“Love & Mercy” – Cinebiografia Ou Adaptação?

Filme sobre Brian Wilson estreia em agosto

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Os fãs de Brian Wilson e de The Beach Boys estão em polvorosa ao redor do planeta: estamos às vésperas da chegada de Love & Mercy aos cinemas do mundo. O filme, você deveria já saber, é a mais nova bisbilhotada na conturbada trajetória de Wilson e sua banda, The Beach Boys, tentando entender e explicar os motivos que levaram o sujeito a perder totalmente o controle de sua vida a partir de 1967, permanecendo numa gangorra emocional e esquizofrênica por mais de vinte anos, quando começou a esboçar sinais de recuperação. O filme promete mostrar boa parte desse momento da vida de Brian, quando ele, em 1988, conhece sua segunda esposa, Melinda, que irá, aos poucos, influenciá-lo e levá-lo de volta ao convívio de amigos, família e tudo mais. E por que diabos isso teria acontecido?

Tal explicação, esperamos, vem lá dos anos 1960, época que o filme também vai mostrar, especialmente a partir das gravações de Pet Sounds, disco de 1966, no qual The Beach Boys abriu mão do sucesso consolidado nas paradas de sucesso americanas em favor de uma sonoridade inovadora e meticulosamente pensada por Brian no estúdio, a partir do momento em que ele decide não mais excursionar com a banda. Os integrantes de The Beach Boys eram admiradores declarados das experimentações psicodélicas de The Beatles e iniciaram uma disputa não declarada através do lançamento de Pet Sounds, em maio de 1966, que seria uma resposta a Rubber Soul, álbum que o quarteto inglês lançara pouco tempo antes e que ampliara o leque estético do próprio Rock de forma decisiva e irremediável. Com o lançamento de seu disco, os rapazes californianos (Brian, na verdade) entraram uma espiral obsessiva de superar o que The Beatles propunham e tal situação ficou mais complexa quando o Fab Four soltou Revolver, em agosto do mesmo ano. Rezam a lenda e algumas declarações da época que Brian Wilson encarou o soberbo disco dos ingleses como um desafio e submergiu no estúdio com vistas a superá-los.

O disco a cumprir este papel seria Smile, cujas gravações não foram concluídas pela banda, pois Brian sofreu um colapso nervoso e não foi capaz de participar delas. Uma versão amputada foi lançada, Smiley Smile, que continha a principal faixa, já encerrada no estúdio, Good Vibrations, em pé de igualdade com qualquer coisa vinda dos estúdios de Abbey Road, onde a concorrência aguardava. O golpe de misericórdia foi dado com o lançamento de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band em junho do ano seguinte, dando fim a qualquer competição. Este é o primeiro momento do qual Love & Mercy pretende tratar, a piração do líder de The Beach Boys, sua reclusão, a loucura que veio em seguida e como ele lidou com isso.

Para essa primeira metade do longa, foi recrutado o ator Paul Dano, que já teve bons momentos na telona, sobretudo em filmes como Sangue Negro, 12 Anos De Escravidão e Pequena Miss Sunshine. A árdua missão de viver o jovem Brian à beira do precipício, convivendo com toda a carga emocional de sua vida até então, indo dos abusos sofridos quando criança por conta dos péssimos tratos despendidos por seu pai, Murray, até à eclosão de sua paranóia constituiu-se num grande desafio para Paul, que precisou aprender piano para desenvolver alguma sensibilidade musical mínima para dar veracidade ao papel.

A outra parte do filme fica a cargo de um trio de bons atores. John Cusack viver um Brian Wilson maduro, Elizabeth Banks interpreta sua futura esposa, Melinda Ledbetter e o ótimo Paul Giamatti vive o lunático (no mau sentido) psiquiatra Eugene Landy, que foi recrutado para cuidar da sanidade mental de Wilson nos anos 1970, desenvolvendo um relacionamento obsessivo com seu cliente, terminando por obter licença sobre suas composições e até assinar a produção de seu álbum de retorno, lançado em 1988, Brian Wilson. Este é o período em que a narrativa do longa vai pousar, deixando a sombra do jovem Brian para trás e vivenciando o resultado daquela doideira total que se insinua vinte anos antes.

Há expectativa de sobra em torno do quanto de verdade será exposto na tela, principalmente se Cusack, que não tem qualquer semelhança física com Brian, será capaz de honrar a escolha do diretor Bill Pohlhad, que já produziu filmes como Brokeback Mountain e Na Natureza Selvagem. Para a trilha sonora foi recrutado o compositor inglês Atticus Ross, que já trabalhou com gente como Trent Reznor (Nine Inch Nails) no score de Millenium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, que aceitou de cara o convite para fazer algo que esteja na mesma sintonia ensolarada das canções que Brian sempre compôs.

Estamos ansiosos pela estreia do longa no Brasil, prevista para algum momento do mês de agosto e daremos notícias, porém é bom alertar que a trajetória de Brian Wilson fala por si, assim como a de The Beach Boys, que não contaram com sua presença por muitos momentos a partir de 1967, mas, mesmo assim, foram capazes de compor e lançar várias canções memoráveis, em discos que não deixam nada a dever aos mais conhecidos da banda. O trabalho solo de Wilson também é importante e cheio de acertos, foi quando ele liberou sua mente para revisitar suas influências primordiais, indo de Walt Disney e George Gershwin, cujo trabalho prestado à composição de uma música popular norte-americana do século 20 é inestimável e a quem Brian prestou tributo em discos especialmente dedicados. Não é exagero dizer que Brian Wilson está no mesmo nível de Paul McCartney quando falamos do mais importante compositor e mente pensante do Rock desde sempre.

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MARCADORES: Filme

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.