Deixem The Rolling Stones Sangrar

“Let it Bleed” é um dos “clássicos lado-B” da extensa e diversa discografia dos britânicos

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Let It Bleed

Dentro da extensa e diversa discografia do grupo The Rolling Stones podemos encontrar alguns itens que capturam o imaginário de seus fãs. Discos clássicos, como Exile On Main Street, Sticky Fingers, Tattoo You ou Some Girls são alguns dos exemplos presentes com facilidade nas listas de favoritos de seus ouvintes, seja pela suas qualidades ímpares ou capas icônicas. Tanta diversidade permite que algumas obras permançam como clássicos cult mesmo que muitas vezes sejam representantes de sucesso. Let It Bleed é um desses casos “platinados” em que a sua presença surge em listas de “melhores de todos os tempos” como um respiro dos lados-B dos britânicos mesmo sem ser seu maior sucesso comercial, mas com algumas de suas faixas mais clássicas.

Sua capa, produzida a partir de uma escultura surreal de Robert Brownjohn, contradiz com o objetivo nome do disco (“deixe sangrar”) – referência televisa ao espetáculo grotesco e sanguinário das transmissões televisas da Guerra do Vietnã. E seu poder como obra nasce da abertura Gimme Shelter, um clássico sensual, definitivo da banda e homenageado em diversos filmes hollywoodianos com esplendor como em Os Infiltrados, por exemplo. O trabalho provavelmente viverá na eternidade devido a essa faixa, mas sua continuidade revela ainda mais clássicos saborosos.

A própria faixa título, o Blues Rock morno de Let It Bleed, é um desses casos em que a garimpagem vale a pena e torna o disco ainda mais memorável. No entanto, existe espaço para mais um single cinematográfico disputar espaço no álbum, You Can’t Always Get What You Want. Sua letra de 1969 faz ainda mais sentido no estado contemporâneo de nossa sociedade – excesso de informação na Internet não significa que você pode ter ou ser tudo o que você quer. Espalhadas nas extremidades do álbum (abre-se com Gimme Shelter, continua-se na exata metade com Let It Bleed para depois finalizar com a faixa citada acima), as músicas mostram-se a cola perfeita para que o disco finque sua importância dentre outras obras da banda.

As faixas remanescentes são provavelmente os momentos blueseiros mais interessantes do grupo antes que o inesquecível Exile On Main Street chegasse às prateleiras três anos depois. As agitadas e dançantes Midnight Rambler e Live With Me abre espaço para que faixas como You Got Silver, Country Honk e Love In Vain se tornem passeios rusticos pelo interior norte-americano e mostram que as inspirações do grupo sempre estiveram conectadas com a música negra de origem – Mick Jacker e sua interpretação cheia de alma pode ser comparada a dos grandes atos de Soul Music do mesmo período- e a intersecção de períodos e cenas justapostas que a música e músicos viveram entre os anos 1960 e 1970 aparecem sempre com maestria no discos de The Rolling Stones. Logo, em meio as comemorações de uma turnê esperada no Brasil, comece por um “clássico lado-B” como Let It Bleed para conhecer, por fim, a essência musical desta eterna banda.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.