Entrevista: Marcelo CIC

Esforço, técnica e muito carisma são os fatores que trouxeram CIC à ascensão do EDM no Brasil

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Com a notícia ainda quente que o Tomorrowland vem para o Brasil, Creamfields e UMF batendo na porta, Lollapalooza já esquentando, é inegável que todos os palcos estarão recheados de atrações brasileiras. Não só pela obrigação da portaria, mas porque com os holofotes todos virados para o nosso país, é uma incrível oportunidade para investidores, produtoras e agências promoverem seus artistas a nível internacional. Sem contar que é uma forma ímpar de divulgar o trabalho para todos nós brasileiros. Sem muita enrolação, já passou da hora de começarmos a prestigiar nossos artistas, estimular e incentivar que eles cresçam, produzam e estourem.

Marcelo CIC é um dos nomes mais fortes da recente leva de Electro House. O cara começou a carreira com 13 anos e é um dos poucos produtores a ter um numero tão alto de lançamentos por aí: são por volta de 50. Iniciou sua carreira no Techno até achar sua identidade no EDM. Hoje, depois de muita turnê pelo mundo todo, é assinado pela Spinnin Records, residente do maior club do Brasil e autor da faixa-tema do Dream Valley do ano passado. Isso tudo sem contar que é uma das mentes por trás do projeto Ask 2 Quit. Quem vê de primeira acha que vai lidar com um cara sistemático por trás de um semblante sério. Engano seu. Com um sotaque carioca carregadíssimo e um carisma inigualável, bati um papo com o DJ na semana passada horas antes dele abrir fazer seu set de abertura pro Steve Aoki, a adrenalina era grande:

Monkeybuzz: Marcelo, que papo é esse que começou a carreira com 13 anos? Que aventura foi essa desde moleque? O que te influenciava quando criança?

Marcelo CIC: Pois é, sempre tive uma relação com o nightlife, meu pai sempre administrou casas noturnas na cidade do Rio de Janeiro, e nasceu desta forma minha vontade de tocar. Tive grandes amigos Djs, na época, que me incentivaram e cá estou eu, profissionalmente a 15 anos nessa vida noturna.

Mb: Como foi aquele episódio na Rio Parade? Aquele foi seu primeiro contato com uma quantidade maior de pessoas, certo?

CIC: Sem dúvidas foi meu primeiro grande público. Tudo aconteceu muito rápido e inesperadamente, eu estava no lugar certo e na hora certa. Como dizem, tampei um buraco da melhor forma, ocasionado por um atraso de um outro artista e uma pitada de sorte também. Após ter tocado no meu horário, tive o prazer de abrir o palco no horário principal para 100 mil pessoas no centro do Rio de Janeiro, foi demais.

MB: Você foi um dos selecionados a dedo para entrar no documentário sobre a vida e carreira do grande Carl Cox. Como chegou a conhecê-lo? CIC:Conheci o Carl Cox em um evento na praia de Geribá, em Búzios, naquele momento eu já senti que ele era um artista diferenciado, eu não falava inglês e ele pediu gentilmente a um amigo que traduzisse toda a nossa conversa. A partir dali continuamos mantendo contato e foi assim que tudo começou. Passou algum tempo, passei a enviar minhas músicas para ele, ele começou a tocá-las e então adicionou sua favorita ao seu documentário. Foi uma experiência única que levarei comigo para sempre. Big Goal!

MB: E quais as consequências desse DVD pra sua carreira?

CIC:Eu tive uma exposição muito boa, ele me convidou para fazer parte da sua turnê no Brasil, fizemos várias datas juntos e até hoje nos falamos. Inclusive expliquei a ele minha mudança de foco musical e ele como sempre generoso falou: “Sempre toque o que te faz feliz cara”. Ele é um artista incrível!

MB: Como foi o caminho que separou o Marcelinho Techno do Marcelo EDM?

