A Segunda Vez de Lianne La Havas

Cantora inglesa prepara-se para lançar segundo álbum

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Se você estava atento/a/x ao que acontecia no planeta música nos últimos anos, percebeu uma voz sutilíssima surgindo ao longe. Se parou para ouvi-la, encantou-se com sua doçura, com um certo tipo de fragilidade elegante e cosmopolita, uma vulnerabilidade natural, mas vencida pelo canto. A dona dessa voz aveludada chama-se Lianne La Havas, natural de Londres, filha de pai grego e mãe jamaicana, que emigraram para a capital britânica há tempos. Lá, em meio ao vai e vem da diáspora negra e das rotas urbanas da Europa, Lianne cresceu e tornou-se uma das mais promissoras cantoras de sua geração, voltando agora, após três anos desde sua estreia, para lançar o aguardado segundo trabalho, batizado de Blood.

O grande barato de Lianne é que seu interesse num tipo particular de Soul Music setentista é bem raro. Enquanto muitos artistas centram fogo na vertente “rápida” do estilo, voltada para a dança e para os ritmos mais explosivos, a jovem procura revisitar terrenos chuvosos e melancólicos delimitados por gente pouco conhecida como Terry Callier, Van Morrison e Tim Buckley. Gente não necessariamente voltada apenas para a Soul Music, mas que visava uma interseção dela com Folk e a busca espiritual por algo maior, mais transcendente, atingindo resultados que são inegavelmente Soul, num sentido, digamos, divino. Após um início de carreira em shows noturnos acompanhada por músicos que eram, ao mesmo tempo seus amigos, Lianne chamou a atenção da toda poderosa Warner Music, através de seu selo especial para música nova, o Nonesuch. Uma vez contratada, a moça teve tempo para burilar composições e definir seu estilo. A menina cresceu num lar musical, onda a mãe ouvir até furar os álbuns de Erykah Badu e Jill Scott, enquanto o pai exercitava suas habilidades de multinstrumentista ao piano e guitarra. Com ele a jovem aprendeu os primeiros acordes no violão.

Apesar da influência dos pais, eles logo se separaram e Lianne se viu passando a maior parte da adolescência na casa dos avós, cursando escola de artes e aprofundando seus conhecimentos musicais, inicialmente como diversão, depois, como seu caminho natural para expressar-se. Após algumas apresentações com o pessoal da escola, Lianne foi apresentada à cantora inglesa Paloma Faith, logo se tornando vocalista de apoio. Nesta época aconteceu a aproximação da gravadora, resultando na contratação e no tempo dado para definir repertório e estilo, devidamente aproveitado por ela para fazer gravações, que resultaram no EP Lost And Found, lançado em 2011, com destaque a impressionante No Room For Doubt, dueto com Willy Mason, cantor e compositor Folk americano. No mesmo mês, Lianne lançou outro EP, desta vez ao vivo, chamado Live From LA, debutando na televisão inglesa no show de Jools Holand em outubro do mesmo ano.

A partir daí, a agenda de shows da moça cresceu exponencialmente até o lançamento do primeiro álbum, Is Your Love Strong Enough?, em julho de 2012, para deleite de uma crescente base de fãs. O disco teve boa rotação nas rádios europeias, com destaque para No Room For Doubt (que se tornou seu carro-chefe), Forget e Lost And Found. Em meio à exposição que se seguiu, com Lianna tocando em festivais de verão como Glastonbury e Isle de Wight, a moça se viu cativando fãs ilustres, sendo Prince o mais entusiasmado deles. Não satisfeito em convidá-la para participar de seu mais recente álbum, Art Official Age (nas músicas Clouds, Wau Back Home, Affirmation I,II e Afirmation III), o Anão Púrpura de Minneapolis escolheu a sala de estar do apartamento de Lianne para um pocket show, para o qual convocou a imprensa visando anunciar a perna europeia de sua turnê, especialmente os shows na Inglaterra.

Mesmo com o trabalho colaborativo com Prince e participações em álbuns de Alt-J e Aqualung, Lianne não interrompeu a turnê de seu próprio disco de estreia. Quando o fez, no início de 2015, foi para empreender uma viagem com a mãe à Jamaica, em busca de inspiração em suas origens. Esta é uma pista valiosa do que podemos esperar em Blood, seu aguardado segundo álbum, que conta com a produção do Stephen McGregor, especialista em Dancehall, ritmo local que mescla dança e discurso, algo como uma realidade parelela ao Rap americano. O primeiro single, Unstoppable, foi lançado em junho no Reino Unido, antecipando o lançamento do disco, mas Lianne já está na estrada desde maio, divulgando o novo trabalho e se preparando para tocar nos festivais do verão europeu ao iniciar nova turnê de divulgação. A julgar pelo primeiro single, Blood é mais Soul que Folk, com especial atenção a levadas modernas de baixo e bateria, acenando para uma guinada estética na carreira. Mesmo assim, num terreno em que enfrentará mais competição, Lianne surge com desenvoltura e propriedade, mostrando que tem talento de sobra para manter sua identidade sob nova roupagem.

Você verá mais sobre o novo trabalho de Lianne La Havas por aqui em breve. Enquanto isso, ouça o primeiro álbum da moça, audição mais do que recomendada.

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MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.