Recorte da Adolescência com Blood Orange, Gia Coppola e James Franco

“Palo Alto” é um filme sensível com uma trilha que guia nossa experiência

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Uma das coisas que mais atraem qualquer um, mas principalmente jovens, formando suas personalidades, para qualquer tipo de arte é a tal da identificação. Nenhuma atitude é mais natural nesta fase, apesar de hipocritamente recriminada por muitos, do que assistir a um filme por ser “descolado”, ou por qualquer objetivo aparentemente menos nobre.

A questão é que com o tempo, são estes mesmos filmes, séries, livros, músicas que ajudam a formar esta personalidade, seus gostos e hábitos. No caso de Palo Alto, primeiro filme da diretora Gia Coppola – sim, neta do próprio -, o tema é este de certa forma, e ao mesmo tempo, é possível que a própria obra se torne um destes trabalhos influentes se não para uma geração, pra algumas pessoas.

Baseado em um livro de contos escrito por James Franco – que também atua no longa -, a história é um recorte da vida de um grupo de adolescentes dos típicos subúrbios americanos, no caso, da cidade californiana de Palo Alto, onde cresceu Franco, tratando portanto, indiretamente, de sua juventude. O conflito – que em nenhum momento tem cara de conflito – fica entre a jovem April, interpretada de forma belíssima e sensível por Emma Roberts, e Teddy, interpretado por Jack Kilmer, fazendo um trabalho primeiro trabalho impecável.

Como o foco aqui não é cinema, o tema é a trilha sonora, toda composta e curada por Devonté Hynes, mais conhecido pelo projeto Blood Orange, numa parceria com o ator e músico Robert Schwartzman, primo de Sofia Coppola, tia de Gia. Em um misto de faixas conhecidas de Hynes, outras compostas especialmente para o filme e algumas mais Lo-Fi por parte de Schwartzman, a música tem um papel essencial no resultado final da produção.

Gia Coppola mostra claras influências de sua tia na maneira sensível de contar suas histórias, sem te dizer diretamente muitas coisas e dando espaço pro espectador tirar suas próprias conclusões. Nestas cenas mais compridas onde Teddy anda de Skate ou onde flashes de uma típica festa adolescente em casa vão aparecendo, é o R&B, que esbarra no Dream Pop, da trilha sonhadora que nos dão uma direção de como se sentir diante daquilo. São essenciais para o acompanhamento do filme e comunicam muita coisa.

É um fato que com exceção de You’re Not Good Enough, presente no último álbum de Blood Orange, Cupid Deluxe, de Champagne Coast, uma das mais conhecidas do produtor – e uma das mais emblemáticas do filme, a primeira que me chamou atenção para a trilha durante a primeira festa -, e de Palo Alto, nada faz muito sentido fora do contexto, mas a ideia é exatamente esta.

Muitas das trilhas sonoras que se tornam populares, costumam pegar ótimas faixas e distribui-las ao longo do filme, mas outras fazem um papel um pouco mais integrado à produção, compondo músicas que não sobrevivem fora dali, um trabalho ainda mais complexo.

Coppola conversa com um público jovem, mas que já saiu da adolescência e já consegue olhar com certa nostalgia para aquele período. Ela faz isso, pois compõe sua equipe com muitos olhares nesta situação, dos atores à equipe por trás das câmeras, incluindo ela mesma, em seu primeiro longa, e o próprio James Franco. Portanto, para embalar tudo isso, nada melhor do que a sensibilidade de Dev Hynes, um dos nomes mais presentes e produtivos na música atual, influenciando muito no que ouvimos nos últimos tempos.

Palo Alto não tem previsão de estreia no Brasil, mas se curte qualquer um dos nomes envolvidos, ou mesmo filmes de Sofia Coppola, ou Spike Jonze – o filme me lembrou muito o curta do diretor para The Subburbs, do Arcade Fire -, não deixe de procurá-lo.

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MARCADORES: Trilha Sonora

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.