Phosphorescent Faz Ao Vivo

Músico comenta seu próximo lançamento triplo, que celebra toda sua carreira

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Vários emails pra combinar, ligações internacionais, senhas, uma agenda meticulosamente montada pra dar tudo certo. Toda essa estrutura parece combinar pouco com Matthew Houck, o nome por trás de Phosporescent, um cara de jeito simples e músicas tão orgânicas, mas que, por sua vez, divulga o lançamento não de um mero disco, mas de um álbum ao vivo triplo para revisitar diferentes momentos de sua carreira – e o status de um marco desses também vai de encontro ao jeito “simplão” do músico, mas não é nada mais digno.

Com seis discos de estúdio lançados, incluindo o ótimo Muchacho, Phosphorescent conquistou o respeito necessário de público e crítica para criar uma obra desse tamanho. “Eu sempre quis fazer um disco ao vivo”, contou ele ao Monkeybuzz por telefone, “mas nunca dava certo. Gravar ao vivo é difícil”. Ele fala com a mesma malemolência com que canta, com um sotaque do Alabama (sul dos EUA) moderado, mas presente. Suas frases são curtas e as palavras tem simplicidade, mas os pensamentos vem em forma integral mesmo quando vai contar algo simples.

Phosphorescent – Nothing Was Stolen (Love Me Foolishly) (Ao Vivo)

“Eu faço shows há mais de uma década”, explica, “e tentava de vez em quando gravar algo ao vivo, mas sempre dava algum problema. O microfone não funcionava direito ou algo ficava fora do lugar. Desta vez, ele comentou, deu certo porque foram gravados quatro shows, depois mixados apropriadamente. Ou seja, quando perguntei por que agora foi um bom momento de fazer um disco desses, ele explicou apenas que era porque a gravação agora deu certo.

Essa singeleza explica o fator mais humano, mais cotidiano, que suas composições tem. Belíssimas e embebidas em uma tradição Folk Rock deliciosa, suas músicas tem um caráter contemporâneo sempre interessante e uma sinceridade palpável à distância. Isso fica claro nas letras e na interpretação do músico – mais ainda ao vivo.

Phosphorescent

O repertório passeia por diversas fases de sua discografia. “Fico feliz que o disco se sustenta como um álbum completo, sinto que é um bom registro”, revela Houck. “Alguns dizem que esta é uma forma de arte que está morrendo”, comenta ele sobre álbuns, “que as pessoas só ouvem músicas soltas. Eu discordo. Manter algo bom por 45 minutos é a prova de que você tem algo coeso em mãos”.

Seu ao vivo, Live at the Music Hall, contudo, vai muito mais que o dobro disso, fechando o repertório em 117 minutos ao longo de 19 faixas. Isso tem a ver com seu som muito bem feito (“Tenho muito orgulho de como minha banda está boa”, revelou em determinado momento da conversa), mas também está relacionado ao envolvimento emocional que suas composições permitem. Elas possuem um grau sentimental sempre interessante, uma alma que vai além da sinceridade de seus versos.

Quando sugeri que seu som desperta nostalgia, Matthew parou pra pensar. “Eu nunca consegui colocar em uma só palavra”, disse, “talvez seja mesmo ‘nostalgia’ essa vibe, essa sensação que eu tento passar”. Pergunto então que palavras ele usaria pra definir sua música, ao que ele prontamente responde: “Eu não definiria nada, pra isso temos os jornalistas”.

Os 15 minutos de conversa por telefone oscilam entre comentários sobre a indústria musical (da qual ele se diz “na contra mão”), alguns risos curtos e a sensação de um ou outro sorriso sacana enquanto responde as perguntas, sempre após uma pequena pausa para moldar as frases. É assim, com o jeitão visto nas músicas e no palco, que Phosphorescent sabe cativar nossa atenção e ter conquistas que poucos alcançam com uma arte sincera.

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.