Eureka! – O Pequeno Universo do Registro “Demo”

Alguns álbuns crus, intimistas e recheados de sensibilidade

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O sagrado momento da inspiração tem o seu preço: a iluminação da heurística artísitica é altamente fugidia, acontece de repente e não pode esperar os caprichos da mente humana para se manifestar. Talvez este seja o principal motivo para, de quando em quando, artistas nos presentearem com álbuns que, embora apresentem uma característica sonora fora dos altos padrões de qualidade a que estamos acostumados hoje em dia (equipamentos e procedimentos atualmente são muito mais baratos e acessíveis que há poucas décadas passadas), mostram um momento único, íntimo, em geral irrecuperável e, acima de tudo, de uma sensibilidade transbordante. Tendo em mente trabalhos que soam, a princípio, estranhos para nossos ouvidos, mas arrebatadores para o coração, listamos alguns álbuns com aspecto de “fita demo”, mas que se destacam em qualidade artística. Vamos a eles:

Karen O – Crush Songs

Um coração partido e uma porção de boas ideias, células para canções, guardadas na gaveta por sete anos. Karen O, após o reconhecimento mundial por sua liderança nos grupo Yeah Yeah Yeahs e por sua participação em trilhas sonoras dos longas metragens de Spike Jonze (o mesmo responsável pelo seu coração partido, aliás), dá um passo contra intuitivo e resolve lançar uma porção de faixas curtas e cruas em seu novo álbum Crush Songs.

John Frusciante – Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt

Um álbum de vinte e cinco faixas composto e gravado solitariamente, dividido em duas partes. A primeira, Niandra Lades, marcada pela aversão pela superpopularidade de seu grupo Red Hot Chilli Peppers. A segunda, Usually Just A T-Shirt, cheia de faixas caóticas e sem título, símbolo de sua reclusão, provocada pelo intenso vício em heroína. Com uma crueza e intensidade arrebatadores, o primeiro álbum marca o declínio e a recuperação impressionantes do artista.

Kiran Leonard – Bowler Hat Soup

Um álbum completamente heterogêneo de 14 faixas levanta muitas perguntas sobre seu autor. Mas Bowler Hat Soup, justamente em sua confusão e profusão sonora, deixa uma certeza: a intensidade criativa de Kiran Leonard. Nele, vozes e violões desafinados deixam o Leonard num patamar que paira entre a paixão de Jeff Buckley e a sofisticação de Sufjan Stevens.

Michael Cera – True That

O astro de cinema responsável por seu papel especializado de adolescente problematico em filmes como Superbad, Juno e Scott Pilgrim Contra o Mundo (entre outros, claro) lançou seu primeiro album de supresa neste ano, intitulado True That. O aspecto demo aqui é um charme que reforça os ares de despretensão e de “projeto paralelo” do artista.

Oberhofer – Cannibalism, Freud, Night of 3.15.13, Morning of 3.16.13

Ainda no ímpeto criativo de seu Notalgia, o músico americano Oberhofer se dispôs a produzir (compor e gravar) um EP no período de um dia. O resultado é o curto Cannibalism, Freud, Night of 3.15.13, Morning of 3.16.13. Experimental, de cinco faixas feitas de sopetão, mas que registram a capacidade criativa que já conhecíamos do músico. Um desafio vencido.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte