Festival Novas Frequências: Destaques e Primeiras Impressões

Evento carioca chama a atenção do público para o que há de mais contemporâneo

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Fotos: Luisa Puterman

Nos últimos quinze dias, um furacão sonoro assolou a cidade do Rio de Janeiro. O Festival Novas Frequências apresentou mais de 20 atrações em duas semanas bem quentes em termos de temperatura e conteúdo musical. Shows, workshops, performances e palestras de mais de 30 artistas de onze países diferentes se distribuíram em seis espaços da cidade para ilustrar inúmeras possibilidades de se trabalhar, pensar e ouvir som nos tempos de hoje. O Monkeybuzz esteve por lá pra dar uma olhada e trazer um olhar objetivo do que rolou em um dos eventos de música mais ousados do país.

As próximas palavras contém a impossível missão de eleger os destaques do festival. Com inúmeras referências, estilos, sonoridades e procedimentos, os artistas aqui citados chamaram a atenção por muitos motivos, mas principalmente por atraírem um público jovem e distinto do usual ao festival e por também possuírem um potencial indescritível como produtores de possíveis novos artistas e tendências. Vimos ao longo das últimas duas semanas, certamente, alguns nomes para se atentar e aprofundar.

Rashad Becker

Engenheiro de som e compositor alemão de origem síria, Becker iniciou seus trabalhos com música ainda na década de 1980. Seu nome se tornou sinônimo de qualidade através de seu trabalho como engenheiro de corte e masterização de vinil no lendário estúdio de Berlim, Dubplates & Mastering. Seu show, no contexto do festival, seguiu a linha de suas últimas apresentações pelo mundo. Uma espécie de “live eletronics” que busca estruturar e sequenciar inúmeros sons formando camadas e texturas inusitadas. Becker criou ambientes sonoros nos quais era comum ver as pessoas tentando achar uma lógica e nela a tentativa de entregar o corpo para uma dança estranha, amorfa, mas verdadeira. O show foi tecnicamente impecável, os elementos sonoros eram bastante nítidos e cada frequência parecia achar seu lugar ideal no espaço, que por ser um estúdio, ajudou a tornar a experiência um dos destaques do Novas Frequências.

Rashad Becker ‘Dances III’ (PAN 34)

Ben Frost

Natural de Melborne na Australia, Frost vive e trabalha há cerca de nove anos na Islândia. Formou o selo/coletivo Bedroom Community junto com outros dois amigos e participou também da produção de álbuns de nomes como Tim Hecker e Colin Stetson, entre outros. O músico vem apresentando no ano de 2014 shows baseados em seu último disco AURORA e no Rio de Janeiro não foi diferente. Além de seu elogiado trabalho, o concerto atraiu um público bastante jovem que aparentava ser de certa forma fã do artista, aliado a sua cenografia que deixou o ambiente bastante esfumaçado e um jogo de luzes de estrobos intensas.Com um ar de pop star experimental, Frost se mostrou ser cara muito gentil e acessível ao público. No entanto, seu som denso parece ter separado a audiência em pessoas que adoraram e que saíram transformadas e outras que não pareciam tão impressionadas assim. É bastante interessante pensar que o mesmo estímulo sonoro possa gerar opiniões tão dispares e esta é, com certeza, uma das propostas do festival. A atenção que Ben Frost tem atraído nos últimos tempos o tornou revelante dentro do line up do evento e possivelmente um dos nomes mais controversos também dado as reações após a sua apresentação. Abaixo, você pode ver um pouco de como o músico se apresenta ao vivo, em um vídeo gravado no Amplifest.

Osvardo

Oriundo de Pouso Alegre, o duo Osvardo foi formado em 2014 pela junção dos trabalhos de Rafael Miranda e Erick Melo. Hoje em dia, o grupo conta com a participação do multi-instrumentista Davi Bernardo em alguns shows. No festival, a banda se apresentou numa tarde ensolarada no pátio da Casa Daros. O lugar agradável uniu um publico fiel do festival com outro mais espontâneo e desprevenido, que pareceu se interessar pelas sonoridades que a banda emanava. Uma verdadeira mistura de influências sonoras distintas parece revelar a cidade de Pouso Alegre como um verdadeiro laboratório de experiências musicais. Projetos como Psilosamples, Mujique e Pumu, junto a Osvardo, mostram um futuro intrigante nesta discreta cidade mineira com uma cena local que vale muito a pena se atentar.

Osvardo – Que Foi Objeto De Decisão

Sasu Rippati

Percussionista finlandês com uma disposição incessante para a experimentação – esta é a definição concedida pelo festival. Baseando-se em seu último projeto, Vladislav Delay, Rippati apresentou um dos “live eletronics” mais intensos do festival – e olha que não foram poucos. Ondas de frequências graves em períodos hipnóticos aliadas à texturas angustiantes de timbres ora estridentes, ora aveludados contagiaram a plateia, que permaneceu em uma espécie de transe. Inclusive, não foram poucas as pessoas que se retiravam e retornavam do teatro por alegarem sentir um mal estar fisiológico proveniente do som. “Impactante” talvez seja a melhor palavra que descreva o show do penúltimo dia do Novas Frequênncias. Com um olhar denso, Rippati se mostrou sério e bastante misterioso, elementos intrigantes que mereceram a atenção do público.

Moritz von Oswald Trio – Structure 3 – Album: Horizontal Structure (2011)

Longe de estabelecer uma competição entre as atrações do festival, os nomes citados são apenas as ponta do iceberg de um evento que se propõe a pensar novas formas e expressões na música a partir de performances enigmáticas. É fato que todas fazem parte de uma curadoria cuidadosa que se preocupa em chamar atenção da cena musical ao atrair pessoas com um olhar atento. Acompanhe nos próximos dias a continuidade da nossa cobertura sobre o Novas Frequências.

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Autor:

Alguém que convive e trabalha com som