Entrevista: Dônica

Primeiro álbum da banda, “Continuidade dos Parques”, foi tema da conversa

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Após dois shows de lançamento em um mesmo fim de semana no Rio de Janeiro, a banda Dônica colocou no mundo o disco Continuidade dos Parques, seu LP de estreia com onze faixas que revelam suas referências nostálgicas e livres, que resultam em um som com as mesmas características.

Foi esse o assunto do bate papo por telefone com José Ibarra (teclado e voz) e Lucas Nunes (guitarra) há poucos dias. Os dois carregam empolgação e humildade no tom de voz ao comentar o sucesso do lançamento e as inspirações em suas composições.

Monkeybuzz: Como vocês estão sentindo o lançamento do disco?
José Ibarra: Tá sendo uma surpresa. Algumas músicas que a gente achava que seriam totalmente lado-B do disco, ou que as pessoas não dariam atenção, são as mais vendidas e comentadas nas plataformas digitais. Foram músicas que, por serem “lado-B”, a gente trabalhou muito nelas pra elas se tornarem um pouco mais acessíveis e acabou que elas superaram todas as expectativas. E do disco como um todo, as pessoas estão falando muito bem, estão sentindo muitas coisas, muitas lembranças, muitas fusões de estilo – enfim, é o que as pessoas falam. Mas tá muito legal, muito gratificante, e a gente tá muito feliz.

Mb: Um primeiro disco acaba sempre marcado como a grande identidade da banda. Isso era algo com que vocês se preocupavam ao fazê-lo?
José: Eu acho muito complicado esse tema porque, quando a gente começou a compor e tal, a gente nunca imaginou que faria um disco. Essas músicas que estão no disco foram compostas em um período de tempo esparçado e são completamente diferentes. Quando a gente se viu nessa tarefa de “dar ao disco uma cara” ou um tema, a gente percebeu um problema ali, porque seria muito difícil encontrar um tema pra uma coisa que… que não tem, entendeu? Que foi feita por inspiração, por circunstâncias, por uma espontaneidade. Então, nosso disco tem muito mais um contexto sonoro. A gente tentou usar elementos, texturas, pra tentar chegar em alguma coisa, mas eu acho que não chegou. O disco é uma “suruba”, uma coleção de músicas nossas que dialogam muito conosco, mas talvez não muito entre si. É um disco de um contexto de arranjos, do processo de feitura da música ou a música em si.

Mb: Tenho a impressão que quem ouve o disco sente isso, essa questão muito mais estética do que temática. Tanto é que, como você falou, os comentários estão indo bastante para esse lado, né?
José: Sim, não existe um tema lírico no disco, cada música fala de uma coisa. A identidade sonora… Dá pra ver que é a gente, umas pessoas conseguem dizer “ah, isso é Dônica”, mas não pelo timbre de não sei o que, mas pelo arranjo, pela estrutura da música.

Mb: Ainda nesse assunto, o quanto essas escolhas para a sonoridade da banda foram espontâneas e quanto elas foram pensadas, decididas previamente?
José: Os dois, mas tem uma ordem. Primeiro, o que a gente deve fazer e, depois, deixar solto. Tem muito pensamento por trás ali, juntando muitas coisas, sabendo o que funciona e o que não funciona, daí a gente parte pra inspiração, a liberdade da jam pra criar. Por exemplo, eu chego pro Lucas e falo “nessa hora, podia ter uma parada tipo assim la la la la la” (canta), aí ele saca a minha intenção estrutural com aquilo e faz uma melodia. Mas, sim, é tudo muito bem pensado.

Mb: E conta aí, como foi gravar com Milton Nascimento?
José: Foi ótimo, foi emocionante. No começo foi um pouco constrangedor, ele ficou um pouco calado, estava com alguns problemas de saúde, e a gente com um pé atrás pela mistificação do cara, mas quando ele começou a soltar a voz… Foi sinistro. Lucas Nunes: Teve uma hora em que ele ficou sozinho na sala e ali a gente enxergou o Milton que imaginava ver mesmo. O cara tem uma inspiração que vem de não sei onde e começa a fazer vozes da cabeça dele, ele tem as anotações dele. Todos nós ouvimos muito Milton, Clube da Esquina e tal. Foi muito bonito.

Dônica

Monkeybuzz: Vocês observam mais bandas nessa pegada estética, ou se sentem desbravando algum território sozinhos hoje em dia?
Lucas: Eu não vejo muita gente fazendo especificamente o que a gente tá fazendo, não acho que isso seja um movimento, mas vejo pessoas fazendo coisas diferentes muito boas, entendeu? Cada um na sua vertente.

Mb: No meio dessas coisas muito boas que as pessoas estão fazendo, quem vocês acham que vai parar pra ouvir Dônica?
José: Depende de como você vai escrever esta entrevista (risos). Não temos um “alvo”, o nosso público é muito diversificado. Lucas: O engraçado é que a galera jovem vem comentar “vocês são muito bons, tocam muito bem, suas músicas são bonitas”, já a galera mais velha fica impressionada com as influências, com como a gente está fazendo hoje uma parada diferente também do que fizeram há 30, 40 anos. Por isso que eu não sei dizer quem é nosso público. José: É quem quiser ouvir.

Mb: O que vocês mais gostam na música autoral brasileira hoje?
Lucas: Uma banda que a gente adora é Mara Rúbia. Baltazar também. As duas são muito boas que tem composições próprias e prometem pra música popular brasileira. José: Criolo eu acho um cara bem importante. Tem a Dingo Bells, do Rio Grande do Sul, que eu ouvi e achei tão bom. Baleia, que é daqui do Rio também e tem muita personalidade.

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ARTISTA: Dônica
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.