Noel Gallagher, Modelo 2015, Novo Em Folha

Às vésperas de lançar segundo disco longe de Oasis, músico está pronto para o novo

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Já se vão 21 anos de noticiário musical com a presença deste sujeito como protagonista. Deste total, 15 foram vividos à frente de Oasis às turras com seu irmão mais novo, Liam. Para quem esteve ausente do planeta nos últimos tempos, o quinteto do norte da Inglaterra foi, talvez, a última grande banda de Rock a surgir. Depois dela, antes mesmo de encerrar suas atividades em 2009, tudo mudou.

Dos subúrbios de Manchester, nos quais aprontou poucas e boas, passando por uma adolescência musical, chegando ao topo do Olimpo Rock, talvez o último mortal a ter residência prolongada por lá, Noel Gallagher é, com o perdão da palavra, um arrogante. E esta é a sua maior qualidade, a de se achar o melhor compositor de sua geração, o mais dotado artesão de estúdio, o mais completo guitarrista, a bordo da maior banda de Rock do mundo, pelo menos nos últimos 10, 15 anos. Se pararmos para analisar as premissas de Noel, veremos que o rei em sua barriga nem é dos mais extravagantes.

Em carreira solo desde 2011, já com um disco à frente de um novo grupo, High Flying Birds e a poucos dias do lançamento do novo álbum, Chasing Yesterday, Gallagher está livre afinal. Talvez ele nem se preocupe com apego a fórmulas ou sonoridades, mas é fato que sua marca musical foi impressa com tinta forte na canção Rock dos últimos anos. Consistia na presença massiva de guitarras, uma proeminente e pesada, pontuando a melodia, enquanto outra, mais harmoniosa e fluida, ditava as sutilezas. Sob elas, um baixo correto, uma bateria quase omissa e casuais intervenções de teclados. E a voz? Bem, havia a variação cantada pelo próprio Noel, com registro vocal doce e em tom frágil/baixo, capaz de proporcionar uma audição mais pormenorizada que as canções anasaladas e feitas com o selo de qualidade “maior que a vida”, para cantoria em estádios do mundo, entoadas por Liam. O novo Noel não mais parece preocupado em ser o maior do mundo em algum quesito, talvez até ache que já provou tal façanha aos habitantes do planeta. Mais provável que as canções feitas hoje, sem a obrigatoriedade de subir como foguetes nas paradas de sucesso dos dois lados do Atlântico, o representem de forma mais eficaz.

O maior e mais frequente erro quando alguma canção pós-Oasis surge em algum lugar é compará-la à produção antiga. É evidente que Noel não tem mais a necessidade (se é que teve algum dia) de estar à frente de uma banda de Rock. Ele sempre foi um talentoso representante de uma tradição não formal de compositores e cantores ingleses com viés popular. Sempre esteve muito mais para virar uma laje com amigos num churrasco de tarde do que para escrever um ensaio sobre o valor da arte no século 21. É como se fosse um Paul Weller sem o verniz do gosto por roupas, vinhos e cantores obscuros de Soul Music. Gallagher, apesar de identificado com a estética modernista dos anos 1960, da qual, assim como Weller, é, de certa forma, herdeiro, não parece preocupado com tendências. Sua musicalidade vem de forma espontânea, fruto da audição não só de Beatles, mas de gente como David Bowie e Neil Young, dois artistas que, curiosamente, sempre buscaram várias alternativas para suas obras. Talvez Noel esteja experimentando esse gostinho agora, vá saber.

Sua insistência em manter-se numa banda é sintomática da necessidade de pertencimento numa coletividade. Se no Oasis ele deu as cartas até os últimos anos em termos de composição, com High Flying Birds, a preocupação com direção artística é quase nula. Ele é quem manda. Melhor assim, uma vez que sua música está mais madura. Isso significa não uma previsibilidade em termos de criação, mas justamente a capacidade de surpreender o ouvinte, algo que Oasis já não conseguia há tempos. Aos primeiros acordes de uma canção já era possível cravar que ela era da lavra da banda de Manchester. Talvez fosse pela presença de Liam, vocalista limitado, apesar de carismático, com poucos recursos e variações. O novo grupo proporciona vôos estilísticos mais altos e possibilidades interessantes.

O novo álbum – cuja resenha você verá aqui em breve – tem grande preocupação com o caráter surpreendente das canções. Não espere, porém, alguma redenção a ritmos exóticos ou astros convidados, o que se ouve é a boa canção gallagheriana, com o “twist” da imprevisibilidade. Fartura de composições também sempre foi característica do homem. Há rumores que ele compôs entre 50 e 60 músicas para a escolha do repertório do segundo disco. Outra novidade é que o próprio Noel assumiu a função de produtor, uma vez que seu homem de confiança, Dave Sardy, estava indisponível.

Uma olhada no site do homem mostra que já há shows marcados até o fim de 2015, em países como Inglaterra, Alemanha, Japão, México, Canadá, Espanha, entre vários outros, além de participações agendadas em grandes festivais do verão europeu, como Benicàssim e T In The Park, mostrando que o mundo está de olhos e ouvidos atentos a esta versão atualíssima, desencanada e surpreendente do Gallagher mais velho. Pelas primeiras canções que ecoam pela internet nos últimos meses, Noel promete vir com várias criações com um confortável “dejá ouvi”, mas que apontarão para o futuro. A conferir.

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MARCADORES: Artigo, Redescobertas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.