Tricky: “Faço por Amor”

De volta ao posto de independente, músico comenta carreira e Mallu Magalhães durante passagem por SP

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Em sua primeira passagem pelo Brasil, o músico tirou uma horinha para sentar com alguns representantes da imprensa independente em seu hotel, em São Paulo. Com um copo de cerveja nas mãos e muita simpatia (que mostrava o quanto ele estava realizado com a vinda ao país), Thaws mostrou-se muito ansioso para conhecer o país durante seus shows: “Eu posso passar o dia conhecendo pessoas, mas é em um show que você conhece mesmo um país, naquela interação”.

Nossa terra sempre esteve na mira dele, mas só agora surgiu uma oportunidade concreta, para shows no Nublu Jazz Festival. Sobre as tentativas de vir antes, ele comentou: “As coisas nem sempre davam certo e às vezes eu não posso pagar pra ir a algum lugar”. “Eu não sou uma grande estrela”, explica, “grandes artistas ganham muito dinheiro com turnês. Eu não, às vezes eu perco dinheiro fazendo shows. Eu faço por amor. Não vim ao Brasil pelo quanto me pagaram. Pra ser sincero, eu ganharia mais grana fazendo um remix”.

Engana-se, porém, quem acha que ele comenta isso com algum teor negativo na fala – não mesmo. Tricky é um artista que tem muita consciência de sua condição como tal e possui muito mais ambições criativas do que materiais – “Fico feliz por poder gravar”. Seus olhos arregalados e a linguagem corporal garantem: Ele está mesmo empolgado por poder tocar no país, tanto quanto está satisfeito por ter voltado a ser um músico independente.

Ele explica que, enquanto era artista do selo Domino Records, perdia muito tempo quando finalizava uma demo e precisava esperar autorização do dono da empresa para mandá-la para a mixagem. “Como ele saberia se estava pronta pra mix? Ele nunca fez um álbum antes”, comenta, “eu não estava nem aí pro que ele pensava da música, mas ele tinha o cheque”. Foi com essa grana que ele comprou uma casa para Martina Topley-Bird e pagou pelos estudos da filha que os dois tiveram juntos.

É interessante como o assunto “dinheiro” vai e vem na conversa, mais ou menos como acontece também com vários outros artistas independentes no Brasil. Thaws fez a escolha de permanecer ativo em sua criatividade de uma maneira mais orgânica, espontânea, sem ter que depender dos recursos. “Eu ainda tenho o mesmo equipamento de vinte anos atrás”, revela, “meu estúdio é bem pequeno, vai daqui até ali (mede a mesa com as mãos), no meu apartamento” – que mais tarde ele revelaria rindo que não tem móveis.

“E eu nem sei o que estou fazendo”, brinca. “Uma vez, nas gravações de Aftermath, um flautista me disse ‘tem duas notas fora juntas. Isso não é correto. Na faculdade, nós não podemos colocar duas notas fora uma ao lado da outra’. E Björk uma vez me disse: ‘Nunca aprenda’. Eu estava pensando em fazer aulas de canto e ela disse: ‘Não faça isso. Você tem certa ingenuidade, então o que você faz é único. Se você aprender, você vai perder isso’. Então, eu não quero saber o que estou fazendo”.

Sobre futuros trabalhos, Tricky expressa interesse em vir gravar no Brasil. “Eu já conversei disso com meu empresário”, ele diz, “falamos de eu vir trabalhar com músicos locais. Há muitos percussionistas bons por aqui, eu adoraria trabalhar com um baterista brasileiro. Conversamos sobre eu vir fazer um álbum aqui”.

Uma primeira experiência com músicos brasileiros aconteceu recentemente, com uma parceria com Mallu Magalhães, que regravou duas músicas suas: Something in the Way e Nicotine Love, essa última em uma versão acústica com letra em português, ainda não lançada. “A voz dela toca minha alma”, diz Thaws sobre a brasileira, que participará de seus shows no Brasil. “Quero trabalhar com ela de novo”.

Cheio de empatia pela música feita por aqui (e por toda produção mais sincera como a sua), Tricky segue firme em sua verdade como artista, algo que todos os que tiverem chance de vê-lo no Brasil poderão facilmente comprovar – e em breve, talvez, em uma temporada maior para novas músicas suas feitas em território tupiniquim.

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ARTISTA: Tricky
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.