Entrevista: Boogarins

Vocalista revela detalhes do próximo álbum, “Manual”, e de seus próximos shows

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Tim

30 de outubro – Marque esse dia na agenda (ou onde quer que você marque os eventos importantes) para ouvir o segundo álbum da banda goiana Boogarins, que passou os últimos dois anos percorrendo o mundo em grandes festivais e pequenas casas de shows para promover seu aclamado primeiro disco, As Plantas que Curam.

Na semana em que liberou o primeiro single, Avalanche, para download, o vocalista e guitarrista Fernando Almeida (ou Dinho, como é conhecido), falou ao Monkeybuzz por telefone sobre as gravações analógicas do novo álbum (chamado Manual, ou Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos) e seus shows, como o que acontece nesta quinta, 27, no Centro Cultural São Paulo (com ingressos gratuitos, que devem ser retirados a partir das 17h na bilheteria do local).

Monkeybuzz: Como foi trabalhar nas músicas de Manual? Elas foram feitas na estrada ou vocês conseguiram parar e dedicar um tempo só para elas?
Fernando Almeida: Na real, tem umas músicas que a gente já toca há muito tempo, que a gente tinha desde que começou a tocar como banda mesmo. No começo de 2013, a gente já tocava Seis Mil Dias, é uma das primeiras músicas que a gente tocou nos ensaios. E tem algumas outras músicas que a gente foi fazendo na viagem, teve música que a gente fez no estúdio, até. Mas foi mais aquilo da gente estar na pilha do ao vivo e já estar tocando muitas delas, meio que aprendendo a fazer as músicas com reações de shows. Tem música que é muito tema instrumental que veio de jam que a gente fazia no show.

Monkeybuzz: Avalanche eu já tinha ouvido várias vezes em shows.
Fernando: Exato! A gente toca ela há muito tempo, mas ela foi meio que crescendo. A divisão que a gente tem dos momentos dela hoje é muito diferente do que nas primeiras vezes que a gente começou a tocá-la. No estúdio, foi muito doido, porque a gente conseguiu aproveitar muito do ao vivo, aquela coisa da dinâmica de gravar na fita mesmo, conseguir ir lá embaixo e depois, lá em cima, bem doido com tudo estourando na hora… Foi o que a gente mais conseguiu fazer, tem umas três músicas feitas lá (no estúdio), que são muito mais nessa onda. Isso de todo mundo estar tocando ali e tendo que abaixar, tendo que se ouvir, era muito louco.

Monkeybuzz: Vocês conseguiram sentir alguma influência no som de vocês das bandas que vocês conheceram durante as turnês?
Fernando: Não sei, a gente viu muito show (risos). Acho que, na época, a gente conseguiu ter uma influência de ideia de show vendo todos os que vimos. As bandas influenciaram mais o show do que o disco. Mas, ao mesmo, tempo, eu acabei de te falar que o disco é um espelho dos shows…

Monkeybuzz: Talvez seja uma influência mais indireta, então? Fernando: É, eu não consigo virar pra você e falar “Tal banda influenciou”. A gente tocou com Temples, of Montreal, com tanta gente antes de gravar o disco. E logo antes de entrar no estúdio, a gente estava no Primavera (festival na Espanha), que era muita banda todos os dias. Não consigo pensar o que a gente pegou de tal banda, mas nos deu uma nova percepção de shows, o que acaba mudando o jeito que você toca.

Monkeybuzz: Ainda sobre shows, como serão as próximas apresentações antes do disco sair? Vocês estão focando o repertório mais nas novidades ou no primeiro álbum?
Fernando: A gente meio que continua fazendo o show antigo, mas, no fim, nosso show é muito livre. Eu não enjoei ainda de tocar as músicas antigas, tô bem de boa (risos). A introdução que a gente toca, por exemplo, foi feita bem depois, quando o Ynaiã entrou – ela, na verdade, se chama Falsa Folha de Rosto -, mas a gente não toca ela inteira. A gente faz um meio a meio, toca uns negócios novos, mas não toca tudo. Tem muita música que a gente tocou nos primeiros shows e depois nunca mais, e que vão ser novas de novo. Isso do Ynaiã ter entrado, tanto mudou as músicas velhas quanto essas que agora são novas, mas na real são velhas e vão ser novas de novo. É engraçado estar tocando elas de novo agora, na verdade, é outro pique, outra cabeça, mesmo sendo a mesma música.

Monkeybuzz: Faz sentido, porque vocês viveram muito tempo em dois anos, né?
Fernando: Exato! E nesses shows agora, que ainda não são do novo disco, mas que a gente vai estar tocando coisa nova, a gente toca outras coisas também. Teve um show no Ibirapuera em que a gente tocou uma música que tinha acabado de fazer, aí o cara ouve e fala “então o disco vai ser assim”, mas talvez só o próximo do próximo disco seja. Ou não, porque na hora de gravar a gente vai estar em outra onda. A gente, de verdade, está bem “foda-se” pra esse processo de “ordem certa de fazer as coisas”. Mas, ao mesmo tempo, a gente respeita a coisa de tocar as músicas novas quando for a hora de fazer show do disco novo. Por enquanto, estamos dando uma “segurada” nelas.

Monkeybuzz: E como vocês estão lidando com isso de segurar as músicas? Fernando: É de boa, porque essas músicas não são tão novas. Nem pra vocês são novas, porque, como você falou, já conhecia Avalanche. Mas é massa, porque o bagulho já chega te agradando quando você ouve gravado – você já sacava mesmo (risos).

Monkeybuzz: Pra vocês, qual foi a diferença de pensar um segundo álbum em relação ao primeiro?
Fernando: Foi diferente, porque o Benke normalmente gravava e mixava tudo. Era muito mais fácil quando eu, no quarto dele, virava e falava “Ah, eu quero o som de não sei o quê”, era um caminho mais direto. A sintonia que você tem com seu amigo é diferente do que você tem com outro cara. E a gente gravando lá era uns equipamentos muito antigos, tudo equipamento analógico. Então, essa coisa do passar uma ideia era um pouco… não difícil, mas não era a mesma coisa que com o Benke. Esse exercício da conversa foi muito louco, essa coisa de desmontar ideias foi o que rolou, no fim das contas. A gente chegava às vezes com uma canção quase sólida, que a gente já tocava há um milhão de anos, mas, na hora de gravar no analógico e ouvia, mudava tudo. O cara no estúdio mostrava como funcionava o equipamento, porque, por mais que você tenha sua cabeça a mil por hora com um milhão de ideias funcionando, você tá na mão da máquina. E foi a primeira vez que a gente gravou sem olhar para a telinha do computador, você só escuta o bagulho. Foi como conversar sobre o mesmo assunto com outras palavras. Mas foi bem louco.

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ARTISTA: Boogarins
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.