Já Ouviu “Bryter Layter”?

“Pink Moon” é o álbum mais citado de Nick Drake, mas esta obra merece igual atenção

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Bryter Layter

Você precisa escolher por quais causas lutar nesta vida. Entre as minhas, uma delas é claramente um combate ao lugar comum de que o álbum Pink Moon precisa ser citado toda vez que o nome Nick Drake aparece – alguns porque precisam mostrar que entendem do assunto e usam a referência que lhe ensinaram a usar, outros porque sabem de fato pouco, mas não podem ficar pra trás (ah, a humanidade…).

(Não me refiro a quem conhece a obra do artista britânico e percebeu esse como seu favorito – se for o seu caso, um abraço! O problema é com quem propaga essa ideia, herdada dos clichês, sem prestar atenção nos outros)

Veja bem, não possuo qualquer bronca com a obra de 1972 – pelo contrário, que álbum maravilhoso. Mas todo e qualquer comentário sobre Five Leaves Left (a estreia de Drake, em 1969) ou Bryter Layter (1971) ser “prefiro Pink Moon” é, no mínimo, ingênuo. É como não poder conversar sobre Bastardos Inglórios porque Pulp Fiction existe, ou não poder citar Memórias Póstumas de Brás Cubas por causa de Dom Casmurro.

De volta ao disco, ele é o ponto central da obra de Nick Drake, um artista que faleceu cedo demais (aos 26 anos, em 1974) e deixou uma pequena discografia perfeitinha e digna de todos os replays do mundo. Bryter Layter possui composições primorosas, arranjos impressionantes e a presença de músicas com The Velvet Underground e The Beach Boys em seus currículos.

O que me impressiona é como cada uma das músicas é uma obra muito completa em si, todas com introduções muito marcantes que te fazem fechar os olhos na transição entre as faixas. Melhor ainda, sem qualquer apego por alguma pureza de gêneros, embora a humanidade (a mesma que só fala em Pink Moon) teime em enfiar goela abaixo o termo “Folk” ao tratar do músico.

Hazey Jane II vem como um hit natural ao lado de At the Chime of the City Clock, uma faixa de energia tímida que se recusa a crescer muito, mas sabe empolgar. One of These Things First é maravilhosamente genial e mereceria um artigo inteiro só sobre ela. Só esse trio já garante um baita destaque à obra.

Mas daí vem a outra Hazey Jane, com uma melancolia mais bem trabalhada, assim como as belas Fly e Northern Sky. O jazzismo irreverente de Poor Boy e a música instrumental que nomeia o disco deixam o repertório ainda mais completo, assim como a derradeira Sunday, com a flauta triste que anuncia o fim do álbum.

O anterior tem Day Is Done, o sucessor trouxe Place to Be – só para citar duas -, então toda a discografia do músico possui motivos de sobra para sua atenção. Começar por Bryter Layter é uma boa, pois é a ponta que une os dois lados da história, seja o início da jornada ou o voz-e-violão de Pink Moon. Outra que começar por esse último seria apenas seguir a multidão. Nick Drake, imagino, não aprovaria a atitude.

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ARTISTA: Nick Drake
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.