Bright Eyes e A Trilha Sonora do Seu Fim de Mundo Particular

Clássico *Fevers and Mirrors* relata a jornada caótica de auto-conhecimento de Conor Oberst

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Como alguém que analisa música, algo que me intriga muito é o peso que, durante a apreciação de uma obra, é dado para fatores externos como o papel daquele disco em determinado estilo, o impacto de suas letras no mundo ou quantas mentes ele conseguiu influenciar, quando no fim, a nossa interpretação diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre o álbum.

Fevers and Mirrors é um clássico da música independente americana que conta com muitos fãs apaixonados e obcecados pelo mundo. Mas junto com o clássico In The Aeroplane Over The Sea, de Neutral Milk Hotel, é um disco que muitos não entendem como pode ser tão amado e não encontram uma beleza tão óbvia como seus maiores fãs.

Mas, o que percebo como apreciador do trabalho de Conor Oberst, compositor, vocalista e líder da banda, é que a forma de sua música ajuda a passar mais claramente sua mensagem. Fevers and Mirrors foi – e ainda continua sendo, agora para uma nova geração – a trilha sonora de seus momentos mais caóticos, sentimentais e depressivos. Isso é ressaltado por seu vocal imperfeito e por uma sensação de obra inacabada que envolvem o ouvinte de maneira às vezes reconfortante e às vezes perturbadora, na mesma medida.

Como fica claro em trechos como “But no matter what I would do in attempt to replace/All these pills that I take, trying to balance my brain”, é um disco que entende que por mais que muitos de nossos problemas pareçam solucionáveis, no nosso universo particular, eles podem sim parecer o fim do mundo.

É interessante também como Conor Oberst fala de depressão como algo que se sobrepõe a quaisquer outras características de uma pessoa quando vista por terceiros. Em “And they made me a necklace/Hanging beads of sweat /On a string of my regrets/And placed it around my neck”, trecho da faixa que abre o disco, o músico mostra o quanto está consciente disso, ao mesmo tempo em que faz uma crítica a qualquer tipo de glamurização da doença como um combustível criativo.

Se seu momento atual for de muita confusão interior, Fevers And Mirrors será aquele corrimão que te ajudará a entender que outras pessoas já passaram pelo mesmo que você antes e te ajudará a ter uma visão mais consciente de tudo. É um disco muito verdadeiro, por mais que pareça que Conor Oberst seja um grande mentiroso ao dizer que está confuso e não entende o que está sentindo, quando tudo que percebemos é um exemplo raro de sensibilidade e auto-conhecimento.

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ARTISTA: Bright Eyes
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.