Artista do Trap: RL Grime

Produtor colheu os frutos de quem apostou no gênero numa época em que ninguém acreditava

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O Trap talvez seja o subgênero do EDM, após do próprio Progressivo, que mais andou com as próprias pernas. Seu nascimento como estilo independente e praticamente instrumental veio com amadurecimento rápido e fluído e, em pouquíssimo tempo, trouxe a seus produtores “n” formas de transformar suas estruturas em melodias e suas melodias em faixas. Os vocais rechearam as bases, os drops foram deixando de ser automático e tomando formas bem mais maleáveis do que o próprio Electro House, o que deu um suspiro de originalidade em todo circuito de música Eletrônica.

O resultado disso foi tão grande que o próprio Hip Hop se apoderou do estilo de uma forma que hoje praticamente os gêneros andam juntos. Com BPMs bem similares, os produtores viram nisso uma forma de revolucionar a indústria da música negra aproximando as batidas eletrônicas e trazendo um elemento um pouco mais próximo do próprio Dubstep, que estava em voga na mesma época que o surgimento do Trap. A diferença é que aqui a predominância é dos agudos, as batidas são mais densas, menos agressivas, o que casa perfeitamente com a proposta do próprio Hip Hop.

Percebendo isso, Henry Steinway, ou RL Grime – seu pseudônimo -, iniciou seu trabalho em 2012. Com remix de Mercy de Kanye West, o americano conseguiu projeção internacional atingindo três milhões de visualizações no Soundcloud. Até então, o estilo estava começando, a leva de produtores que acreditavam no Trap era bem limitada, inclusive a base de adeptos era bem pequena. Mercy estourou como Hip Hop até descobrirmos que na verdade era Trap. No mesmo ano, o produtor ainda liberou sua versão de Satisfaction, a lendária e atemporal música de Benny Benassi, e atingiu quinta posição na Beatport de Electro House, além de um milhão de visualizações na sua página. Reforço: era uma o início de tudo, o Trap não tinha a força que tinha hoje.

Depois disso, Grime já estava na mídia e era notado. Fazia parte com um time pequeno de corajosos de uma vanguarda musical que poucos sabiam onde iria chegar. Mas Henry sempre foi do tipo que come quieto e pelas beiradas. Enquanto Baauer, dono do grande hit Harlem Shake era dono do barulho, mas não sustentava muito a fama com material, RL nunca parou. Em 2013, veio High Beams EP com cinco faixas através da Fool’s Gold Records e, no mesmo ano, a tão comentada Infinite Daps com Baauer. Ambos DJs fizeram uma turnê juntos e a base de fãs esperou bastante por um trabalho em conjunto. A expectativa foi muito alta para um resultado muito frustrante.

A grande característica de Grime é sua aproximação com a cultura Bass. São várias as entrevistas que o músico declara que não gosta de se limitar como produtor de Trap. Void, seu último trabalho e álbum de estreia, é um exemplo perfeito disso. As 12 faixas conseguem mesclar bem um batidão típico da Filadélfia, com sintetizadores do Deep House, percussão do Trap, estrutura Bass. Suas mixtapes mais parecem uma rádio sulista contemporânea impossível de se ficar parada. O som de Henry não é previsível, não tem regras de estrutura como o EDM geralmente impõe, tem particularidades, tem experimentalismos, tem uma cara só dele.

E quem é completo assim geralmente veio de um berço eclético. Antes de ser RL Grime, Henry era Clockwork: um projeto voltado para a EDM. Também com alguns frutos e uma projeção considerável, o produtor resolveu deixar esse alter ego suspenso por um tempo até por não achar uma identidade musical tão certa quanto RL Grime por agora. Sendo Grime pôde crescer com os remixes até trazer suas inéditas, conquistar seus fãs pelo seu estilo que consegue misturar som alto com piano, de forma literal. E de forma metafórica, consegue mesclar seus desejos e liberdade criativa em suas produções. Hoje faz parte da WeDidIt Collective, de Shlohmo, e passa boa parte de seu tempo nos maiores festivais do mundo compartilhando sua música. RL Grime é um dos artistas mais notáveis de 2014 e usou desse ano para mostrar sua cara e seu âmago com seu álbum. Afinal uma estreia é mais do que um simples trabalho. É um estudo sobre si mesmo. E Void é uma fascinação entre o sombrio, o obscuro, de um jeito a procurar a existência de uma forma sufocante. E achou. Achou tão bem que continua soltando single após single estoura. 2015 é mais uma estrada pela frente para que muitos usem Henry como influência.

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ARTISTA: RL Grime
MARCADORES: Conheça, Trap

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King