Tradição E Novidade Com Foals

Quinteto inglês se prepara para lançar o quarto disco

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Agosto próximo é o mês de lançamento de What Went Down, quarto disco do quinteto inglês Foals. A banda tem menos de dez anos de carreira, tendo surgido em Oxford, lá pela metade da década passada. Uma olhada mais apurada na tradição da cidade inglesa vai apontar para a badaladíssima Universidade de Oxford, tradicional instituição britânica de fama mundial, que tem em Bill Clinton, J.R.R Tolkien, Lewis Carroll, C.S Lewis e Manfred Von Richthofen, mais conhecido como Barão Vermelho, alguns de seus alunos ilustres através dos tempos. Como toda boa cidade universitária, Oxford tem, acima de tudo, uma população jovem e a par da produção artística mundial, independente da carreira escolhida. Dona de uma cena de bandas bastante fértil, na qual surgiram Radiohead, Supergrass e Ride, apenas para mencionar algumas, a cidade é, por assim dizer, uma belezinha. Honrando essa tradição artística e intelectual, Foals é a melhor aposta surgida por lá nos últimos tempos.

No início de carreira, lá por meados dos anos 2000, a banda foi logo inserida num rótulo estranho, o Math Rock, que é, nada mais que um estilo que utiliza-se da imprevisibilidade dos acordes e progressões como seu principal modus operandi, criando sequências e métricas incomuns. Me parece certa redundância para termos como “originalidade”, mas tudo bem. Foals surgiu como um conceito interessante: era uma formação crítica aos sons difíceis e progressivoides (no pior sentido do termo) que estavam assaltando as bandas da cena local. O guitarrista Yannis Philippakis e o baterista Jack Bevan eram integrantes de um grupo chamado Edmund Fitzgerald, que preferia rezar na cartilha das firulas instrumentais, em vez de compor canções mais diretas. Os dois, mais o vocalista Andrew Mears, o guitarrista Jimmy Smith e o baixista Walter Gervers decidiram montar um outro grupo. Mears só durou um single à frente de Foals, deixando a banda logo após gravarem Try This On Piano em 2006. Philippakis assumiu assim os vocais, deixando o conjunto com a formação que dura até hoje.

A estreia foi em 2008, com o lançamento do bom Antidotes. Mais que o tal “Math Rock”, a banda apresentava uma boa mistura de conceitos de Rock “mais difícil”, principalmente a partir de grupos como Gang Of Four e Talking Heads, gente que teimou em criar uma vertente que se abastecesse de informações negras (via Funk) e mulatas (do próprio Rock), além de manter um olho nas experimentações eletrônicas que aconteciam naquela segunda metade da década de 1970. Talvez daí venha a confusão com o DNA Progressivo, uma vez que o estilo modernizou-se nesta época com estas mesmas informações, substituindo o instrumental pomposo e barroco dos 1960. Foals incorporou essas diretrizes sonoras e as trouxe para seu tempo, revestindo-as com urgência e objetividade, chegando numa sonoridade própria e bastante eficiente. Sucessos como Mathletics e Hummer surgiram ainda em 2007, nos programas mais alternativos da BBC e em séries da TV estatal inglesa. A recepção foi tão boa que a banda decidiu investir economias e rumar para Nova York, onde entrou em estúdio com David Sitek, guitarrista e produtor de TV On The Radio, mas o resultado não foi como o esperado. Antidotes foi lançado com a produção do próprio Philippakis, num movimento que mostrou-se acertado.

Mesmo com essa simplificação musical, Foals nunca deixou de ser uma banda “intelectual”, composta por nerds, ainda que tudo isso soe naturalmente, sem qualquer afetação ou indício de que esta ou aquela canção são “piadas internas” entre os integrantes e seu público. O segundo disco, Total Life Forever, lançado em maio de 2010, manteve essa proposta, porém com a preocupação de tornar a sonoridade mais apropriada para grandes espaços e credenciar Foals como uma banda capaz de tocar em estádios. Gravado na Suécia e produzido por Luke Smith, o disco deixou de lado muito do sangue nos olhos inicial em favor de uma canção dançável, porém mais pensada e climática. Um movimento natural de uma formação em desenvolvimento, algo que pode ser percebido em canções longas como Black Gold, After Glow, Blue Blood e o sucesso Spanish Sahara, esta última com quase sete minutos de duração.

O interessante em Foals é sua capacidade de reinvenção sem abandonar suas fundações. Para o terceiro trabalho, Holy Fire, a banda escolheu Flood e Alan Moulder para a produção, logo eles, responsáveis por álbuns marcantes de grupos noventistas como Nine Inch Nails e The Smashing Pumpkins, além de assumirem a paternidade de mutações sonoras interessantes em grupos como Depeche Mode a partir de 1990. O que poderia parecer descabido para uma formação de Rock nos anos 2010, ou seja, revitalizar a sonoridade Punk Industrial enguitarrada que Flood e Moulder levaram adiante há mais de vinte anos, tornou-se escolha apropriadíssima. O resultado foi materializado num álbum que pisou fundo na estética Pós-Punk, um território amplo e acolhedor no qual as próprias bandas inspiradoras de Foals, Talking Heads, Gang Of Four, entre outras, se inseriram e buscaram abrigo desde o início de sua trajetória. Se atualmente a sonoridade só existe como tendência ou exercício de estilo, Foals soube, novamente incorporar essas tintas à sua paleta sonora, gerando um trabalho mais pesado e soando menos calculado que seu álbum anterior. Prova da eficiência de Holy Fire veio na boa performance do disco nas paradas inglesas e na eleição do single Inhaler como o melhor de 2013 pelo semanário NME.

Para o mês que vem, quando What Went Down verá a luz do dia, fica a expectativa. A banda retornou à sua cidade natal, justamente em busca de inspiração para escrever as canções do disco. Será que Foals ensaia um retorno às sonoridades iniciais? Ou Philippakis e sua turma estão com mais ases nos bolsos do colete? Estamos de olhos e ouvidos atentos e vamos te informar de tudo. Até lá, aproveite para entrar no clima reouvindo os belos três lançamentos da banda.

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ARTISTA: Foals
MARCADORES: Novo álbum

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.