Para Ficar por Dentro de Massive Attack

Quinze Canções – e faixa-bônus – para você acompanhar o regresso do duo

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Na verdade, Massive Attack nunca sumiu da nossa vista. É fato que o coletivo Trip Hop de Bristol, Inglaterra, perdeu integrantes ao longo do caminho, desacelerou seu ritmo produtivo e passou tempo demais sem lançar material novo, chegando a ficar quase dez anos – entre 2003 e 2013 – sem um álbum autoral. Quando tudo parecia confirmar essa nova dinâmica, eis que o lançamento do EP Ritual Spirit, há poucos dias, vem encher nosso peito de esperança. Em meio às quatro – boas – faixas do disquinho, a última reedita uma união que se desfez há mais de 20 anos: Tricky, ex-Tricky Kid, volta a colaborar com seus amigos e conterrâneos. A canção que eles soltaram foi Take It There, com o selo de qualidade próprio dos sujeitos, naquela onda cinematrográfica, sombria, perfeita de música bem informada. A notícia, porém, era ainda mais legal: além do EP, a banda encontra-se reunida, compondo, gravando, preparando mais um lançamento para até o fim do ano, comprovando o velho ditado: “há anos mais mágicos que outros”.

Neste clima, o Monkeybuzz empreendeu uma incursão cirúrgica na elegantemente reduzida discografia da banda e selecionou quinze canções importantes de Massive Attack para que vocês se preparem, façam suas playlists enquanto esperam as novas criações desse pessoal. Sempre vale a pena.

Safe From Harm

Canção do primeiro e essencial álbum do grupo, Blue Lines, de 1991. Trip Hop antes de ter esse nome, antes do rótulo. Visão da cultura Hip Hop americana por parte da cena Club inglesa. Mudou tudo.

Unfinished Sympathy

Canção mais moderna dos anos 1990, ainda é irresistível e deve permanecer assim para sempre. Cordas, voz feminina, mistério e um dos melhores clipes da história.

Be Thankful For What You Got (The Perfecto Mix)

É preciso dominar a arte de fazer versões, neste caso, para o clássico Soul de William DeVaughn, de 1974. Mais ainda: é preciso escolher quem vai remixar suas canções, aqui, trabalho de mestre de Paul Oakenfold, em mais um fantático “Perfecto Mix”.

Protection (Brian Eno Remix)

Como não ostentar uma versão remixada por Brian Eno? Protection, faixa-título do segundo disco do grupo, ganha versão chuvosa, elegante e aveludada pelas mãos do mestre do ambiente.

Karmacoma

Com vocais sombrios de Tricky Kid, ritmo Reggae estranho e toda uma história de imigrantes negros e gerações posteriores dançando em algum galpão abandonado nas docas. Só que, neste caso, o mundo inteiro já estava ouvindo.

Weather Storm

Belíssima canção meteorológica com parceria de Craig Armstrong, toda elegante, toda cinzenta e um pé firme nas trilhas sonoras dos anos 1970.

Sly

Voz da cantora Nicolette, mais cordas hipnóticas, mais clima de filme antigo, tristeza e contemplação nesta clássica canção em câmera lenta. Se produtores de trilhas de James Bond não fossem caretaços, essa seria uma ótima sugestão.

I Want You (com Madonna)

A releitura definitiva para o clássico de Marvin Gaye, safra 1976. De quebra, Madonna, esta pessoa com mente aberta e sempre disposta a novas colaborações. Uma de suas melhores produções, sem dúvida.

Radiation Ruling The Nation (com Mad Professor)

Do interessante álbum colaborativo No Protection, no qual o jamaicano Mad Professor atira canções do grupo numa centrífuga Dub e Reggae apocalíptica, mudando os títulos e embaralhando tudo. Aqui, outra versão da sensacional Protection*.

Teardrop

Faixa mais importante do terceiro disco, Mezzanine, menos negão, mais branquelo, mas que fez a banda ser conhecida no mundo todo, muito além do underground. Vocais da sensacional Elizabeth Frasier, de Cocteau Twins e a manha de ir para na abertura da série House.

Inertia Creeps

Quase seis minutos de adorável e incessante assombro sonoro. Tinturas levemente arábicas, batidas inebriantes, clima de pesadelo perverso e o desejo de não acordar.

The Hunter Gets Captured By The Game

Da trilha sonora de Batman Eternamente, aquele filme que parece mais um desfile de escola de samba, mas que tem uma coleção sensacional de canções. É uma versão do clássico das Marvelettes, grupo vocal feminino da Motown, devidamente submetido a linhas de baixo pesadíssimas, guitarras flutuantes e o vocal ultraelegante de Tracey Thorn, ex-Everything But The Girl.

What Your Soul Sings

Do quarto e subestimado álbum 100th Window, lançado em 2003 e com apenas um dos integrantes originais: Robert Del Naja, devidamente assistido pelo então efetivado Neil Davidge. O clima é o mesmo, a elegância é a mesma, as tonalidades só surgem mais cinzentas que o habitual.

Paradise Circus

Do quinto é ótimo Heligoland, lançado em 2010. Participação vocal inestimável de Hope Sandoval, conferindo uma doçura inesperada em criações da banda. Mesmo assim, certo clima perverso paira no ar até o final.

Splitting The Atom

Criação maravilhosa com voz do velho colaborador Horace Andy, misturando tudo no tacho: ambiências negras, Hip Hop, musica Eletrônica, Reggae e ainda soando genial depois de tanto tempo. E novo. Novíssimo.

Faixa Bônus: Take It There

Do novíssimo EP Ritual Spirit, contendo o contraste de vozes entre Del Naja e um ressurecto Tricky, surgindo das profundezas da noite chuvosa. Perfeição.

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MARCADORES: Conheça, Trip Hop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.