Para Sondre Lerche, Estar no Brasil É “Um Sonho”

Após shows em Recife e Fortaleza, músico comenta suas influências e o álbum “Please”

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Fotos: Renate Madsen

“Algumas pessoas gostam de meninos, outras gostam de meninas. Eu gosto de música brasileira”, brinca o norueguês Sondre Lerche, “nasci assim”. Se a influência que o trabalho de Tom Jobim e outros artistas daqui sempre tiveram em suas composições foi citada em entrevistas desde que ele começou a carreira, em 2001, poder conversar sobre isso no Brasil significa estar cercado de pessoas que conhecem bem suas referências. “É como estar em uma terra dos sonhos que você não sabia que existia”, comenta o artista.

Essas frases foram ditas por ele durante uma conversa com integrantes da mídia independente poucos dias antes de sua apresentação no Popload Festival, em São Paulo, após já ter feito animados shows em Fortaleza e Recife no último fim de semana. Na terra de seus ídolos, Lerche promete caprichar nas performances acompanhado de mais dois músicos – “Meu baterista estudou percussão brasileira”, comenta, “então ele também deve tentar ‘flertar’ com o público”.

“Eu não conhecia mais ninguém aos 14 anos que ouvia Milton Nascimento”, conta o compositor, “mas eu não era um adolescente comum. Eu queria ficar em casa compondo enquanto ouvia Os Mutantes”. Para ele, a música sempre foi uma espécie de escapismo, primeiramente do “tédio de ter que ir para a escola sendo um garoto tímido e nada atlético que não conseguia ficar com as meninas” até hoje em dia, quando suas composições lidam com temas como o divórcio – contexto e parte do tema central de seu mais recente álbum, Please.

Antes da separação, enquanto trabalhava nas composições, Lerche queria “fazer algo que fosse dançante, mas que também tivesse mais camadas. Algo primitivo e físico, mas também introspectivo”, o que ganhou mais forma quando sua vida pessoal passou por essa mudança. “Foi quando eu entendi sobre o que eram estas canções, mesmo as que eu já tinha escrito há algum tempo”, ele conta, “era como se elas antecipassem o que viria a acontecer, como se elas soubessem mais do que eu”. “Há desespero, choque, tristeza e há liberdade (…), assim como canções mais diplomáticas que tentam entender os dois lados da história”, complementa, “para entender como eu me sinto e como seguir em uma nova vida”, isso dentro de uma estética dançante que, por si só, parece tentar fugir desses aspectos negativos – “o escapismo é importante para fazer da realidade um lugar em que você pode viver”, explica.

Apoiado em “curiosidade, intuição e amor”, fazer música tem sido “cada vez mais libertador”, ele conta, “estou cada vez mais interessado nas histórias do que nos rótulos. Ao mesmo tempo, estou cada vez mais inspirado pela música que não entendo, e é por isso que Please tem tantos elementos eletrônicos, ruídos e distorções”. É interessante notar que foi essa mesma curiosidade que fez com que ele se aproximasse da música brasileira quando começou a tocar, pelo desafio de ouvir e criar algo diferente do que o mainstream apresenta.

“Acho que eu tenho uma resposta emocional natural a um certo tipo de harmonia e progressão”, conta Lerche, “quando ouço música brasileira, é como se eu musicalmente estivesse voltando para casa. Me sinto mais em casa com música brasileira do que com o que eu era exposto na adolescência. Bruce Springsteen? Não é minha música, Jobim é minha música (…) Milton Nascimento é uma inspiração muito maior do que Paul McCartney ou John Lennon”.

Esses fatos dão ainda maior ênfase ao que significa para Sondre Lerche fazer shows no Brasil, ainda mais que esta é sua primeira turnê por aqui. Resta ver como a viagem à “terra dos sonhos” servirá de inspiração para seus futuros trabalhos.

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ARTISTA: Sondre Lerche
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.