Sobre Ouvir “OK Computer” Anos Depois e Não Parar Mais de Escutar

Um dos trabalhos mais citados que Radiohead já lançou sempre pode ser analisado de maneira mais pessoal

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

OK Computer

Sou e sempre fui defensor da ideia de que a boa música não possui data de validade – não existe essa coisa de um tempo certo para ouvir tal álbum. Ao mesmo tempo, acredito que a relação de alguém com uma banda, faixa, playlist ou o que for seja sempre melhor quando feita de maneira única, de algo que cresce entre as duas partes (ouvinte e música) de um jeito muito individual. Acho que ouvir um disco é e deve ser sempre um ato de egoísmo.

Minha história com OK Computer vem desses dois âmbitos. Ele saiu em 1997, o ano em que eu comecei a prestar mais atenção (entenda como “assinar revista e assistir a MTV todos os dias”) em bandas e no que acontecia no Brasil e no mundo em relação ao assunto. Ou seja, li e ouvi muito sobre Radiohead naquela época, mas estava pouco interessado no som que apresentava no disco. Em um momento pré-Internet lá em casa, devo ter ouvido alguma coisa (além dos singles) em uma loja de discos (lembra quando isso acontecia?) e constatei que aquilo não era para mim.

Nos anos seguintes, fui bombardeado incessantemente por duas opiniões de lugar comum. A primeira dizia do valor desse disco para a música de hoje, tendo-o com um dos melhores da geração – o que sempre me fez levantar as sobrancelhas e ficar atento aos motivos de uma afirmação dessas -, enquanto a outra era a mesquinha ideia de que Thom Yorke e seus comparsas faziam músicas que deprimiriam qualquer um (e, mesmo com uma melancolia aguçada, entendo aqui que a depressão causada por essas músicas só poderia ser enraizada em grande recalque mesmo).

Daí chegou um momento na vida e na carreira que colidiram – uma fase difícil aliada ao início do trabalho com música. Não me lembro hoje o quanto a decisão de ir até OK Computer se baseou mais em um ou em outro fator, mas os dois lugares comuns devem ter falado alto no meu inconsciente e lá fui eu atrás do disco senti que era a hora. E, eu não imaginaria isso em 1997, acabamos por virar muito bons amigos.

Tenho claramente uma cena na memória (e é por isso também que eu falo no egoísmo de ouvir música, porque tem isso de criar lembranças muito suas, que só você vê) de descer do ônibus ouvindo Subterrenean Homesick Alien e caminhar até o escritório em passos pesados, de entender por que No Surprises e Karma Police são tão citadas entre os fãs toda vez que o modo aleatório do iPod me mandava uma delas ou até querer pular Fitter Happier achando aquela faixa muito chata, ainda que entendesse seu significado no meio daquilo tudo.

Acho que foi uma época emocionalmente muito “anos 90” na minha vida, muito pós-Grunge e muito “Bug do Milênio”, uma fase de melancolia envolta por um otimismo forçado. OK Computer sempre foi isso para mim, uma desesperança na panela de pressão, com elipses que falam alto e o peso da juventude em belas melodias.

Ainda hoje, em contextos muito diferentes de sentimentos, trabalhos ou percepções sob a música como um todo, meu corpo parece reagir de forma agitada assim que começa Airbag e o mais melancólico dos sorrisos me vem ao rosto sempre que toca Let Down. Poderia muito bem produzir um texto que repetisse o que já tanto foi dito sobre ele, mas sinto que a melhor maneira de comentá-lo seja oferecer exatamente o que ele me deu e continua a dar. Sem data de validade, penso aqui, em primeira pessoa, que essa dinâmica não deve mudar tão cedo. Tomara.

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ARTISTA: Radiohead
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.