Björk: “Vulnicura” em Movimento

Videoclipes do álbum ajudam na compreensão da obra como um todo

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Vulnicura é uma obra de arte – literalmente, já que teve em seu lançamento uma exposição no consagrado MoMA, em Nova York. Sem entrar no debate se ele é ou não o melhor da discografia da islandesa Björk, é impressionante como ela estendeu o nível da qualidade de suas músicas para além do disco em formato vídeo.

A artista, do alto de algumas décadas de carreira, aprendeu como poucos a utilizar o formato do clipe a seu favor, expandindo os significados das músicas e, principalmente, criando uma obra híbrida entre o que é visto e o que já era ouvido no disco.

No caso de Vulnicura, os vídeos surgiram também como parte integral da exposição em NY e vem como acompanhamentos também em uma proposta tecnológica que muito se assemelha ao trabalho da artista ao lado do produtor Arca nesta obra e suas batidas sintéticas.

Isso encaixa-se bem em sua videografia como um todo, já que os efeitos especiais são seus aliados há muito tempo (vide Jóga e All Is Full of Love, respectivamente de 1997 e 99), assim como seu compromisso de criar algo sempre atual não só no conteúdo, mas também na forma – vale lembrar que boa parte de Biophilia (2011) foi feito em iPad.

Assim como ela fez no clipe Moon, de Biophilia, a capa do álbum também teve sua transposição audiovisual no que ela chamou de “moving album cover” (“capa do álbum em movimento”) ao som da música Family, além do vídeo de Lionsong reproduzir também a capa de algumas versões do disco e dos singles, assim como suas imagens de divulgação (em outras palavras, a principal a identidade visual de Vulnicura).

O mais interessante, contudo, é como tudo extrapola a questão visual e remete ao conteúdo do álbum, muito mais introspectivo em um tom ” sombrio, constrangedor e dolorido”, como Roger Valença comentou na resenha da obra, daí os vídeos continuarem sua proposta de uma persona quase sobrenatural, ou mesmo monstruosa, para ilustrar a força do eu-lírico nas canções.

Em um ano marcado pelo fortalecimento de ideais feministas, Björk resgatou nessas produções alguns elementos que reforçam sua força como “feminina”. Seu personagem pode ter sua humanidade questionada, mas raramente não percebemos seu gênero, daí a ênfase nesses símbolos. A questão “corporal” também é forte justamente pela visceralidade de sua interpretação, daí o clipe de Mouth Mantra ter cenas gravadas dentro dela.

Toda sua força, mesmo quando mostruosa, nunca deixa de ser sensível. Björk canta olhando nos olhos, com pelo menos dois corações na mão – o dela e o do espectador. Aos 50 anos, é alguém sempre atual de espírito jovem e uma mente experiente o bastante para saber chegar exatamente aonde quer com sua obra – o que é a própria definição de maturidade em um artista.

Vulnicura é um dos discos mais impactantes lançados no ano, uma experiência que pode ser ainda mais completa com todo seu amparo visual. À medida com que novos clipes são revelados, mais temos a certeza de que estamos diante de um grande trabalho – e de uma grande mulher.

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ARTISTA: Arca, Bjork
MARCADORES: Clipe, Vídeo

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.