CIC:Não estava mais feliz tocando Techno, apesar do grande sucesso das minhas tracks em grandes selos, não era algo que me deixava contente. Na época, existia uma “panela” no mercado paulista que era difícil de aceitar e se enturmar, isso foi me desmotivando. Fiz quatro turnês na Europa tocando techno em grande festivais, isso serviu como bagagem musical, respeito muito o segmento e seus artistas.

MB: Você faz parte de um crew de DJs brasileiros que estão se destacando no cenário EDM e que tem tudo para estourar internacionalmente depois de tanto holofote pra cima do Brasil nos últimos meses. Quais as expectativas para 2015? Cair fora do Brasil ou fortalecer as raízes por aqui?

CIC: Fico feliz de fazer parte dessa movimentação toda, que conta com grandes talentos nacionais. Em 2015, muitas coisas boas vão acontecer no Brasil, solidificando ainda mais nosso mercado. Já tive convites para morar fora do país e optei por permanecer aqui por diversos motivos. Quero me fortalecer ainda mais aqui e fazer turnês fora fora do país, porém não tenho planos de me mudar para outro país agora. Existem negociações avançadas para uma turnê na europa, América e Ásia, então como diz a letra da música “deixa a vida me levar”.

MB: Não só nomes internacionais como Steve Angelo, mas nacionais e conterrâneos seus, como Felguk, já admitiram uma saturação do mercado de EDM e se aventuraram no gênero trazendo uma nova proposta. Diante de tanta crítica em cima do estilo que você abraçou, qual seu posicionamento em relação a isso? Existe alguma possibilidade de vermos um CIC trazendo a bagagem do Techno pra dentro do Electro?

CIC: Tudo que é demais enjoa e satura. Tivemos uma grande exposição da música eletrônica no mercado mundial e com isso vem coisas boas e ruins. Gosto de sempre pensar que tudo pode mudar a qualquer momento e o bom artista tem que estar preparado para mudar ou absorver a mudança da melhor forma. Vejo no momento que um novo ciclo está muito perto de se renovar, não sei quando, mas sinto isso muito próximo. Nessa virada muitos ficaram pelo caminho e outros vão seguir como normalmente acontece. Talvez exista uma possibilidade sim, eu gosto de misturar as coisas, ou quem sabe, me reinventar né?

MB: Apesar de muitos acharem que é produção de Hardwell, Guetta, Armin, quem foi o responsável pela faixa-tema do Dream Valley Festival do ano passado foi você. Como foi o convite e o processo de produção?

CIC: Eu tive 48 horas para entregar a música, minha sorte é que ela tava quase pronta, mesmo assim ela agradou a grande maioria. Eu sempre digo que eu fui desafiado e não convidado. Aceitei o desafio e entreguei o tema, fiquei feliz em ver algumas pessoas tatuando partes da letra da música e dizendo que a música fez parte de um momento importante na vida delas, isso foi surreal.

MB: Você foi assinado por ninguém menos que a Spinnin Records. Logo depois desse estouro, ficou praticamente acampado na Holanda. Como foram esses dias dentro de estúdio? Como eles influenciaram no profissional que você é hoje?

CIC: Foi bacana receber o convite da Spinnin Records. Tenho trabalhado com algumas músicas para o selo, brevemente deve sair algo por lá. O single de boas-vindas foi a música One com o duo brasileiro WAO e a cantora Miss Palmer, que saiu pela Oxygen Recordings e, até a data de hoje, é o single mais vendido da gravadora no Beatport. A experiência do Writing Camp foi demais, conheci muitos produtores por lá e estamos finalizando as colaborações que fizemos para serem lançadas. Esse ano devem sair mais 2 músicas minhas, mas o foco agora já está em 2015.

MB: Passando por gigs em todo o mundo, quais as maiores diferenças entre o público gringo e o brasileiro quando está diante de um set do CIC?

