Quando Só “Is The Is Are?” Não É Suficiente

Discos de outras três bandas nos ajudam a ouvir melhor o trabalho do grupo DIIV

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Is The Is Are, o segundo álbum do projeto DIIV, liderado por Zachary Cole Smith, é o trabalho mais expressivo da banda até agora e, por enquanto, um dos destaques entre os discos lançados em 2016. Em um compêndio de 17 faixas que narram o conflito entre o prazer e a dor de um viciado em heroína, Smith expõe, sem romantismos ou coitadismos, sua intimidade em formato musical.

Apesar de seu tema delicado e de sua extensão, Is The Is Are não é um álbum difícil de ouvir. Contudo, como toda obra interessante e sincera, está marcado por uma gama complexa de influências que vão de referências e homenagens sonoras mais óbvias até às mais sutis.

Se você, como eu, gostou de Is The Is Are, acompanhe o pequeno guia para expandir sua experiência do álbum e, com ela, seus horizontes musicais. Vamos a ele:

Beach Fossils

Para entender a essência de DIIV basta olhar para a banda Beach Fossils, da qual Smith foi integrante até 2011, ano em que sai para se dedicar ao seu projeto. Em sua estreia auto-intitulada a fórmula está posta e evidente: riffs sobrepostos, muito reverb, e um ar nostálgico marcam um estilo musical que acabou se proliferando com vigor no início de nossa década, caracterizado pelo clima da Surf Music misturada com as guitarras despretensiosas do Punk. Dentro desta vibe, é claro, vale atentar para o primeiro álbum de DIIV, Oshin, que marca uma espécie de transição temática de Beach Fossils (o álbum) para Is The Is Are.

Incesticide

Muito do que marca a personalidade de Zachary Cole Smith diz respeito a uma estranha obsessão por transfigurar-se em seu ídolo, Kurt Cobain (Nirvana). Para muito além de seus cabelos platinados, Smith acabou tornando-se uma personalidade Pop controversa ao ser preso por portar heroína, situação que rendeu a ele (e sua namorada Sky Ferreira) comparações imediatas ao casal Cobain e Courtney Love. Mas não é só a presença de Smith na mídia mainstream, seja no notíciario, seja em campanhas de moda, que marca essa semelhança. Smith, propositadamente ou não, vê na sua luta contra a heroína um dos principais motifs criativos. O álbum Incesticide foi escolhido aqui por conter a faixa Dive, que dá nome à banda de Smith.

Washing Machine

Para ser sincero, escolher um álbum de Sonic Youth como referência para Is The Is Are foi uma tarefa penosa. Elementos de toda a carreira da banda estão espalhados, de forma homogênea, no trabalho de DIIV. Da Intro com ares de mau presságio de Bad Moon Rising, passando pela performance de Kim Gordon em Teen Age Riot, do álbum Daydream Nation, até os timbres de guitarra em Sunday, de A Thousand Leaves, além, é claro, da dissonância em toda a sua obra, Sonic Youth configura uma espécie de patrono para este trabalho. O álbum escolhido aqui é o emblemático Washing Machine, que possui o equilibrio ideal entre a melancolia e a revolta do Punk.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte