EDM: Acima de Preconceitos

Alvo de críticas, estilo é um dos que mais cresce dentro da música Eletrônica

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O EDM é o holofote da vez e, por estar em cima dos palcos como nunca, é alvo das discussões mais intermináveis e críticas mais duras da cena. Como qualquer tipo de arte, há quem defenda seus autores e seus estilos de acordo com o contexto ao qual fazem parte e tem também quem julga desnecessário e prejudicial para o ambiente. No caso da música, o estilo já foi explicitamente indagado como uma afronta à música Eletrônica por falta de letras interessantes, cuidado maior com melodia, ouvintes atentos ao trabalho musical e não ao modismo, e a lista continua. No entanto, o EDM aqui entra na mesma discussão da música Pop. Se é tão prejudicial, por que agrada tanto?

Entramos então na discussão do “O que é música?” ou “O que é música eletrônica de qualidade?”, o que é bom ou ruim, prejudicial, convincente, o que agrega, depende absolutamente e tão somente da opinião e dos gostos particulares do indivíduo. Quando fui ver o clipe de Turn Down For What pela primeira vez me deparei com uma garota, no primeiro comentário, julgando a faixa como como “não-música” por nem possuir letra, somente um punhado de progressões, um exagero de estímulo para as pessoas pularem sem sentido. Bem, a diferença é que alguns gostam de arte abstrata por evocar sensações únicas e poder ver, ali no quadro, o que sua interpretação deixar fluir. Outros preferem o realismo por admirar o talento do artista de transmitir as coisas como elas realmente são. A mesma coisa se aplica no exemplo de DJ Snake. Será mesmo que as pessoas entendem que existe música só pra evocar sensações e existe música pra se inspirar? Que o conceito e o comercial podem andar lado a lado e que eles têm papéis e públicos diferentes? E sobre letras, precisa mesmo ter versos pra ser considerado música? Onde a música instrumental entra nisso tudo, então?

Música de qualidade não pode, de forma alguma, ser resultado de fatores unilaterais. Diante de tantas pessoas que gostam de música, de tantos gêneros diferentes, é certo que a necessidade que uma tem é diferente da outra. Enquanto você percebe diferentes camadas nas músicas, interpreta artisticamente as letras metafóricas, a pessoa do seu lado é bem mais sinestésica e julga uma boa música aquela que faz fechar os olhos e levantar a mão pro alto. Aquela que arrepia os pelos do braço e que te faz sair do chão. Estamos falando de música, de sensações, e quando se trata do irracional não cabe resposta exata.

EDM não é só um gênero com uma variedade absurda de subgêneros, é uma cultura. Uma das que mais cresce pelo mundo inteiro. Uma cultura que ensina a diversidade e que dissemina o amor. Que tem abilidade que ficar acima de idade, de raça, gênero, sexo e orientação. Tudo ali é em prol de atingir um bem maior, uma felicidade plena, entrar em contato com a música e o que aquilo pode causar de positivo na sua vida. A dança, as cores, luzes, a sensação de liberdade. Compartilhar, ajudar, amar, poder ser você mesmo e ser completamente igual o próximo independentemente de classe social. É um momento que não se sente medo.

Estamos falando de um dos gêneros mais corajosos da Eletrônica. Vários outros estilos se penduram na Dance Music, se acomodam na progressão e nos drops, não só aqui mas também no Pop, no Hip Hop, Dubstep e por aí vai. E a coragem vem justamente da dinamicidade que a indústria movimenta hoje em dia. Nenhum outro estilo produz e lança tanta faixa em tão pouco tempo. O público da EDM consome muito essas músicas e estão em constante busca de novos materiais, se envolvem com os álbuns, as temáticas e se entregam aos ídolos. Músicas se tornam hinos, letras são ovacionadas por multidões em festivais e a história é feita.

Analisar uma obra não pode ser feita através de gêneros. Uma boa crítica sempre é feita através de contextos. Uma boa música pode não casar com uma proposta de festival. Uma boa música pode não ir de encontro com o propósito de relaxar. Assim como uma música “conceito” pode não, necessariamente, vir junto com o fator “diversão”. Trocando em miúdos, o que para uns considerar “música de qualidade” é analisar criticamente um trabalho individual de um produtor, todas suas camadas e suas influências, o tema de seu álbum, a fluidez do mesmo, para outros “música de qualidade” é aquela que exerce a função de criar sensações. E aí voltamos ao que já foi falado no terceiro parágrafo.

É complicado comparar o que envolve o trabalho de um Seth Troxler e de um Diplo. Enquanto um se esforça pra manter todo seu estudo de influência e referência na sua obra, o outro se desdobra pra transformar seu estudo em tendência para o popular. Quem acha que é fácil transformar conceito em comercial, se engana. Os maiores produtores do mundo são aqueles que enxergam e tem ampla visão musical de todos os gêneros para conseguir enxergar lá na frente e projetar tendências no trabalho atual. Em momento nenhum aqui eu estou levantando bandeira em quem é mais talentoso entre os dois produtores. Meu ponto aqui é firmar que, no final das contas, a dedicação é a mesma.

A cena, em geral, não só Eletrônica, precisa de menos “policiais da música” e mais criativos. Música é arte e a interpretação da arte é puramente pessoal. Afinal, nem todo mundo é produtor, nem todo mundo é crítico, nem todo mundo trabalha com música ou tem tempo para fazer uma pesquisa mais aprofundada nisso. A experiência com a música tem que ser a mais sincera possível, seja ouvindo algo que entenda ser “melhor elaborado” quanto algo que te faça sentir mais à vontade. E quando se fala em qualidade, necessariamente se tem que falar em contexto. Independentemente disso ou daquilo, o EDM completa sua missão. Produz, distribui, compartilha, sente, aflora, mastiga todas as tendências e espalha de forma palpável. Emociona, faz sorrir e arrepia. E o que é música, senão um pouco de tudo isso?

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ARTISTA: Diplo, DJ Snake
MARCADORES: Discussão, EDM

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King