Nujabes – A Nostalgia de um Beatmaker

Disco “Modal Soul” do produtor japonês permanece como um dos melhores e mais desconhecidos discos de Hip Hop de todos os tempos

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Nujabes – Modal Soul

Chega a ser curioso relembrar um disco tão marcante no Hip Hop quanto Modal Soul, primeiramente por se tratar de Nujabes, talvez um dos maiores beatmakers da história ao lado de J. Dilla. Um nome que simplesmente permanece no esquecimento ou desconhecimento de muitos por vir de um país que não é famoso no gênero, o Japão. Peculiar também pois sua música sempre trouxe um ar nostálgico, inerente e característico, que torna o exercício de relembrá-lo igualmente nostálgico: tratamos de um sujeito que ficou no passado, abraçou uma atmosfera de outras tempos e que agora traz sempre a mesma sensação quando é ouvido ou lembrado. Aquele gosto amargo de pensar que as coisas poderiam ter sido diferentes.

Jun Seba morreu tragicamente em 2010 após um acidente de carro em Tóquio, deixando pra trás um legado que certamente marcou e deixa saudades. Sua curta discografia emanou o espírito da mistura de Jazz com Hip Hop, famosa nos anos 1990, mas de uma forma muito mais melódica e pouco agressiva, instrumental e precisa, algo que pode ser sentido no delicioso, Modal Soul de 2005, seu último trabalho lançado em vida.

Ao longo de catorze faixas, somos jogados a outro momento do estilo, um instante em que o seu lado Gangsta e mainstream dava as caras na América do Norte e parecia caminhar das periferias para o centro. No entanto, Nujabes sempre esteve envolvido com o Hip Hop e a cultura urbana que a abraçava o Japão: grafitti, B-boys e anime. Todos estes elementos se envolveram no som do produtor, a ponto dele criar uma sonoridade característica sua como poucos conseguem.

Seu envolvimento na trilha sonora do famoso desenho japonês Samurai Champloo deu-lhe as armas para poder explorar o Hip Hop à sua maneira e o auge de sua carreira passa pelos 62 minutos de Modal Soul, um disco tão delicioso de ser ouvido que chega a ser impossível pará-lo. Batidas fluem com perfeição através de samples retirados do Jazz, estilo tão apreciado pelos japoneses e que trouxe artistas extremamente inovadores à música, enquanto, ao mesmo tempo, rappers estrangeiros são colocados para versar e tornam esse álbum universal.

Estão presentes aqui Cise Starr, Akin, Dinah Washington, Substantil e Pase Rock, entre outros. São artistas na verdade desconhecidos e alternativos do estilo, mas que aqui se tornaram permanentes em nossa memória devido ao aspecto classudo e perfeccionista que Nujabes incorporou neste rico trabalho. Faixas como Feather, Ordinary Joe e Eclipse permanecem no inconsciente dos amantes e produtores de Hip Hop e chega a ser triste pensar que sua vida acabou tão cedo. Quais outros desafios poderiam aparecer na frente do produtor? O que ele poderia estar fazendo hoje? Em tempos atuais, em que Kendrick Lamar lança um complexo e psicodélico disco de Jazz com Hip Hop, Nujabes já tinha tal conceito na cabeça e o estava lapidando aos poucos. Sua ausência é nostálgica sim e nos faz infelizmente olhar para um presente que não pode mais acontecer devido as fatalidades da vida. Que ao menos seu espiríto possa ser lembrado através de sua arte e que Modal Soul possa ser lembrado como um dos melhores discos de Hip Hop de todos os tempos.

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ARTISTA: Nujabes
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.