CIC: Cada público tem sua cultura e diferenças, eu amo tocar no Brasil. A energia dos povos latinos é diferente dos europeus, mas no geral, eu gosto é de tocar, então sempre estou feliz com o público presente e tento agradá-los.

MB: Vou te apertar… qual melhor gig que você já passou, Marcelo?

CIC: Pergunta difícil, foram várias! Não posso ser injusto, vamos para a próxima? (risos)

MB: Você é admirado não só por ter uma energia incrível, mas também por ter uma técnica absurda em cima do palco. Vou tirar meu viés de crítico aqui, fala pra gente um pouco: por que falam tanto dessa técnica?

CIC: Eu digo que enquanto uns davam atenção a tutoriais de produção, eu mexia no mixer e Cdj, haha brincadeira. Sinceramente me soa tão simples a forma que toco, que deixo os elogios por parte de vocês, fico feliz que minha forma de tocar chame atenção de alguns, mas é o meu natural, é o que sei fazer, é o que eu amo fazer.

MB: Seu set é único. Tive chance de ouvir e é cheio de personalidade. A maioria são edits?

CIC: Muita coisa é edit, o diferencial é que eu faço eles ao vivo na grande maioria das vezes, levo pouca coisa pronta para tocar. É assim que eu me divirto tocando, fazendo tudo ao vivo, acho que a graça de ser DJ é isto, entender, improvisar, é muito legal.

MB: Marcelo CIC: melhor sendo DJ ou produtor?

CIC: Sem dúvidas sendo DJ, é a minha raiz né? Produtor Musical veio muito tempo depois e, atualmente, é uma “imposição do mercado” você ter suas músicas, isso tem perdido um pouco o sentido ultimamente. Hoje vemos muitos produtores nas cabines de Djs, quando na verdade deveriam apenas estar em seus estúdios.

MB: Qual a melhor e a pior parte no processo de produção?

CIC: A pior é criar e a melhor é tocar, hahaha! Eu sou DJ definitivamente, mas me divirto produzindo minhas músicas, mas não esperem que eu vire uma “padaria” de músicas, músicas não são como pães hein! Eu gosto de trabalhar cada música minha como um grande produto, ele deve ter começo, meio e fim, deve ser muito mais que um sinal de áudio, cada música deve ser uma nova experiência para meus fãs, trato as músicas com muito carinho e não de forma descartável. Por isso meus planos são de lançar apenas quatro ou cinco músicas por ano no máximo.

MB: É visível pelo seu set que você tem um gosto muito grande pela pancadaria no Electro House. Hoje quais são suas maiores influências no gênero? O que eles trazem de único pro seus ouvidos?

CIC: A EDM se tornou um som pesado, eu comparo as vezes com o Hard Techno. Eu acho que o público e a reação das pessoas me influenciam demais, artistas nem tanto. Eu toco para a galera, então eu vou atrás da resposta do público.

MB: Mas e as grandes obras? O que não pode faltar no set do CIC?

CIC: Ser eu mesmo, isso não pode faltar. Tocar para o público, não para Djs atrás de DJ booth. Cada show é uma nova experiência para mim, não tenho cartas marcadas. Mas as minhas músicas não podem faltar né?rs

MB: E agora Marcelo, o que podemos esperar até o final do ano?

CIC: Terei grandes shows até dezembro, duas músicas para serem lançadas e talvez um dos maiores anúncios da minha carreira está perto de ser divulgado. Meu foco já está em 2015 como eu lhe falei.

MB: Obrigado CIC, pode deixar um recado pros seus fãs por aqui?

CIC: Galera, eu fico até sem palavras para agradecer o carinho que tenho recebido pelas redes sociais, nos shows. O que eu faço é para vocês e por vocês, vocês são o combustível para eu continuar a desenvolver meu trabalho. Valeu demais, não esqueçam: Valorizem os artistas brasileiros. Até a próxima!

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ARTISTA: marcelo CIC

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King