Quem é Jim O’Rourke?

Produtor e multinstrumentista norte-americana lança “Simple Songs”, álbum solo

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Pois é, pessoal. Jim O’Rourke está na área e, se alguém o derrubar, estejam certos que o juiz apitará o pênalti. Na verdade, a despeito da metáfora futebolística, Jim é um bom cara e merece nossa atenção. Este pequeno texto pretende te apresentar pelo menos uma parte da obra do sujeito, uma vez que O’Rourke é o que poderíamos chamar de “artista versátil” por natureza e opção. Mais que isso: sua origem é no campo da música erudita contemporânea, um estilo que pede ouvidos educadíssimos e uma percepção de que existe um universo musical em que noções como harmonia, melodia e estrutura são abstratas ou, simples e totalmente diferentes do que estamos habituados a ouvir por aí, nas nossas playlists pessoais e que fariam o seu artista predileto soar como uma caixinha de música. Produtor, colaborador, remixador, Jim O’Rourke também lança seus discos solo, digamos, mais convencionais. 2015 é um dos anos que assistem a um evento desta natureza, pois o homem está soltando no mercado o belo Simple Songs.

Nativo de Chicago e oriundo do meio acadêmico, Jim começou seus experimentos sonoros no início dos anos 1990. Nunca perdeu de vista a importância do Rock como ritmo musical, seja por conta de sua simplicidade estrutural – decisiva para fazer dele o escolhido pela juventude planetária ainda nos anos 1950/60, vencendo o Jazz – bem como pela capacidade de carregar discursos e pensamentos de forma rápida. Não por acaso, alguns anos mais tarde, mais precisamente em 2003, ele integraria um time de consultores para o filme Escola de Rock, no qual atuou especialmente na representação do aprendizado por parte dos alunos em relação ao significado do Rock para tradução da juventude e dos questionamentos que começam a surgir a partir dela. De fato, a virada do milênio foi o grande momento de O’Rourke como etiqueta de modernidade sonora aplicada à música Pop.

A chamada “Windy City” era um dos polos de inovação musical dos Estados Unidos no fim dos anos 1990. Jim integrava um obscuro grupo local chamado Gastr Del Sol como guitarrista, no qual ficaria até 1997. Além disso, produzia ocasionalmente algumas faixas para formações de amigos, como Bill Calaham, que, sob o nome Smog, costumava requisitar os serviços de O’Rourke no estúdio, ainda em 1996. Neste mesmo ano, Guided By Voices o recrutou para tocar em algumas canções do álbum Under The Bushes, Under The Stars e a colaboração com Smog tornou-se mais intensa, com maior visibilidade em gravadoras legais como Matador e Domino. Em 1999 ele foi escolhido para produzir um dos melhores trabalhos de Superchunk, Come Pick Me Up, disco que projetou a banda para fora dos limites alternativos dos Estados Unidos. Tal fato atraiu várias outras formações que buscavam aliar modernidade e acento Pop.

Jim se viu produzindo álbuns e faixas para gente como Stereolab, High Llamas, Tortoise, Sam Prekop, Beth Orton e Sonic Youth, banda com a qual colaborou em trabalhos mais herméticos como Goodbye 20th Century, dedicado apenas à música erudita contemporânea, bem como em álbuns de carreira do grupo, inaugurando sua participação no bom NYC City Ghosts And Flowers, de 2000. Logo em seguida viria o trabalho mais polêmico do sujeito, a produção e mixagem de Yankee Hotel Foxtrot, álbum lançado por Wilco em 2002, após longa pendenga com a gravadora, que não aceitara a sonoridade impressa pela banda e seu produtor no disco. Jeff Tweedy e seus companheiros bancaram sua obra e decidiram iniciar uma campanha para lançamento independente, usando a internet como ferramenta de divulgação, algo extremamente novo para aquele início de século. Deu certo e O’Rourke seria chamado para produzir o álbum seguinte, A Ghost Is Born, em 2004.

Antes disso, a afinação estética com o pessoal de Sonic Youth o levou a aceitar convite e integrar a banda. O primeiro álbum que conta com sua participação é o interessante Murray Street, de 2002, que afirmou a entrada do grupo numa maré experimental e Pop ao mesmo tempo, que duraria até o lançamento seguinte, Sonic Nurse, de 2004. À esta altura, por conta da banda, Jim havia se mudado para Nova York e continuava produzindo e colaborando com muita gente mas, algo interessante aconteceu. Aos poucos, sem que notasse exatamente, o sujeito começou a considerar a possibilidade de morar fora dos Estados Unidos, mais precisamente, do outro lado do planeta, na capital japonesa. Beneficiário de um mundo em vias de conectar-se totalmente, Jim iniciou um longo período de viagens à Tóquio na busca de um visto permanente no Japão, processo que o levou a mudar-se para a cidade, lugar que, segundo ele declara em entrevistas raras, “é o único em que ele se sente realmente feliz”.

Apesar de dizer que não ouve tanta música hoje em dia quanto há alguns anos, O”Rourke segue trabalhando incessantemente. Colabora com projetos de Jazz experimental, grava discos-tributo a Burt Bacharach, famoso compositor americano de trilhas cinematográficas Pop, além de encontrar tempo para produzir seus projetos solo. Um bom exemplo dessa estética está num álbum lançado em 2009, The Visitor, que tem apenas uma composição com 38 minutos de duração, na qual Jim dispõe texturas e influências que vão do Pop setentista ao trabalho de Ambient Music de Brian Eno. Mesmo assim, há um elemento assoviável sempre presente nos trabalhos assinados por O’Rourke, sempre trazendo algum tempero para uma erudição que nunca é hermética.

Sendo assim, diretamente da Terra do Sol Nascente, turbinado por uma carreira que já dura mais de duas décadas e imerso em formatos usuais de canções, ou seja, com duração variando de quatro a seis minutos, Simple Songs é o novíssimo trabalho deste discreto e introspectivo mago dos estúdios. Você sabe que a resenha surgirá neste mesmo site em questão de pouco tempo, enquanto isso, dê uma geral nessas sugestões de bandas, álbuns e canções que levam a assinatura do sujeito.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.