Entrevista: Jesse Harris

Músico comenta seu mais novo álbum, “No Wrong No Right”

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Jesse Harris, o músico nova-iorquino mais brasileiro que conhecemos, acaba de acrescentar uma ótima obra à sua discografia: No Wrong No Right, o 13º lançamento de sua carreira.

O disco (que saiu no Brasil pelo selo slap) foi feito em parceria com a banda Star Rover e traz catorze faixas, entre instrumentais e cantadas, que mostram o estilo do compositor e produtor.

Conversamos por email com o artista sobre este novo trabalho, seu processo de composição e música brasileira.

Monkeybuzz: Este é seu 13º álbum solo. Como você se sente de voltar ao estúdio para trabalhar em novidades para serem lançadas sob seu próprio nome e qual é a diferença de quando você escreve ou produz para outro artista?
Jesse Harris: É sempre bom voltar ao estúdio pra gravar algo novo. As canções precisam ser manifestadas para que haja espaço para que outras ganhem vida. Quando trabalho em minha própria música, eu tenho mais controle do que quando escrevo ou produzo para outros artistas, então embora haja mais pressão para que meu próprio álbum esteja bom, há também mais liberdade para fazê-lo do jeito que eu quiser. No momento, estou me divertindo na produção de um novo álbum pra cantora Petra Haden, que eu espero que seja lançado neste ano.

Mb: Foi divulgado que sua inspiração para este álbum foi Neil Young e seu Crazy Horse. Você pode nos contar mais sobre isso?
Harris: Neil Young fez alguns álbuns nos anos 1970, particularmente After the Gold Rush e Everybody Knows This Is Nowhere, que tinham músicas de Rock elétricas com sua banda Crazy Horse, assim como baladas acústicas. Ficaram lindos. Então, eu copiei esse modelo em No Wrong No Right, gravando algumas músicas mais Rock com Star Rover, mas também adicionando alguns duos acústicos com o guitarrista Julian Lage. Eu adicionei um terceiro elemento também, três composições instrumentais. Star Rover é um duo de música principalmente instrumental, então eu quis captar esse elemento em nosso álbum também.

Mb: Kafiristan me parece o momento mais “étnico” no disco, até aparecer Don’t Let Me Pass By, que parece muito brasileira. Como os lugares em que você já esteve te influenciam?
Harris: Eu não faço essas escolhas conscientemente. A música brasileira, em particular, sempre me foi uma influência porque ouvi muito dela por muitos anos. Mas, a verdade, a música de Kafiristan foi escrita por John Zorn, eu só escrevi a letra. Don’t Let Me Pass By foi minha tentativa de fazer um Choro.

Mb: De maneira geral, o que te inspira para compor?
Harris: Eu gosto de todo o processo – de escrever as músicas até ouvi-las ganhando vida com outros músicos nas gravações e apresentá-las, o que me dá desculpa para viajar a lugares como Brasil, Japão, Europa e vários outros. Quanto à composição, às vezes eu não sei se trata-se de um hábito ou de uma necessidade.

Jesse Harris

Mb: Quando você escreve uma música, você já tem em mente se ela terá letras ou não?
Harris: A maior parte das músicas começam instrumentalmente, mas algumas delas parecem completas desse jeito, então deixo assim. Ter letra limitariam elas, ou ainda nem encaixariam nelas. Às vezes, entretanto, eu tenho a ideia de uma letra e construo uma música ao redor dela. Com I Probably Won’t See You For a While foi assim.

Mb: Como você escolhe os músicos que trabalharão com você em um projeto?
Harris: Parece acontecer naturalmente. Star Rover e eu estávamos fazendo muitas jams no apartamento em que eles moram. Estava tão legal que decidimos fazer shows, daí decidimos também gravar.

Mb: Você já teve muito contato com a música brasileira por muitos anos. Como alguém de fora, como você avalia a produção musical no país?
Harris: Com algumas exceções, parece que a produção no Brasil hoje é mais limpa e menos crua que no passado, mas o mesmo é verdade nos EUA. A música ao redor do mundo está aos poucos se homogeneizando, infelizmente, mas o Brasil ainda possui um approach rítmico único que o diferencia, e é aí que muitos bons talentos são encontrados – tanto compositores quando cantores e instrumentistas. A música é o melhor item de exportação do Brasil.

Mb: Você prefere ser lembrado no futuro como compositor, produtor ou intérprete?
Harris: Parece que ninguém se lembra de produtores, então não tenho esperanças aí. No fim, são as músicas que mais ficam na lembrança, mais do que discos. Ainda assim, seria legal se as pessoas ainda escutassem meus álbuns no futuro.

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ARTISTA: Jesse Harris
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.