HEALTH: Advertências do Ministério da Saúde

Violento e agressivo som dos californianos retorna em 2015 em disco que promete perigosos encontros com a música Eletrônica

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O barulho nunca foi novidade na música. Do Rock’n’Roll ao Jazz, tudo já passou pela classificação de”insuportável aos ouvidos”. HEALTH é uma banda californiana sempre esteve lado a lado com tais adjetivos, mas conseguiu mesmo assim destaque ao abordar duas vertentes do Noise: a eletrônica e a elétrica. Logo, seu som foi caracterizado como contemporâneo e interessante, mesmo tendo pegado carona com um expoente dessa vertente Eletrônica: o Crystal Castles.

Aliás, foi a partir de um remix da dupla para a faixa Crimewave, presente no auto-intitulado disco de estreia de HEALTH, que as coisas começaram a aparecer para o quarteto. No entanto, uma simples audição pelo trabalho não nos mostra muita coisa além da sensação de uma atitude “faça você mesmo” misturada à distorção. Cortes secos instrumentais são adaptados à acessibilidade de vocais melódicos quase preguiçosos e conseguem unidos criar uma identidade estética que chama muita atenção.

Não, não é som mais fácil de se ouvir, por sempre tirar o ouvinte de pontos de equlíbrio e zonas de conforto. No entanto, em Get Color (2009), as coisas pareciam caminhar para novos voos mais espetaculares. O peso percussivo de faixas como In Heat eram adicionados a doses agudas de guitarras e vocais subliminares, quase escondidos por trás do Noise Rock. A produção mais elevada é sentida nitidamente ao longo do disco e algumas músicas mostraram o verdadeiro potencial da banda, como a Industrial Die Slow, a Eletrônica Death+ e perturbadora Before Tigers. Saía da comparação com o gritante Crystal Castles para se formar uma identidade em um som de difícil caracterização, sendo HEALTH uma verdadeira advertência do Ministério da Saúde – um aviso que, ao atravessar essa linha sonora obscura, as coisas não seriam mais as mesmas.

Todo esse toque violento e sinistro do quarteto serviu de abertura para que outros projetos fossem alcançados nesse hiato de quase seis anos sem um novo disco. A trilha-sonora do jogo Max Payne, por exemplo, foi a combinação ideal para um game que retrata a violência urbana sem o menor repúdio ou censura, de maneira crua e bruta. Ao ouvirmos a trilha, podemos muito bem nos ambientar na cidade em que se passa o jogo: São Paulo (caótica, agressiva e solitária). Nada mais propício para ser feito por uma banda que tangiu o ambiente urbano com muito barulho, algo comum nas grandes cidades.

Ao lançar sua nova faixa, New Coke (primeiro material inédito nos últimos três anos), assim como anunciar seu terceiro disco, Death Magic, os olhos voltaram a se atentar ao grupo. Se obviamente uma evolução natural passou pela sua discografia, o novo single aproximou-lhe da música eletrônica como jamais havia feito – não só através de texturas, mas batidas e uma atmosfera ainda mais caótica. Tal flerte parece ser o caminho certo para que o grupo possa construir o ambiente épico que nunca conseguiu fazer: o som do single é muito mais alto do que em qualquer outra faixa de sua carreira, ao mesmo tempo em que a voz não se esconde mais e parece querer ser menos coadjuvante.

Nos deixa curiosos para saber como as novas advertências no verso do disco irão nos alertar sobre os perigos de se ouvir o som violento de HEALTH, uma banda que obviamente não faz bem para sua saúde, mas é viciante como uma droga sintética. Curiosamente, o grosseiro novo vídeo nos mostra a frase “live is good” e ao fim, um telefone para buscar ajuda em caso de necessidade. Seria a consciência dos jovens batendo na porta ou simplesmente um aviso do que virá por ai? De qualquer forma, o barulho tem o lugar certo no ano de 2015 e ele virá desses californianos.

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ARTISTA: HEALTH
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.