EDM.

Worlds não é revolucionário em seu conteúdo, mas sim em sua proposta. O álbum cai numa caixa de Dream Pop cheia de referências dos anos 2010, mas consegue, de qualquer forma, trazer consigo ouvidos que estavam antes focados em uma mesmice que não acaba. Conseguiu sair de uma mecanização de fazer música que o EDM se encontra, para trabalhar suas produções de um jeito mais romântico, sem nunca deixar de carregar sua identidade de marcação forte que está presente em todo álbum. O fato de ter saído da zona de conforto garante a Porter Robinson não só o título de versatibilidade, mas de ter sido aquele que deu um passo adiante do óbvio para fazer o que ninguém faz. De sair das cabines, pra fazer um espetáculo com instrumentos, com banda, de crescer para outros rumos, outros palcos, outros fãs. Porter Robinson fez o que muitos julgam ser fácil fazer e que poucos fazem. E agora colhe os frutos que um corajoso merece.

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Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King