Todo Rock é Rock Porque Assim Ele É Chamado

Fatos como o prêmio de Lorde (foto) no VMAs nos fazem questionar a validade de termos assim

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Vou começar o artigo de hoje deixando claro que ele não terá conclusão. Não é, veja bem, o tipo de texto “lenha na fogueira”, está mais para “fagulha de ideia” – apenas um estalo pra incentivar o raciocínio que você que consome muita música, provavelmente, ainda terá (se é que já não teve).

Uma vez, eu tinha uns sete anos de idade e alguma boa noção de espaço geográfico, e o carro da família passou por uma placa na Via Dutra: “Aqui passa o Trópico de Capricórnio” e eu na hora exclamei que não conseguia ver aquilho que deveria dividir a terra. Me explicaram que Capricórnio, Câncer e o Equador eram linhas “imaginárias” e eu tinha uma grande dificuldade de entender como elas eram só pensadas se tinham seu lugar no mapa. Com o tempo, entendi as questões cartográficas e aceitei que essas e outras retas eram puramente convencionais. E, sabe como é, a vida fica mais fácil quando você começa a crescer e parar de perguntar sobre o que realmente importa.

Eu sei, isso não tem nada a ver com música, mas é o que me vem à mente quando leio a notícia que Lorde ganhou no último VMAs o prêmio de Melhor Clipe de… Rock? Espera aí, isso não pode estar certo. Cantei Royals mentalmente e, não, não pode ser. Entrei na resenha de Pure Heroine e tava lá: Indie Pop/Pop Alternativo. Ufa, eu não fiquei louco: Lorde não é Rock. Ou é?

Corta a cena para hoje de manhã, quando meus camaradas da banda Boogarins compartilharam desde cedo um link do site gringo MTV Iggy que classifica a banda como “Latin Alternative”. Ok, não é uma questão muito estilística, mas é algo mais geográfico (pra se classificar quem está perto daquelas linhas imaginárias). A questão continua, entretanto: Será que alguém por aqui alguma vez pensaria em classificar essa banda assim? É, parece que as etiquetas são mesmo convencionais (concordadas entre um grupo de qualquer tamanho) e acabam sendo mesmo subjetivas.

Mais uma, essa aconteceu agorinha: Em uma conversa com o também camarada Carlos Eduardo Lima, falávamos sobre como a música que Bebel Gilberto faz hoje em dia só é Bossa Nova pra estrangeiro mesmo, porque qualquer brasileiro que conheça a música feita no país hoje em dia sabe o quanto as referências a esse estilo vão muito além. Mas, e aí, é errado chamar seu som de Bossa Nova?

Pra te ajudar no raciocínio, vamos pensar uma outra coisinha: Logos é o termo grego para “palavra” e também para “razão”, ou seja, você só consegue pensar/identificar alguma coisa que você sabe que existe (a grosso modo, que você sabe como chama). Deve ter quem, em outro país, chame Bossa Nova de algo tipo World Music, ou de música Latina mesmo, enquanto pode ter brasileiro classificando aquela mesma música de MPB, apenas. Enquanto alguém não entender que aquele som, com aquelas determinadas características, tem esse nome, ele vai se confundir com outros e será classificado com alguma ideia pré-conhecida.

Conhecendo mais e mais música toda semana, algumas delas bem desafiadoras para esses termos, será que faz muito sentido insistirmos em classificações tão genéricas, como “Rock” ou “Pop”? Ao mesmo tempo, até que ponto vale a pena discutir tantos nomes e sobrenomes em investigações muito minuciosas de algo que pode ser subjetivo?

Podemos continuar dizendo isso e aquilo, só precisamos tomar cuidado pra não falarmos mais alto que a música.

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ARTISTA: Lorde
MARCADORES: Discussão

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.