Fabulosa Björk

Em um mundo que faz de conta ser normal, cantora desperta fascínio como um ser quase mágico

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Se o mundo da música contemporânea fosse um conto de fadas, Björk seria a mais interessante das protagonistas. A islandesa, que chega agora ao seu nono álbum, Vulnicura, conquista admiradores há mais de vinte anos como uma artista que parece transcender os limites de sua humanidade e apresentar-se como uma espécie de ser mágico da indústria fonográfica.

Essa comparação dificilmente seria vista como exagero por qualquer um que acompanhe sua carreira. De capas de discos a videoclipes, passando por apresentações ao vivo, Björk criou uma aura extra-humana percebida facilmente por seu visual. Suas características míticas, porém, vão muito além disso.

Sua própria capacidade de mutação colabora na leitura de sua persona como uma entidade de poderes mágicos. Isso não encerra-se apenas no clipe de Hunter, mas nas facetas que ela assume a cada lançamento, show ou vídeo para explorar ainda mais a identidade que trabalha. Dá pra argumentar ainda que ela parecer nunca envelhecer (a artista hoje está com 49 anos de idade) reforça esse caráter.

É interessante notar como isso acontece utilizando principalmente elementos da natureza, inserindo-a em um imaginário mitológico como tantos outros que criam seus herois a partir do mundo que os cerca. Perceba como ela aparece sempre em uma posição de poder, mas nunca dominadora. Ela é amigável à vida ao seu redor, sempre em unidade com ela.

Björk

Björk

Sua ferocidade, contudo, parece vir de outra natureza: A humana. Björk sabe como poucos expressar a força das emoções pertencentes à condição que vivemos e a maneira com que canaliza essa energia é um dos meios pelos quais ela exerce organicamente um grande fascínio no público. A artista é um ser mágico principalmente quando consegue ser mais gente do que qualquer um de nós, mesmo quando mostra ser o oposto (vide o clipe de All Is Full of Love).

É como se ela vivesse uma introspecção ao inverso. A maneira com que ela conecta suas emoções mais íntimas e expõe cada uma delas faz com que elas ganhem ainda mais força. Às vezes, ouvir suas letras beira o constrangimento de estar diante de confissões sentimentais que, de tão poderosas, muitos passam uma vida inteira evitando-as.

É aí que Björk vira quase um monstro. Uma figura amórfica, com algum tipo de poder sobre a natureza e com a capacidade de desvendar os sentimentos meus e seus, consegue intimidar. E são justamente esses personagens que desafiam nossas noções de normalidade que mais conseguem não só fascinar, mas também despertar nossa afeição.

Como se não bastasse toda essa demonstração de força, a cantora desafiou o curso natural de sua própria música e adiantou em dois meses, de surpresa, o lançamento de Vulnicura – um trabalho que reúne todas as suas melhores características para, mais uma vez, nos emocionar, expôr e, de certa forma, dominar. Em um mundo que sempre faz de conta ser normal, Björk é muito mais do que meramente interessante.

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ARTISTA: Björk
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.