Pro Era – Raízes Coletivas

Jovens de menos de 20 anos criaram unidade sonora e visual ao redor do coletivo de Hip Hop mais comentado atualmente

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Em 2012, uma mixtape chamada 1999 ganharia os ouvidos do Hip Hop underground ao revelar um jovem de 18 de anos com uma sonoridade de uma época em que ele ainda engatinhava em suas fraldas. Joey Bada$$ já é um fenômeno e o seu segundo lançamento, a também excelente mixtape, Summer Knights foi na minha opinião, uma das melhores obras do gênero daquele ano. Em 2015, uma foto vazada da Casa Branca revelou Malia Obama ( sim, a filha do presidente dos EUA) com uma camiseta que trazia Pro Era, coletivo idealizado pelo rapper e Capital STEEZ, o que mostra que a ansiedade ao redor do seu primeiro disco, B4.DA.$$, passa muito pela identidade construida com seu grupo. Mas, antes, vamos entender um pouco porque existe tanto hype ao redor dele.

Coletivos de Hip Hop não são nenhuma novidade na história da música. Na verdade, eles fizeram parte da própria formação e popularização de um gênero originalmente marginalizado e presente em alguns nichos da sociedade norte-americana. Mais notoriamente, tivemos Native Tongues, formado por ninguém menos que De La Soul, A Tribe Called Quest, Queen Latifah, Common, Mos Def e Pharcyde, entre outros. Não só uma união de artistas mas também de conceitos, o coletivo que surgiu no final dos 1980 pregava letras positivas, realçando a cultura afro-americana, além de iniciar um movimento por samples mais ecléticos e levadas musicais mais jazzísticas.

Como uma unidade pelo todo ou uma verdadeira escola, fez com que cada um de seus membros tomassem os próprios caminhos e a maioria dos artistas presentes ou fazem ou fizeram parte da história do Hip Hop. Obviamente, estamos lidando com um seleto grupo de músicos que que servem como um exemplo máximo da eficiência de um coletivo musical, mas mesmo grupos de Rap, como Racionais MC’s, Wu Tang Clan e RZO, estão aí pra mostrar que o poder individual de músicos ganha força quando estes nascem unidos.

Atualmente, Tyler, The Creator e seu OFWGKTA, com Frank Ocean, Earl Sweatshirt,Domo Genesis e mais um monte de gente, realizam uma retomada do movimento que une produtores, músicos, desginers e entusiastas ao redor de uma ideia maior – abrindo espaço para que cada um conquiste seu espaço a partir do seu talento. Quantas vezes nos últimos anos não fizemos resenhas elogiando a consistência e o estilo único criado no coletivo de Tyler? Infindáveis, no entanto cada um parece que já está tomando o seu prórprio caminho no meio musical, sem antes, surgir um novo coletivo que parece retomar as raízes do Hip Hop: Pro Era.

Ouvir uma das mixtapes de Joey Bada$$ é como viajar no tempo e parar justamente na data que representa o título de seu primeiro lançamento, 1999 – um trabalho com batidas feitas nos moldes da MPC, famoso hardware que auxilia a criação de ritmos a partir de pads de borracha, quantização e sampling. No entanto, nos últimos três anos, é assustador o nível de artistas que surgiram do selo, como CJ Fly e sua peculiar forma de contar histórias em um flow de ideias que segue samples simples e eficientes.

Assim como outros coletivos, Pro Era tem um som particular notório em cada um de seus membros, uma unidade sonora que faz com que a sua ideia seja percebida com a simples audição de uma faixa de um deles. Fazem parte da lista músicos Dyemond Lewis, que bebe de influências jazzístiscas em suas rimas, e Kirk Knight, rapper mais contemporâneo que se inspira no excesso de graves do bumbo e de suas linhas de baixo, estilo perfeito para tremer um clube ou dirigir com os vidros abaixados em um carro obscuro. Infelizmente, Capital STEEZ, um de seus líderes e maiores talentos, cometeu suicidio em 2012, deixando um legado de trabalhos, Amerikkkan Korruption e Amerikkan Korruption Reloaded, como prova viva de que o coletivo formado no colégio com Joey e CJ tem grandes vôos pela frente

Temos mixtapes como Peep The Apocralypse e The SeCC$ Tap.e (1 e 2), que contam com faixais individuais e participações especiais de outros membros talentosos, como Dirty Sanches, Nyck Caution, Dessy Hinds e Rokamouth. Curiosamente, como normalmente acontece em grandes coletivos, os rappers aqui dificilmente ocupam os postos de produtores, preferindo aguardar a criação de batidas sob medida de produtores externos, cada vez mais interessantes nas rimas da Pro Era, como o icônico DOOM.

Dyemond Lewis ft Swankmaster RAW – No Fucks Given (SD&D)(Prod. MKSB)

Planejado como um projeto de amigos na escola, Pro Era bebe de suas fontes certeiras do anos 1990, colocando em evidência o retorno da época à maioria dos gêneros musicais nesta década. Se não bastasse a aposta certeira de influências que claramente passam por Nas, Notorious B.I.G, J.Dilla e Jay-Z, temos ainda um dos rappers mais hypados (com justiça) do momento à sua frente, além de diversos outros talentosos músicos que só aguardam a explosão de Joey para poder ter o espaço necessário para mostrar o seu trabalho. Além de todo o trabalho musical, o cuidado musical com a marca Pro Era, fez com que até a filha do homem mais poderoso do mundo desejasse uma camiseta do coletivo, demonstrando claramente que Bada$$, CJ Fly e companhia estarão ditando conceitos do Hip Hop aos mais jovens, assim como OFWGKTA fez nos últimos cinco anos e tantos outros vem fazendo ao longo da história do estilo. Mostra que, sim, a união cria força e, hoje em dia, com tantos selos independentes surgindo, é fundamental planejar ao menos uma identidade diferente da maioria para que o resto venha como consequência de muito esforço.

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MARCADORES: Artigo

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.