Brunno Monteiro Explora com Naturalidade Dois Lados de sua Música em “Compacto”

“Desperto” vem experimental e roqueira, em estúdio e ao vivo, em preto e branco e colorida

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Assim que vi um show de Brunno Monteiro pela primeira vez (no fim de fevereiro, há cerca de duas semanas), coloquei para fora algumas palavras sobre a noite, na empolgação breve de quem ainda vivia aquela agitação de uma boa performance. Com a tal agitação já digerida, sorrio ao reler o texto e perceber que as impressões não mudaram: Brunno é dono de um trabalho envolvente que, por mais bem feito que seja (e é!), parece naturalmente carismático, como se suas melhores qualidades fluíssem organicamente de sua música.

O carioca lançou seu primeiro álbum (Ecos da Rua) em 2012 e, de lá para cá, conquistou seu espaço entre a cena autoral da cidade e no contexto independente que compreende o país como um todo, com destaque ainda para uma cover memorável de Cazuza (Nunca Sofri por Amor) e o lançamento de Compacto, um single em vinil que faz uso de seus dois lados para revelar também ambos pólos criativos do cantor e compositor.

“Foi um formato certeiro pra abrigar a ideia de ter um lado sendo mais rock, com uma pegada de banda ao vivo mesmo, e um lado mais experimental, com recursos de estúdio e eletrônicos”, revelou ele ao Monkeybuzz, que revela em primeira mão um vídeo ao vivo para Desperto, faixa presente nos dois lados do disco, cada vez com um clima específico.

“Para a gravação do lado-B”, comenta Brunno, “fizemos um clipe trabalhando em imagens o conceito mais suspenso daquele registro. O vídeo da gravação do lado-A, portanto, tinha que ter mais crueza mesmo. Achei que o melhor jeito de mostrar isso era filmando a gravação original, que fizemos no Estúdio Tenda da Raposa, ao vivo, com a banda inteira tocando junto”.

Tal iniciativa reflete o momento de multiplicidade que a música contemporânea (não só brasileira) vive, como resultado de sopros de inspiração que nem sempre se fundem em uma coisa só, mas são capazes de conviver retroativamente na obra de um artista – algo que Brunno Monteiro continuará explorando em seu próximo álbum, ainda sem data de lançamento divulgada.

“Entender o que eu poderia assumir do meu som, e também descobrir os espaços que precisava abrir pra que outros músicos que admiro pudessem colaborar, foi um troço enorme pra mim”, conta ele sobre o intervalo entre os dois discos e o lançamento de Compacto, que por sua vez rendeu shows feitos no formato “dupla”, sempre com um músico convidado (o em São Paulo em fevereiro, por exemplo, foi com Rafael Castro).

“Acho que posso dizer que, desde o lançamento do Compacto, o próprio disco que estava gravando mudou”, conta ele, “experimentar os arranjos, trocar ideias sobre as músicas que ainda não tinha gravado, enfim, tudo isso foi muito bom ótimo para o disco novo”. E é na natureza desse processo, dessa convivência de ideias e influências, que Brunno Monteiro afirma seu valor como músico, como alguém que sabe apostar na estética em que acredita sem precisar cair nos lugares comuns de quem quer ser visto como criativo. Ouça e repare.

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MARCADORES: Conheça, Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.