Videoclipes: Tecnologia e Vanguarda a favor da Música

Evento em São Paulo propõe olhar sobre o que já foi feito e até sobre futuro da linguagem

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A cultura de videoclipes desenvolveu-se ao lado da tecnologia desde sua propagação, na década de 1980, e, como todo produto cultural, revela muito de seu tempo. Como anda hoje essa linguagem?

Essa é uma das perguntas que o Music Video Festival (ou m-v-f-) parece responder neste fim de semana em São Paulo. Sediado no Museu da Imagem e do Som (MIS), com entrada gratuita, o evento promove debates, intalações e exibições de clipes no telão (inclusive com algumas estreias exclusivas), além de pocket shows de músicos como Thiago Pethit, Mahmundi e Barbara Ohana.

Há também, como nos dois anos anteriores do festival, um espaço para premiação dos videoclipes que se destacaram na última temporada. “Não necessariamente os melhores clipes são das melhores músicas, e vice-versa”, explica Duda Leite, um dos curadores da mostra, “o Music Video Festival é um festival dedicado ao videoclipe, esse é o nosso foco principal”. Ele comenta também ter ficado impressionado com a qualidade dos 400 vídeos inscritos.

“Sinto que existe uma nova energia no meio, e mais liberdade”, revelou o diretor australiano Daniel Askill ao Monkeybuzz, que estará presente no evento para um debate e para uma instalação imersiva sobre seu trabalho com a cantora Sia nos clipes Chandelier, Elastic Heart e Big Girls Cry. “As pessoas podem sair por aí e colocarem suas ideias em prática”, comenta ele sobre o processo de fazer clipes hoje em dia, “é como escrever um livro: Não há limites para a história que você quer contar. Antes, você precisava ter acesso a bom equipamento e dinheiro para a produção. Hoje, dá pra fazer slow motion até no seu telefone”. “A evolução da linguagem está diretamente relacionada com as novas possibilidades tecnológicas”, esclarece Duda.

Essas mudanças vindas da tecnologia cotidiana também possuem um impacto na maneira com que os vídeos são vistos, não apenas produzidos. Para o norte-americano Jonathan Wells, do coletivo FLUX (também na curadoria do evento), “todos amam música e sua combinação com vídeo é cada vez mais frequente porque todos os nossos dispositivos tem tela”. Para ele, “um clipe de três ou quatro minutos é o conteúdo perfeito para as pessoas consumirem. Agora é a hora de poder levar isso ainda mais longe”.

Essa é justamente uma das ideias do m-v-f- nesta edição, que traz o vídeo deStonemilker, da islandesa Björk, em uma experiência de realidade virtual. Mais uma vez, tecnologia e videoclipe caminham juntos tanto na produção, quanto na maneira de acesso ao conteúdo.

Sobre a tecnologia na história dos clipes, essa linguagem se desenvolveu com o advento das câmeras de vídeo portáteis (na década de 1980, mesma época em que surgia a MTV), o que conferia maior mobilidade não só para deslocar a equipe, mais também para a câmera se mover. Com o tempo, nomes como Michael Jackson serviram de “cobaias” para experimentos de efeitos visuais que foram usados depois amplamente no cinema e na publicidade.

“O vídeo que The Daniels fez para DJ Snake (Turn Down for What) é engraçado e usa os efeitos visuais para apoio à história”, explica Wells, “não são só efeitos legais, são intrínsecos à narrativa. O vídeo dá apoio à faixa e eles elevam juntos todo o projeto”.

Para o Music Video Festival, foram escolhidas participações de bandas e artistas que trabalham com isso em mente, como Pethit, que “fez ótimos clipes desde o começo da carreira”, explica Duda Leite. A presença dos novatos, como Apollo, Jaloo e Barbara Ohana, se justifica não só pelo bom trabalho que eles vem desenvolvendo, mas pelo quanto suas criações, em música e vídeo, são contemporâneas.

“O que eu acho mais interessante atualmente, não só na música, mas em todas as artes, é que o ‘novo’ convive em perfeita harmonia com o ‘velho’”, explica o curador e conclui que “não podemos negar a história do que veio antes, nem que seja para transformar isso em algo novo”.

No caso específico de videoclipes, ainda estamos na terceira ou quarta década dessa linguagem – ou seja, ela ainda tem muito o que se desenvolver – e podemos hoje testemunhar suas mudanças em tempos passados e na nossa época. Após este fim de semana, contudo, poderemos contemplar melhor também o futuro.

Music Video Festival

Dias 6 e 7 de junho
Museu da Imagem e do Som (MIS)
Avenida Europa, 158 Jardim Europa
Entrada gratuita – Retirada de senhas para os debates com uma hora de antecedência Para programação completa, acesse a página do evento no Facebook

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MARCADORES: Exposição, Festival

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.