Entrevista: Astronauts, etc.

Anthony Ferraro comenta carreira e seu mais novo disco, “Mind Out Wandering”

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Tim

De todos os excelentes discos lançados em 2015, um deles ecoou em minha rede de amigos (e em meus fones de ouvido) não como o melhor, ou o mais icônico da época nem nada disso, mas como um dos trabalhos mais gostosos de ouvir na temporada (ou em muito tempo): Mind Out Wandering.

O primeiro álbum completo do projeto Astronauts, etc. trouxe melodias belíssimas em um clima nostálgico, meio rádio FM que crescemos ouvindo, com músicas frequentemente elogiadas por seus aspectos mais “viajantes” – seja no som ou nas letras, são faixas que parecem nos transportar para outros planos na medida certa. Gravado em fita e com base no piano, o lançamento foi uma surpresa para quem já acompanhada a carreira de Anthony Ferraro sob a alcunha da banda, já que ele (que tocava com Chaz Bundick em seu Toro y Moi) apostou em um som mais Eletrônico anteriormente.

Em uma troca de emails, o músico comentou seu passado como pianista clássico, o processo criativo por trás do álbum e o disco de demos lançado recentemente.

Monkeybuzz: Há uma mudança no som de seus trabalhos anteriores para Mind Out Wandering. Como foi o trabalho de encontrar a sonoridade do disco? Anthony Ferraro (Astronauts, etc.): Estou tentando deixar o projeto vagar por onde quiser. Os lançamentos anteriores foram mais em uma veia Eletrônica, então foi natural uma aproximação que envolvesse instrumentos ao vivo e uma banda completa no estúdio. Minha preocupação com Astronauts, etc. agora não é moldar um som específico, mas manter as coisas abertas o quanto maios eu puder, para eu continuar aprendendo.

Mb: Mesmo com essas diferenças em relação aos anteriores, dá impressão de que o novo som é uma consolidação do que já existe desde Mystery Colors. É importante para você lançar algo coeso em relação ao que já fez sob o nome Astronauts, etc.? Anthony: A ideia de “coesão” é engraçada, quer seja coesão dentro de um só álbum ou entre vários deles no catálago do artista. Às vezes, a preocupação em fazer um disco coeso pode atrapalhar a produção de um disco ótimo. E, geralmente, se a obra é ótima, ela será percebida como coesa pelo ouvinte. Eu costumava passar muito tempo me preocupando sobre as coisas estarem amarradas ou não, mas tenho entendido cada vez mais que a coesão está no ouvido do ouvinte.

Mb: Quando você começou Astronauts, etc., você já era um músico maduro. Como foi para você ver o projeto crescer e, ao mesmo tempo, amadurecer ainda mais com ele? Houve algo que você precisou desaprender para ajustar-se a essa nova fase? Anthony: Espero que você não se importe de eu descordar da sua caracterização como músico maduro sobre mim. Eu era um pianista clássico decente, mas, se há alguma coisa que ficou mais evidente nesses últimos anos, é que eu tenho muito o que aprender. Esse projeto acabou de começar e eu acho que vai levar um tempo até eu fazer algo muito importante. Com certeza, tive que desaprender coisas. A teoria clássica é uma boa base para entender música, mas ela te coloca um pouco dentro de uma caixa, e eu tive que passar muito tempo recentemente saindo dela.

Mb: Você poderia nos contar um pouco sobre o processo criativo por trás do álbum, como a decisão de gravá-lo em fita? Anthony: Bem, eu já tinha decidido gravar um álbum focado mais em instrumentos ao vivo e menos no computador. Meu amigo Jaime, um ótimo engenheiro de som, falou comigo para gravarmos em seu estúdio, que usa aparelhagem analógica e fita, então marcamos uma data e eu comecei a compor. Eu gravei todas as demos em casa e trouxe elas para a banda, para que pudéssemos ensaiá-las juntos. Depois disso, fomos ao estúdio, gravamos e mixamos tudo em dez ou doze dias.

Mb: E por que gravar Up For Grabs novamente? Anthony: A demo original dela tinha uma tendência mais para a música com instrumentos, nada ao vivo, lembrando a que você ouve em Mind Out Wandering. Eu gravei aquela versão quando estava na faculdade, logo depois de lançar Supermelodic Pulp. Quando chegou a hora de gravar Sadie EP, eu decidi regravá-la em um estilo Eletrônico para que ela se encaixasse com o resto do EP. Mas eu fiquei insatisfeito com aquela versão, porque ela não tinha a mágica da demo original. Gravá-la novamente para Mind Out Wandering foi meu jeito de consertar isso.

Mb: Quando você decidiu lançar as demos também? Que tipo de retorno você teve sobre esse lançamento? Anthony: Meu carro quebrou na turnê, e lançar o disco parecia uma boa maneira de recuperar algum dinheiro. Além disso, eu sempre gostei quando os artistas lançam demos. Elas permitem que você espie o processo deles e suas ideias em um estado mais cru. A reação foi legal. As pessoas gostaram, algumas até disseram que preferem certas demos nas versões inacabadas.

Mb: Você incluiu Ojai Bossa nesse disco. Você é influenciado por música brasileira? Anthony: Se me forçassem a declarar um único país que fizesse a música mais bonita do mundo, minha resposta seria o Brasil. Especialmente entre 1970 e 1975. Espero integrar muitos dos humores e texturas daquele período no Brasil em meus futuros discos.

Mb: Quanta influência Chaz Bundick teve em você? Você sabe dizer? Anthony: O melhor presente que recebi de Chaz foi perceber que todos os tipos de música são igualmente válidas e parte da mesma conversa.

Mb: Nessa mesma ideia, quanto você aprendeu em turnê com Toro y Moi? E também, como turnês com Astronauts, etc. ajudaram a perceber melhor suas músicas? Anthony: Com Toro y Moi, eu aprendi muito sobre a indústria e sobre como ela funciona. É um mundo estranho e eu estou entrando nele aos poucos. Em turnê com Astronauts, eu me surpreendi em como nossos shows são parecidos com o disco. Eu ouvi recentemente algumas gravações e [o álbum] é traduzido quase diretamente para o palco.

Mb: O som nostálico, meio de FM, parece ser algo que pode ter bastante apelo para pessoas de várias idades e contextos. Na sua percepção, quem é seu público?
Anthony: Eu tento não pensar muito nisso. Sou grato por todos que ouvem.

Mb: Por último você acha que sua músic é evasiva para escapar desta realidade ou para achar uma mais apropriada?
Anthony: Posso dizer os dois?

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.