Uma Semana Com El Trio de Omar Rodriguez Lopez

“Ciencia De Los Inutiles” é um dos discos mais bonitos (e improváveis) já produzido pelo músico

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Ciencia De Los Inutiles (2010)

Apesar de fã incondicional do trabalho de Omar Rodriguez Lopez, seja qual for o projeto, confesso que esse álbum passou em branco para mim por um bom tempo, até que uma amiga me relembrou de sua existência há algumas poucas semanas, período esse que passei, entre uma resenha e outra, dedicado a mergulhar cada vez mais fundo nesse viciante disco, que pouco tem a ver com as demais obras do músico – e talvez isso o torne tão fascinante para mim, e talvez para mais alguns fãs.

Para esse projeto, Omar uniu-se ao baixista Aaron Cruz Bravo e à cantora mexicana Ximena Sariñana. A formação mais enxuta rende à banda um som mais modesto, quase sempre acústico e guiado por melodias gostosas e pela penetrante e doce voz de Ximena. Por essa cara mais “voz e vilão” não é difícil colocar no grupo tags como Folk ou algum de seus subgeneros, mas não me parecem ser essas suas influências – ainda mais como músicas mais experimentais como Sabado. Trata-se mais de uma experimentação mais circunspecta e introspectiva do que um desdobramento da música Folk.

Ainda que mais “comportado”, o disco não nega ser um projeto de Rodriguez. Ele contempla alguns momentos de guitarras mais robustas e barulhentas, mas, ainda assim contidas, quando comparadas às de The Mars Volta ou At The Drive In, por exemplo – as experimentação às la Deloused In The Comatoriun de Miercoles não me deixam mentir.

Notou alguma coisa em comum nos títulos das faixas? Isso mesmo, elas tem os mesmos nomes dos dias da semana. O disco segue de segunda (Lunes) a Domingo (Domingo) – porém, originalmente não estava em ordem, como em sua nova versão -, guiando o ouvinte por belas e hipnóticas faixas, por uma semana amena em seu tom, mas extremamente densa em sentimentos. Essas canções circundam a temática amora, abordando-a quase como sua antítese. Desamor, solidão e o vazio que causa essa falta de amor são sentimentos trazidos aqui, chegando ao ponto das letras questionarem nossa própria existência.

Esse questionamento surge ao longo de todo o registro, mas é escancarado em Noche Dia – oitava música do álbum e única a não receber o nome de um dos dias da semana. Quase como um poema recitado ao som dos instrumentos de Omar e Aaron, a faixa se desenrola uma letra profunda, que divaga sobre nossas memórias, sobre o que nos trouxe até aqui, as pegadas que deixamos em nossa vida e as tantas mudanças que ocorrem conosco, de certa forma, sufocando nossas almas.

“Algo mas que es dificil es encontrar los pasados que queremos componer. Tanta pintura sobre la fachada desgastada impide y modifica la respiracion del alma, esa bestia sagrada que cambia para siempre y muy rara vez dormita”

Apesar de Omar Rodriguez dar nome ao projeto, quem brilha em Ciencia De Los Inutiles é Ximena. Ela é capaz de “empoderar”de sentimento as letras, carregando-as de um sentimento quase palpável – ouça Viernes e saberá do que estou falando. Em cada canção, essa “dose extra” de sentimentalidade é passada de forma diferente, com sua voz se moldando perfeitamente ao propósito de cada uma delas.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts