Marcelo Camelo: Solo e Bem Acompanhado

Primeiro álbum do carioca sem Los Hermanos traz boas parcerias e sua identidade aflorada

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Fotos: Caroline Bittencourt

Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

**Sou***

Se todo fim é também um começo, Los Hermanos lançou 4 e, três anos depois, Marcelo Camelo assumiria uma carreira solo com o disco Sou, também conhecido, de forma justa, como Nós. Tendo em vista a obra do artista como um todo, trata-se, porém, de mais um capítulo no meio de sua trajetória, com mais alguns começos do que apenas a jornada em que seu nome figurava sozinho.

A ideia de continuidade está principalmente nos temas (romance e saudade tratados de forma introspectiva, principalmente) e melodias, que parecem consequência natural de seu trabalho prévio com a banda. A maior diferença está nos arranjos, muito mais voltados para o violão ou para o piano pouco acompanhados, o que gerou uma interpretação mais sussurrada do que Camelo apresentou em trabalhos como Ventura.

O tom melancólico, que era até então parte integral da identidade do músico, é o que fala mais alto do início ao fim do disco. Essa familaridade trouxe, mesmo com as diferenças apresentadas, uma forma dos fãs de Los Hermanos matarem suas saudades da banda. Afinal, mesmo quando em voz e violão, a sensação era de que aquele era o Camelo que todo mundo conhecia.

No campo das estreias, Nós marcou a primeira vez que vimos o carioca ao lado da banda paulistana Hurtmold, que aparece aqui em cinco das catorze faixas em uma parceria que seria retomada para todo o próximo álbum do músico, Toque ela. Foi também a primeira vez que Mallu Magalhães, com quem construiu, além da vida a dois, o projeto Banda do Mar, apareceu em um trabalho seu – e nem desconfiávamos o rumo que essa história tomaria.

Parece o plano ideal para lançar-se em uma carreira solo: Preservar parte da sua identidade para facilitar a adaptação dos fãs, apresentar formatos e climas que apontam a uma direção inédita e estar “solo”, mas nunca “sozinho” de tudo, sabendo escolher suas boas companhias.

Sete anos depois, músicas como Doce Solidão, Liberdade e Saudade (nas duas versões do álbum) figuram entre algumas das mais citadas do repertório de Marcelo Camelo como um todo, seja nas faixas que levam apenas o seu nome ou nas com alguma das bandas. Colocá-lo nessa perspectiva histórica faz pensar no que mais pode vir de sua autoria – e esperar isso com ansiedade.

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MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.