Alt-J, Mais uma Vez

Com lançamento de seu segundo disco, banda britânica segue relevante

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Sim, este é mais um artigo sobre Alt-J, que lança hoje seu segundo álbum, This Is All Yours – mas, não, ainda não é a vez da resenha, que sai ainda nesta semana, após ter dado tempo suficiente para digeri-lo. Mas não é porque não vou falar sobre essa obra, nem sobre os dois anos entre os dois discos (porque isso já foi feito), que não há o que se dizer sobre o grupo britânico. Pelo contrário, este texto é justamente sobre isso.

Não vou explicar muito quem é a banda, porque imagino que você já tenha alguma ideia, se clicou e chegou até aqui. Vale mais eu te contar como é a banda: Antes um quarteto, Alt-J agora atende como trio e seus integrantes fazem uma maratona entre timbres, percussões e harmonias vocais pra entregar um trabalho sempre muito criativo e com um potencial emocional interessante.

E isso pra mim é chave pra entender seu som, o fator “emoção” presente em suas canções. Muito mais do que reunir referências estilísticas e criar um som assim ou assado (que, na real, é impuro demais pra receber pedigree), a banda sabe colocar sua poesia em função da influência que exerce no estado sentimental do ouvinte. Tem horas que ele te deixa tenso, depois te acalma, se mostra muito sensual e, logo depois, meio agressivo. Ou um pouco de cada coisa dessas misturado aqui, muito disso e daquilo ali. Pode parecer algo em cima do muro, mas está mais pra “marginal” mesmo – algo que vem pelas bordas, causando intersecções.

Alt- J – Every Other Freckle

O novo trabalho já pode ser ouvido, por vias legais ou outras também marginais, e os primeiros comentários que chegaram até mim foram variados. Teve quem ficou com a sensação de que a banda tentou ir um pouco longe demais, enquanto outros ficaram com a impressão que Left Hand Free deixou, de ser meio simplista, meio parecido demais com o que outras bandas já fazendo, ao invés de algo mais criativo como o que Alt-J sempre apresentou. Há quem também veja o trabalho como uma progressão natural do que foi apresentado em An Awesome Wave.

“Eu acho esse disco um marco, de fato”, me contou o músico César Lacerda, “eu ainda tô nas primeiras escutas, mas acho que merece ser ouvido como uma obra. Em tempos de shuffle, ele merece ser ouvido da primeira à última música, tem uma história sendo contada ali”. Percebi isso também e, sem spoilers da resenha, vejo que isso se faz da maneira com que nos acostumamos a ver o trio trabalhar: Com a pluralidade de sonoridades também em seus versos.

As letras de Alt-J contam sua mensagem não só com o sentido das palavras, mas também com a musicalidade das mesmas. Isso acontece nos versos que se repetem (“Please don’t go, please don’t go, I love you so, I love you so” em Breezeblocks e “I want every other freckle, I want every other freckle” em Every Other Freckle são dois exemplos disso) e nas construções de frases com substantivos tanto pela rápida associação, quanto pelo som que os vocábulos ganham na entonação (algo muito parecido com o que é feito no Brasil).

“Acho legal o fato de que uma banda inglesa que tá ligada a esse universo da música Indie possa desestabilizar todos esses conceitos e lançar um disco tão bem feito, tão bem pensado”, diz Lacerda, e eu vejo o mesmo. Isso vem com os interlúdios e as pequenas surpresas entre as canções, algo presente nos dois álbuns, o que só reforça a ideia de como cada um de seus lançamentos é uma obra completa.

Agora, em tempo real, não é tão fácil medir a influência que Alt-J já possui entre as bandas, seja na Inglaterra ou fora – não é comum vermos um músico citá-la entre suas referências. Porém, é interessante demais notar seu impacto sobre os ouvintes. Ela virou base de comparação para todos os conjuntos que apareceram nos últimos dois anos querendo fazer um som também fora da curva. Mas, por enquanto, quase ninguém conseguiu o envolvimento emocional com o público quanto este trio londrino segue causando.

Seguiremos acompanhando. Ouça mais o disco novo e voltaremos no assunto em breve.

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ARTISTA: Alt-J
MARCADORES: Novo álbum

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.