Los Hermanos: Baile de Debutantes

Carnavalesco disco de estreia da banda carioca completa seus quinze anos

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Los Hermanos – Los Hermanos (1999)

Uma década e meia – Los Hermanos está em nossas vidas há todo esse tempo já. E não, não parece que foi ontem que o primeiro disco saiu, mas ouvi-lo hoje traz a mesma sensação juvenil de quinze anos atrás, quando, ingenuamente, não sabíamos que estávamos diante de uma enorme mudança na música feita no Brasil e que teríamos uma banda que nos acompanharia também em diferentes fases da vida com os próximos discos.

Eu tenho uma história bem particular com Los Hermanos, o álbum. Meses antes de seu lançamento, recebi em casa um CD de ação do falecido selo Abril Music com Anna Júlia, junto a uma edição da também falecida revista Showbizz, e foi aquele amor à primeira vista. Fã de música Pop como era/sempre fui, aquela melodia simples, a letra grudenta e um clipe com Mariana Ximenes (incluso naquele disco – essa coisa de CD-ROM ainda tava em alta na época), não tinha como não amar mesmo. Entenda que isso foi uns três ou quatro meses antes da música estourar (aquela história que todo mundo conhece) e eu, sem saber que era hipster, já tinha esquecido o hit e estava em um relacionamento sério e poligâmico com as outras treze faixas da obra.

Lembro que parte do meu interesse vinha justamente da pegada carnavalesca de muitas das músicas. Talvez tenha sido sem querer minha primeira experiência de identidade “brasileira” na música. Se elas falavam de amores e corações partidos que eu nunca tinha vivido (convém dizer que eu tinha catorze aninhos), traziam também figuras de Pierrot e Colombina, além de condensar verdadeiros bailes de Carnaval (todos elementos de uma cultura em que nasci e cresci) com uma pegada Hardcore (de uma cultura adolescente cuja energia eu compartilhava) que faziam minha identificação ser espontânea e constante.

O próprio melodrama, sobre um “ter e perder alguém” que eu não tinha experimentado de verdade ainda, é bem enraizado na tradição que herdamos de Portugal desde sempre e essa poesia, além de ser facilmente identificável, consegue ainda hoje chamar a atenção. Não tem como não ter a curiosidade despertada por letras como “Sei que um dia a rosa da amargura/Fenecerá em razão de um sorriso teu/Então, clausura que um dia sufocou minha alegria/Há de ser o que morreu”, principalmente quando isso é cantado a plenos pulmões e com coração rasgado.

Descoberta, Pierrot e Tenha Dó, todas de Marcelo Camelo, traziam esse trabalho de referências tupiniquins, enquanto Primavera (a única baladinha do disco) tentava seu lugar ao sol dos hits (também agradando qualquer fã do Pop) e Sem Ter Você poderia brigar à altura das bandas que dominavam as FMs da década, como Skank e Os Paralamas do Sucesso. Rodrigo Amarante já mostrava o papel que desempenharia na banda pelos próximos álbuns não com a pegada forte de Quem Sabe, mas na ironia de Onze Dias, enquanto títulos de músicas como Lágrimas Sofridas e Outro Alguém ajudaria a pavimentar o caminho que nomes como Gram seguem até hoje.

Tudo mudou nesses quinze anos, depois do Carnaval ter seu fim. Los Hermanos deixou de ser um quinteto (e hoje mal existe como banda em atividade), o cenário musical do país renovou-se drasticamente, Amarante está mais para lá fora do que para cá no Brasil e nós, ouvintes, também amadurecemos nas predileções, mas ainda conseguimos cantar todas essas letras de cor sem perder o fôlego e a nostalgia – meus vizinhos que o digam.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.